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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Teologia no Brasil:


CONSIDERAÇÕES ELEMENTARES SOBRE A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

Segundo a WIKIPÉDIA (2010), a teologia da libertação é uma corrente teológica que engloba diversas teologias cristãs desenvolvidas no Terceiro Mundo ou nas periferias pobres do Primeiro Mundo a partir dos anos 70 do século XX, baseadas na opção [preferencial] pelos pobres contra a pobreza e pela sua libertação. Desenvolveu-se inicialmente na América Latina. Estas teologias utilizam como ponto de partida de sua reflexão a situação de pobreza e exclusão social à luz da fé cristã. Esta situação é interpretada como produto de estruturas econômicas e sociais injustas, influenciada pela visão das ciências sociais, sobretudo a teoria da dependência na América Latina, que possui inspiração marxista.

Vídeo recomendado sobre o tema:

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Teodiceia:

A EXISTÊNCIA DE DEUS E
O PROBLEMA DO MAL NA TRADIÇÃO BÍBLICA E CRISTÃ

1.    Introdução à temática
            A relação entre a existência de um Deus bom e a presença do mal do mundo constitui um dos maiores problemas teológicos. Esta questão foi levantada pelo filósofo Epicuro (341-270 a. C.), há quase 2.400 anos. O famoso dilema de Epicuro nos coloca contra a parede: “Deus quer impedir o mal e não consegue? Então, ele é impotente. Ele é capaz, mas não quer? Então, ele é malévolo. Ele é capaz e quer? Donde, então, o mal?” (EHRMAN, 2008). Muitas vezes a causa do ateísmo no mundo contemporâneo se deve à dificuldade de lidar com esta situação. No Brasil, muitas denominações cristãs lidam de modo muito confuso com essa dupla “bondade de Deus” e “existência do mal”. As afirmações que refletem este dilema são ouvidas quase todos os dias. E muitas vezes, só há duas saídas: O Deus é culpado pelo mal ou ele não existe. Muitas explicações impensadas levam as pessoas a justificar a falta de justiça social.
            Agostinho (354-430 d. C.) foi o primeiro pensador cristão a responder a essa questão. Através de seu livro “O Livre-arbítrio”, ele defende que o mal é resultado da liberdade humana e não da vontade de Deus. O problema se tornou uma questão tão preocupante que o filósofo Leibniz separou uma parte da teologia só para discutir este assunto. A este estudo ele deu o nome de Teodiceia, que quer dizer “justificação de Deus”. Então, desenvolve uma longa discussão sobre o tema no seu livro “Ensaios sobre a Teodiceia”.
            Atualmente, existem diferentes posições sobre o problema: a) O teólogo Andrés Torres Queiruga pensa que Deus é perfeito e não quer o mal, mas o homem é imperfeito e erra; b) O teólogo brasileiro Leonardo Boff afirma que não podemos insistir nesta discussão, precisamos é agir para que o mal seja amenizado; c) O teólogo estadunidense Bart Ehrman diz que o problema é importante, mas nós não temos respostas para ele.
            Porém, antes de tratar da relação de Deus com a história, trataremos da identidade de Deus dentro da Bíblia e da tradição cristã. Primeiramente, é preciso saber em que Deus acreditam os cristãos para depois investigar qual é a consequente relação dele com o mundo. Partindo da identidade e qualidades de Deus, procuraremos as respostas que a Bíblia dá e as que tradição cristã criou ao longo do tempo.

2.    A identidade e os atributos de Deus na tradição bíblica
     A tradição do Primeiro Testamento revela a identidade de Deus. Ele se apresenta como Yahweh, que quer dizer “Eu sou aquele que é”, o existente (Ex 3, 13). Deus é também criador (Gn 1,1) e legislador (Ex 20). Outros atributos de Deus são a glória, a santidade e a justiça (Lv 10, 3; Ex 22, 22). Porém, o que mais se destaca na sua relação com o povo de Israel são a bondade, a santidade e a justiça. A bondade é expressa em relação aos homens e às mulheres (Sl 145, 8-9). No Segundo Testamento, Deus é apresentado como o único plenamente bom (Mc 10, 18). Dentro da mentalidade de Jesus não há condições morais por parte do ser humano para que sua bondade se manifeste (Mt 5, 45). A expressão máxima dessa bondade é o amor. Tal afeição levou o ser humano à categoria de filho de Deus (1 Jo, 3, 1-2). A graça e a misericórdia completam a manifestação desse amor.
     A santidade implica a distinção de Deus do ser humano (Os 11, 9). É a sua natureza de inacessível, absoluto. A justiça refere-se à atitude de Deus diante dos merecimentos do homem (Esd 9, 15). Segundo a tradição bíblica, a justiça de Deus tem um caráter distributivo: Recompensa os bons e pune os maus (Rm 2, 3). A relação entre esses três atributos é conflituosa no texto bíblico, alguns autores optam pela excelência da misericórdia e outros pela justiça.
     Para os hebreus antigos, Yahweh tem aspecto humano. A essa visão de Deus, chamamos de antropomorfismo. Ele participa da história de Israel, liberta o povo da escravidão e estabelece uma aliança com os israelitas, em seguida, dá-lhes a Lei. O princípio dessa Lei é proteger os oprimidos, abençoar os justos e punir e amaldiçoar os pecadores. O grande desafio é que as leis divinas ordenam procedimentos considerados modernamente como antiéticos: O genocídio (Gn 19, 29), o infanticídio (Ex 11, 4), a intolerância religiosa e sexual (Ex 22, 17-18), e a pena de morte (Ex 21, 12). Esses procedimentos são provenientes da visão antropomórfica do divino dos autores.
     No Segundo Testamento, superam-se muitos aspectos ambíguos da Lei. Porém, o julgamento final é expresso em forma de justiça distributiva (Mt 25, 31-46). As restrições da Lei são substituídas pela moral cristã que transparece nas cartas. No Primeiro Testamento a imagem que sobressai de Deus é Senhor (Adonai), e no Segundo Testamento, a imagem apresentada por Jesus é Pai (Abbá).

3.    A identidade e existência de Deus na tradição cristã
     A partir da perspectiva bíblica, os teólogos desenvolveram dois caminhos para falar de Deus: A teologia afirmativa e a teologia negativa. A primeira procura descrever Deus, dando-lhe qualidades, afirmando o que ele é. Destaca-se o pensamento de Tomás de Aquino (1225-1274). A segunda, prefere dizer o que Deus não é, sem afirmar suas qualidades, alegando que o conhecimento humano é insuficiente para isso. Destaca-se Pseudo-Dionísio, o Areopagita (Séc. V).
     Dionísio apenas diz o que Deus não é. Mas Tomás de Aquino tentou usar a razão para demonstrar a existência e as qualidades de Deus. Ele formulou as famosas 5 vias para prová-la: 1ª Tudo que move é movido por outra coisa, mas aquilo que dá o ponto de partida a todos os motores é imóvel; 2ª Todo efeito depende de uma casa, a primeira delas não é causa por nenhuma outra; 3ª Todos os seres são passageiros, mas para que o mundo se sustente o primeiro deles é absoluto; 4ª Há graus de perfeição nos seres, mas há um contém todos os graus; 5ª O Universo é organizado, isso exige uma inteligência ordenadora.
     Durante a história da Igreja, muitas qualidades e descrições de Deus foram feitas. Porém, muitas dificultam e até ofuscam a identidade do divino. O cristianismo foi predominantemente marcado pela teologia afirmativa. Decorre daí a dificuldade dos cristãos de hoje relacionarem a existência de um Deus bom com a existência do mal.

4.    O problema do mal na história
     Os filósofos Leibniz e Voltaire travam uma disputa indireta sobre o assunto. Leibniz é realista/otimista e Voltaire é realista/pessimista. Para Leibniz, Deus sendo perfeito escolheu o melhor modelo de mundo possível. Neste modelo, existe um grande número de variedade e a máxima ordem. A pergunta que se segue é que “Se este é o melhor dos mundos donde vem o mal?” O pensador explica os tipos diferentes de mal: a) O mal metafísico – que é culpa da imperfeição do ser humano; b) O mal moral – é causado pelo pecado; c) O mal físico – é causado pela natureza, como punição ou para mudar o curso dos acontecimentos. Deus não culpado pelo mal, se existe algum é culpado do homem ou é um meio drástico para atingir um bem maior ou um mal maior.
     Voltaire critica o otimismo de Leibniz. Em seu livro “Cândido ou o otimismo”, ele apresenta a história de Cândido, uma pessoa boa, que sofre todas as desgraças possíveis, mas tenta acredita que mestre Pangloss está certo, pois ele ensinava que tudo concorre para o bem. A conclusão de Voltaire é que este não é o pior e nem o melhor mundo.
     Agostinho de Hipona (354-430) procura resolver o problema do mal dizendo que o mal é uma “falta”, uma “ausência” do bem. Deus é completo, por isso Ele é o sumo bem. A origem do mal está no livre-arbítrio. O homem no uso de sua liberdade, dominado pela má vontade, pratica o mal. A liberdade, o conhecimento e a vontade são as faculdades humanas nas escolhas morais. Quando o homem deixa de escolher a vontade divina, escolhendo a sua, comete o mal. Deus é o autor da liberdade e não do mal, este é humano.

5.    Considerações gerais sobre a problemática
     A identidade e os atributos de Deus nos textos bíblicos representam visões antropomórficas e culturais do divino. Portanto, existem várias posições, de várias épocas, lugares e autores. Se aquele que interpreta não souber ponderar tais textos entrará em conflito nas suas conclusões. A teologia negativa parece bastante prudente pelo fato de não fazer afirmações absolutizantes sobre Deus. Atualmente, muitos atributos divinos são extremamente carregados de ideologias negativas como “rei”, por exemplo.
     Para Andrés Torres Queiruga, o mal é inevitável para a condição limitada do ser humano. Mas Deus está no mundo na luta contra o mal juntos dos homens e mulheres. O problema deve refletido sem envolver a premissa Deus. Nesse sentido, Bart Ehrman confessa nossa incapacidade de resolver esse problema envolvendo os termos Deus e mal. A perspectiva de Leonardo Boff talvez seria a mais apropriada para realidade latino-americana, sabemos que Deus é bom, apesar de nossas tradições escritas serem diversificadas, então, cabe-nos resolver o problema do sofrimento do mundo, sem ficar transferindo nossa responsabilidade para Deus.

BIBLIOGRAFIA
AGOSTINHO, Santo. O livre-arbítrio. Tradução de Nair de Assis de Oliveira. São Paulo: Paulus, 1995.
EHRMAN, Bart. O problema com Deus. Tradução de Alexandre Martins. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm. Os pensadores. Tradução de Marilena Chauí. São Paulo: Abril, 1974.
REALE, Giovanni. História da filosofia. Vol. 1.
VOLTAIRE, François Marie Arouet. Cândido ou o otimismo. Rio de Janeiro: 1994.