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sábado, 10 de outubro de 2009

Geografia Bíblica




domingo, 4 de outubro de 2009

Revisão dos Módulos - Recursos Didáticos

INTRODUÇÃO À TEOLOGIA




Módulo 04

MÓDULO 04 – INTRODUÇÃO À BÍBLIA

1. Bíblia

Bíblia é um livro que deve ser estudado como as demais literaturas antigas. Seu conteúdo é a Revelação divina, mas a forma literária é humana, produto histórico. Não devemos revesti-la de magia e de esoterismos. Seu estudo depende de uma fé madura.

2. Formação

O nome bíblia vem da língua grega biblía, plural de biblíon “livrinho”. Os judeus a denominavam de “Os livros sagrados”, na história coexistiram diversos nomes. No século V, a partir de João Crisóstomo, a expressão Tá Biblia começa a ser título.

Os termos “antigo testamento” e “novo testamento” assinalam as duas seções da Bíblia. O primeiro é escritura exclusivamente judaica. Já o segundo é judaico e cristão. Testamento reproduz o hebraico berît “aliança”. Paulo é o primeiro a usar esses nomes, sendo depois adotados pelos escritores cristãos do século III.

A Bíblia é uma coleção de livros. Escritos em épocas, lugares e por pessoas diferentes. O AT[1] foi escrito de 1300 a. C. até 50 a. C. O NT foi elaborado dos meados do século I (51 d. C.) ao início do século II (100 d. C.).

Os títulos dos livros são tardios e alusivos ao conteúdo. Os judeus nomeavam os livros com as primeiras palavras do texto: Bereshît (“no princípio”) = Gênesis.

A divisão em capítulos data somente do século XIII, feita pelo cardeal Estêvão Langton e a subdivisão em versículos de 1551, por Robert Estienne.

As divergências na organização dos livros da Bíblia decorrem da diferença entre a Bíblia Hebraica (Palestina) e Bíblia Grega (Alexandria): Os salmos são numerados de forma diferente, na Bíblia grega os salmos 9 e 113 são divididos em dois.

Os manuscritos eram feitos em pergaminhos (até o século II d. C.), que se desgastavam rápido, chegaram a nós, cópias de cópias.

  1. Divisão

A tradição cristã ratificada no Concílio de Trento (1545-1563) reconhece 46 livros do AT. São divididos em: Históricos (21), didáticos (7), proféticos (18). Os cinco primeiros livros formam o Pentateuco.

O NT é composto por 27 livros, sendo: Históricos (5), didáticos (21), profético (1).

A Bíblia Hebraica é dividida em: Torah (Pentateuco), Nebiim (profetas), Ketubim (os escritos), ao todo 39 livros.

  1. As línguas

O hebraico, o grego e o aramaico.

Em hebraico foi escrito todo o AT, com exceção dos livros chamados deuterocanônicos, e de alguns capítulos do livro de Daniel, que foram redigidos em aramaico.

Em grego comum, além dos já referidos livros deuterocanônicos do AT, foram escritos praticamente todos os livros do NT. Segundo a tradição cristã, o Evangelho de Mateus teria sido primeiramente escrito em hebraico.

  1. Traduções e versões

A dispersão do povo judaico exigiu uma tradução dos livros para o grego. Esta foi concluída no ano 100 a. C. Chamada de versão dos Setenta, posteriormente adotada pelos cristãos.

No século II a. C., houve muitas versões, havia divergências quanto à aceitação por serem imperfeitas. No século V, Jerônimo realiza uma tradução ótima para o latim, conhecida como Vulgata. Recomendada pelo Concílio de Trento.

Para o português, a mais antiga e completa foi a tradução de João Ferreira de Almeida (1628-1691) publicada em 1753. É importante observar que atualmente não possuímos o texto original. Há apenas fragmentos de cópias antigas. As traduções não são exatas.

Mesmo diante dessas limitações históricas a fé cristã professa que a Bíblia é inspirada[2] (2Tm 3, 16-17), fielmente transmitida e preservada de erros em questões de fé e moral. A esta preservação de erros em questões fundamentais dá-se o nome de inerrância[3].

  1. Canonicidade

Havia diversos escritos religiosos judaicos. Foi feita uma distinção e seleção dos livros inspirados. A Bíblia Grega do século I adotou livros não-contidos na hebraica. A questão só foi resolvida no século II. O primeiro cânon oficial do NT surge no Sínodo de Hipona, em 393. Lutero retomou o debate e a tradição protestante preferiu o cânon judaico. O Concílio de Trento reconheceu oficialmente o cânon alexandrino.

Quando se fala em cânon, estamos dizendo da lista de livros aceitos como inspirados por Deus. Portanto, existem dois cânones: Hebraico e alexandrino. O cânon hebraico contém 39 livros no AT. E o cânon alexandrino possui 46. Os livros que foram acrescentados são chamados de deuterocanônicos[4]. Esses livros são Tobias, Judite, I e II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e trechos de Ester (10, 4 a 16, 24) e Daniel (3, 24-90, e capítulos 13 e 14). A tradição católica acolheu o cânon alexandrino e a protestante, o hebraico.

  1. A Bíblia como literatura

A Bíblia é a literatura antiga dos judeus e dos cristãos. Ou seja, é um conjunto de escritos de vários gêneros e estilos. Cada modo de escrever exige também um modo próprio de interpretar. Tradicionalmente, distinguem-se dois sentidos: O sentido expresso pela palavra (sentido literal) e o sentido espiritual transmitido pelo texto (sentido pleno).

Existem dois estudos próprios da interpretação da Bíblia que são a exegese e a hermenêutica. Através desses estudos estabelecem-se critérios para entender um texto. É preciso considerar os seguintes aspectos:

Condicionamentos de tempo - Os livros da Bíblia são fruto do seu tempo. Por isso, se quisermos conhecer a mensagem de Deus, temos de conhecer o tempo e as circunstâncias históricas em que foi escrito cada um desses livros.
Condicionamentos de espaço - Uns nasceram na Arábia e outros na Palestina; uns no mundo helênico e outros no Império Romano; cada qual com o ambiente próprio, e o livro é filho também do ambiente que o viu nascer.
Condicionamentos de raça - Os livros da Bíblia procedem quase todos da raça semita e mais concretamente do Povo Judeu, que tem um modo de pensar e de se exprimir muito diferentes do nosso, que é preciso conhecer para entender a Palavra de Deus.
Condicionamentos de cultura - Além da cultura, também da mentalidade e da ciência dos autores que trabalharam na composição dos livros sagrados. Alguns livros levaram séculos a formar-se e são obra de muitos autores com mentalidades e cultura diferentes, e embora fossem inspirados, não foram privados da sua personalidade.

8. Gêneros e figuras de linguagem

Em se tratando dos gêneros, temos: Poesia e prosa. Do gênero poético, temos na Bíblia: canção (canções de guerra, de culto e canções profanas), poesia sapiencial (poemas didáticos, coleções de sentenças), sentenças e máximas e literatura profética (repreensões, ameaças, consolações, confissões e oráculos). Quanto à prosa: leis, documentos (contratos, decretos e genealogias[5]), preces, apocalipses (descrições do juízo final em forma de visões), narrativas edificantes (novela histórica), narrativas biográficas dos profetas, história da salvação, profecias e cartas.

O texto bíblico possui várias formas de expressão. Às formas indiretas e figuradas de se expressar damos o nome de figuras de linguagem. É importante conhecer as mais usadas: Comparação, metáfora, parábola, alegoria, fábula, símbolo, sinédoque, metonímia, antonomásia e hipérbole.

Explicação das figuras. Metáfora: É uma comparação abreviada. Metonímia: Troca de nomes relacionados entre si. Parábola: Uma narrativa que faz uma comparação imaginária. Alegoria: Uma metáfora, com sentido transferido, por semelhança. Fábula: Narrativa de cunho moral, na qual seres inanimados ou animais se comportam como o ser humano. Sinédoque: Designação do todo pela parte. Antonomásia: Substitui o nome por um qualificativo. Hipérbole: É um exagero de linguagem.

9. Geografia

O ambiente onde foi escrita a Bíblia envolve as regiões da Palestina, as comunidades gregas e Alexandria. Os livros protocanônicos nasceram na Palestina. Os deuterocanônicos surgiram no ambiente grego de Alexandria. O NT foi escritos em diversos lugares, desde a Palestina até as comunidades gregas. Portanto, duas culturas influenciaram a mentalidade presente nos textos: Cultura semítica e cultura helênica.

10. História

Para que se compreender os escritos bíblicos é necessário ter uma noção da história de Israel e do Império Romano. Em síntese, esta é a linha de tempo da Bíblia:


Antes de Cristo (AT)

1926: Abraão migra para Arã.

1800-1200: Tradição oral.

1200: Período tribal – o povo se instala em Canaã.

Primeiros fragmentos escritos (Código da Aliança)

1150-1050: tempo dos juízes.

1000: Primeiros escritos.

1040-922: Fase de ouro – os reis Saul, Davi e Salomão.

922-605: Reino de Judá – sul.

922-720: Reino de Israel – norte.

597-538: Exílio na Babilônia.

515: Reconstrução do templo.

333-135: Dominações dos selêucidas e lágidas.

167: Revolta dos Macabeus.

64: Os romanos dominam a Palestina.

Depois de Cristo (NT)

6-29: Vida e ministério de Jesus.

30: Primeiras comunidades.

70: Destruição de Jerusalém e diáspora.

90: Expansão do cristianismo.

135: Destruição de Jerusalém e diáspora final.


11. Cultura

As duas culturas que influenciam a redação dos livros bíblicos são bem diferentes. Os gregos são dados ao comércio, à educação, pensam o mundo racionalmente. Esses acreditam em vários deuses, seu sistema político é a democracia, vê o homem constituído de corpo e alma, existem o mundo material e o mundo espiritual, imortalidade da alma, céu e inferno. A expressão máxima dessa cultura é a filosofia. Sua língua foi o grego. Os homens mais importantes Homero, Sócrates, Platão, Aristóteles e Alexandre Magno.

Os judeus acreditavam em um só Deus, davam mais importância à religião, o sistema político é a teocracia, o homem é corpo, existe apenas o mundo material, não se pronunciam sobre imortalidade, acreditam apenas na morada dos mortos. A expressão máxima dessa cultura é o monoteísmo. Suas línguas foram o hebraico e o aramaico. Os homens mais importantes Abraão, Moisés, Davi, Salomão, Jesus e Paulo.

12. Judaísmo

O antigo testamento pertence ao judaísmo assim como o novo surge num cenário também judaico. Por isso, vamos entender um pouco sobre judaísmo. Esta religião surgiu da tradição de Moisés, crê em um só deus chamado YHWH, possui um pacto com essa divindade, crê que a Torá foi dada por ele. Os judeus guardam o sábado, não possuem sacerdotes atualmente, os rabinos são os dirigentes do culto, a sinagoga é o seu templo. O Antigo Testamento é a sua bíblia, chamada de Tanakh. Mas contém os protocanônicos.

O pacto divino foi estabelecido com Abraão. Os fundamentos da fé estão na lei dada por Moisés. O judaísmo surgiu somente a partir do exílio. Além da Tanakh, os judeus possuem comentários bíblicos com o Talmud e a Mishná.

O corpo doutrinário do judaísmo não possui as noções de céu, inferno, corpo, alma e nem vida após a morte. Os adeptos esperam um messias e um mundo futuro de paz que acontecerá neste mundo mesmo.

13. Estrutura da literatura bíblica

Para efeito de estudo, o AT é subdividido em: Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), História deuteronomista (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis), Obra do cronista (Crônicas, Esdras e Neemias), Literatura profética (Isaías, Jeremias, Ezequiel etc), Literatura sapiencial (Jó, Provérbios), Poéticos (Salmos).

No NT, temos: Sinóticos, Mateus, Marcos, Literatura Lucana (Lucas e Atos), Literatura Paulina (cartas de Paulo), Cartas católicas (Tiago, Pedro, Judas), Literatura Apocalíptica (Apocalipse de João) e Literatura Joanina (Evangelho de João, cartas de João).

VOCABULÁRIO TEOLÓGICO II

CÂNON: Lista de livros considerados inspirados por Deus.

CRONISTA: Quem escrever crônicas ou histórias.

DIDÁTICO: Próprio para ensinar, instruir.

GÊNERO: Tipo ou modo de um texto, considerando seu propósito.

LITERATURA: Conjunto de livros produzidos por uma sociedade; arte de escrever.

NARRATIVA: O ato de contar um fato por escrito.

PENTATEUCO: Os cinco primeiros livros do AT.

SAPIENCIAL: Que contém reflexões de sabedoria.

PLANO DE ESTUDO MENSAL

1. O que se entende por revelação, inspiração e inerrância?

2. Por qual motivo os livros deuterocanônicos foram rejeitados?

3. Compare uma Bíblia católica com uma Bíblia evangélica.

4. Ler os seguintes textos bíblicos:

a) Gênesis 1-2: A origem da humanidade.

b) Gênesis 12, 1-9: A vocação de Abraão.

c) Êxodo 3, 1-12: A vocação de Moisés.

d) Êxodo 3, 13-15: A revelação do nome de Deus.



[1] Usaremos as abreviaturas AT para Antigo Testamento e NT para Novo Testamento.

[2] No texto grego aparece a palavra theopneustos para dizer inspirado. O sentido é “soprado por Deus”.

[3] Inerrância diz-se do fato de não conter erros.

[4] Deuterocanônico significa “da segunda lista” e protocanônico “da primeira lista”.

[5] Genealogia é uma lista de parentesco.