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sábado, 16 de março de 2013

Eclesiologia


ECLESIOLOGIA[1]:
NATUREZA E FUNDAMENTOS DA IGREJA

José Aristides da Silva Gamito[2]


1.  Definição e origem da eclesiologia

     A teologia é uma área de estudos muito ampla. Para facilitar o estudo dos diversos assuntos que dizem respeito à teologia, geralmente, nós a dividimos em áreas menores. A eclesiologia é uma delas. É justamente aquela área que estuda os fundamentos e o significado da Igreja. Esta divisão da teologia é chamada de eclesiologia porque a palavra ekklesía que dizer “Igreja”, logia “estudo”. Portanto, estudo sobre a Igreja. É uma palavra da língua grega, a língua em que foi escrito o Novo Testamento. Originalmente, ekklesía significa “assembleia convocada”.
     A eclesiologia surgiu em um momento que a Igreja passou a ser contestada. Nos primeiros mil anos da era cristã não houve necessidade de estudar a Igreja de modo específico. A Igreja era uma realidade comum, aceita sem contestações. A primeira obra sobre o assunto é de Tiago Viterbo intitulada de “Sobre o Regime Cristão”, escrita entre 1301 e 1302.  No século 16, surge a obra “Sobre a Verdadeira Igreja” que se torna referência sobre o estudo sobre a Igreja até o Concílio Vaticano II.
    
2.  Eclesiologia bíblica

     O período de formação da Igreja passa por duas etapas: Período do discipulado e o período apostólico. Com Jesus os discípulos aprendem a mensagem do Evangelho e os fundamentos da Nova Aliança. Depois da morte de Jesus, eles assumem de vez o apostolado, ou seja, tornam-se testemunhas e pregadores da mensagem de Jesus. Portanto, a Igreja nasce sob o testemunho dos apóstolos. Neste sentido, dizemos ‘Igreja Católica Apostólica’.  

2.1.  Período do Discipulado: O ministério de Jesus com os apóstolos
            Depois de ter sido batizado, Jesus inicia seu ministério. Supõe-se que seu tempo de pregação pública tenha durado três anos. Partindo de um convite à conversão, Jesus forma seus discípulos depois de chamá-los ao seguimento com três ações: a) Conjunto de parábolas sobre o reino; b) Uma releitura da Lei. C) Conjunto de sinais (milagres, na linguagem de João).
     Jesus escolhe 12 apóstolos e os envia a pregar o Evangelho.  A missão dos apóstolos é a seguinte: Proclamar a proximidade do Reino, curar os doentes, purificar os leprosos e expulsar os demônios. A primeira missão dos apóstolos restringe-se “às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10, 5-15). Porém, o mesmo Jesus já avisa sobre as consequências deste caminho: Muitas perseguições.
     Jesus delega poderes a este grupo: “... tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu” (Mt18, 18).  E de certo modo, confia a Pedro um lugar à frente da Igreja (Mt 16, 18). Neste trecho, ocorre a expressão “minha Igreja”.
     Todo o processo de formação do grupo dos 12 começa com o convite: “Segui-me e eu vos farei pescadores de homens” (Mt 4, 19).  Jesus convida seus discípulos e os ensina durante o período que compreende desde seu batismo até a sua morte. Em Mateus 10, são citados os nomes dos apóstolos que compõem um grupo de 12, talvez em alusão às 12 tribos de Israel. Em Lucas 10, 1, fala-se de 70 discípulos, outra menção diz 72[3]. Poderíamos dizer que no período do discipulado há uma comunidade judaica seguidora de Jesus com uma estrutura mínima de diferença em relação aos judeus. A Igreja surgirá, de fato, com os apóstolos.
     Após a morte de Jesus, começa o período de apostolado, ou seja, os apóstolos impulsionados pelo acontecimento de Pentecostes anunciam o Evangelho a outras pessoas. Este é o mandamento de Jesus: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28, 19). A partir deste momento a comunidade cristã começa a se organizar e se expandir.

2.2.  Período Apostólico: As primeiras comunidades cristãs
2.2.1.      A Igreja nos Atos dos Apóstolos
     O evento de Pentecostes é decisivo para o nascimento da Igreja (At 2, 1-13). Os apóstolos se animam e se sentem responsáveis pela propagação do Evangelho.  O que motiva qualquer cristão neste período é o aumento do número de conversões, o fervor da fé e o espírito de fraternidade. A primeira comunidade surge em torno de Jerusalém, em seguida Damasco e Antioquia se despontam como importantes centros de propagação da fé, e foi marcada por algumas características:
     a) Assiduidade ao ensinamento dos apóstolos: Esses ensinamentos são a mensagem salvífica do Evangelho que diminui a ênfase na Lei e foca mais a atenção na fé em Jesus Cristo. O centro da pregação é que Jesus é o Senhor (Ressuscitado e Vivente) que trouxe a redenção de todos os povos.
     b) Observância da comunhão fraterna: A partilha de bens e serviços é uma marca distintiva da comunidade, a comunhão entre as pessoas é o cumprimento do novo mandamento.
     c) Partilha do pão: A eucaristia é o centro da organização da vida e do tempo na comunidade primitiva e é a forma de rememorar a presença de Cristo no meio deles. Todo o primeiro dia da semana era dia de reunião (Dia do Senhor: Domingo).
     d) Vida de oração (At 2, 42): Os primeiros cristãos seguiam um ritmo de oração semelhante ao costume judaico. Vários momentos durante o dia. O capítulo 8º da Didaquê[4] recomenda que se reze três vezes ao dia. Além disso, a oração, o jejum e a esmola são práticas comuns.
     Desde o início a Igreja se sustenta sob a autoridade dos apóstolos. Esta é uma propriedade fundamental da Igreja, a apostolicidade[5]. Algumas exigências são necessárias para pertencer à Igreja como a conversão e o batismo. A própria pregação de Jesus se inicia com o duplo imperativo: Conversão e fé (Mc 1, 15).
     A fé cristã tem como fundamento o anúncio (kerigma). Os novos cristãos ouvem o anúncio, creem, arrependem-se e são batizados. Toda a verdade da fé é sustentada pela autoridade dos apóstolos, portanto, eles são testemunhas do Evangelho: “O que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos para que estejais também em comunhão conosco” (1 Jo 1, 3).
    
2.2.2.      O processo de independência da Igreja Primitiva
     Os primeiros passos da Igreja estão registrados nos Atos dos Apóstolos. As cartas paulinas registram os ensinamentos e a disciplina que as primeiras comunidades adotam para seu funcionamento.  Após a Ascensão de Jesus, os discípulos foram impulsionados pelo Espírito a continuar a obra de Jesus. Por isso, o primeiro convite às nações pagãs a aderirem ao Evangelho é chamado de kerygma “anúncio”.
     No começo o termo apóstolos se refere aos Doze. Alguns traços importantes da organização da Igreja nos Atos dos Apóstolos: A substituição de Judas por Matias (At 1, 21-26). Mais tarde os apóstolos vão constituindo novos sucessores.
     Da pregação dos apóstolos surge uma comunidade em Jerusalém. Os primeiros cristãos constituíam inicialmente um grupo a mais do judaísmo, “seita do nazareno”.  Com a expansão da pregação dos apóstolos outras comunidades judaicas fora da Palestina também foram se formando. Pelo menos, no começo, havia dois grupos de cristãos:
     I. Os judeus cristãos: Eram fiéis seguidores das tradições judaicas e da lei de Moisés e frequentavam o templo, a diferença é que acreditavam em Jesus como o Messias. Eles falavam o aramaico e viviam em Jerusalém e em outras partes da Palestina, eram de origem rural.
  II. Os cristãos helenistas: Eles seguiam a lei de Moisés com menos rigor, viviam nas colônias judaicas a redor do mar Mediterrâneo, eles falavam o grego e eram de origem urbana.
     A estrutura inicial da Igreja era muito simples. Era uma Igreja doméstica. Os cristãos se reuniam aos domingos nas casas e celebravam a Eucaristia. A liturgia era formada pela escuta dos ensinamentos dos apóstolos, pela partilha do pão e pela comunhão dos bens. Com os conflitos surgidos com os judeus tradicionais, cada vez mais os cristãos foram se diferenciando e tornando-se um grupo independente.
     Inicialmente, a comunidade helenista cristã não pensou em uma organização eclesiástica porque considerava a vinda de Jesus imediata. E de modo semelhante, a comunidade cristã judaica não pensou na estrutura própria porque se sentia pertencente à estrutura do judaísmo (BULTMANN, 1980).
     No período de 66 a 70, a Palestina entra em guerra com os romanos. Os cristãos que já haviam se distanciado do judaísmo e que eram perseguidos por reconhecer Jesus como Messias, se separam definitivamente do judaísmo. Um momento decisivo para esta ruptura é a conclusão que os apóstolos chegam que para ser cristão não era necessário ser judeu. (CORTEZ & DÍAZ, 2000).
     A controvérsia em torno da necessidade da circuncisão para ser cristão é decidida em uma reunião em Jerusalém. Pedro sustenta que a salvação se dá pela graça e não pela circuncisão (At 15, 1-12).  Este foi o Concílio de Jerusalém, importante momento de organização da Igreja primitiva.

2.1.3. Período Pós-apostólico
     Historicamente, o período de consolidação da Igreja está dividido em período apostólico (30-65 d. C.) e período subapostólico (66-100 d. C.). Este segundo poderia ser chamado também de pós-apostólico. Nesta época alguns fatores contribuíram para um momento decisivo de consolidação da Igreja: A morte dos apóstolos, o fechamento das sinagogas aos cristãos e a separação radical entre cristianismo e judaísmo.
     Na comunidade de Jerusalém se estabeleceu como estrutura de poder o modelo do Conselho Sinagogal. Já nas comunidades paulinas e joaninas a autoridade já era carismática, havia vários mediadores que dependiam das necessidades. Nas comunidades petrinas, a autoridade provém dos apóstolos. Nas cartas pastorais, os chefes de família tendem a assumir a liderança. No Novo Testamento ainda não há uma definição precisa para a hierarquia da Igreja. Mais tarde, nos textos de São Clemente e na Didaquê aparecem dois ministérios: Os bispos e os diáconos. Por fim, os presbíteros e diáconos são compreendidos como ministérios que auxiliam e estão em torno do bispo.

3.  Compreensão de Igreja nas diferentes épocas da história

3.1.  A consolidação da Igreja na história
       A Igreja como nós a conhecemos hoje não se fez num dia. As primeiras comunidades foram organizadas e conduzidas pelos apóstolos e ganharam contornos aos poucos. Com a morte dos últimos apóstolos, a Igreja começou a consolidar algumas tradições que iriam dirigir o rumo dela: Definição do cânon das Escrituras; consolidação dos ministérios e da hierarquia; fixação dos dogmas em concílios e o consenso em torno do primado romano.
       Essas medidas organizativas foram fundamentais para que a Igreja sobrevivesse. A jovem Igreja possuía dois opositores: Internamente, havia os hereges que tendiam em dividi-la; externamente, o Império Romano queria aniquilá-la. As divisões internas da Igreja foram combatidas com a autoridade de certos bispos e diversos defensores da fé.  Havia várias interpretações sobre a doutrina cristã, os concílios fixaram-nas pondo fim às controvérsias (as heresias). Por outro lado, vários apologistas defenderam a Igreja diante do Império Romano.
       Os pais da Igreja tiveram uma atuação decisiva na preservação da doutrina dos apóstolos. A primeira geração conviveu de modo direto ou indireto com os apóstolos. Alguns são chamados de padres apostólicos e são justamente aqueles que vieram imediatamente após os apóstolos. O Concílio de Niceia (325 d. C.) é um acontecimento marcante neste período de consolidação da Igreja.  Tanto é que os padres são divididos em antenicenos (antes do Concílio), nicenos (durante o Concílio) e pós-nicenos (depois do Concílio).
       São os principais padres da primeira geração Clemente de Roma, Inácio de Antioquia e Policarpo de Esmirna. Inácio foi bispo de Antioquia, terceira cidade mais importante do Império Romano. Policarpo é uma testemunha importante dos tempos apostólicos segundo Tertuliano ele chegou a conhecer o apóstolo João. Clemente é considerado o primeiro pai da Igreja.
       Portanto, os pais da Igreja foram autoridade que defenderam e preservaram a doutrina dos Apóstolos.  Até o século 4º a Igreja viveu um período de instabilidade com pressões internas e externas. Houve muitas heresias e divisões, perseguições por parte do Império Romano. Outra figura que aparece neste período são os mártires e os confessores. São cristãos que testemunharam a fé até o fim. A Igreja se firmou sob o sangue dos mártires.  Recordando, os pais da Igreja, mártires e confessores afirmaram a autenticidade da Igreja contra os hereges e o Império Romano.
       Finalmente, em 313 os cristãos conseguiram a liberdade religiosa através do Édito de Milão dos imperadores Constantino e Licínio. Neste período, acontecem os primeiros concílios que põem fim a dúvidas sobre a doutrina cristã: Concílio de Niceia (325), Constantinopla I (381), Éfeso (431) e Calcedônia (451). Estes concílios definiram a doutrina sobre Maria como Mãe de Deus, as naturezas divina e humana de Cristo e sobre a Trindade. O texto mais conhecido desta época que resume a doutrina da Igreja é o Símbolo Niceno-constantinopolitano.

3.2.  A Eclesiologia dos Pais da Igreja
            Imediatamente à morte dos apóstolos, a Igreja se sustenta com uma classe de cristão muito importante: Os pais (ou padres) da Igreja. Estes homens foram escritores e catequizadores que passaram a refletir sobre a fé cristã, a escrever sobre seus princípios e a defendê-la diante da sociedade romana.  Nesta época, não houve reflexão organizada sobre a Igreja que pudéssemos chamar de eclesiologia, mas podemos observar em vários sermões a referência à autoridade dos apóstolos, a sucessão apostólica, a unidade da Igreja Católica.

3.3.  A Igreja na Idade Média e na Idade Moderna
     Do mesmo modo na Idade Média e Idade Moderna a Igreja é entendida de modo tão natural que não há uma reflexão específica sobre sua natureza. Depois de Tiago Viterbo (século 14), surge mais tarde o tratado “Sobre a Verdadeira Igreja” que lança as bases das reflexões sobre a Igreja até o Concílio Vaticano 1º. Esta reflexão se organiza em três vias (caminhos):
A) Via da história: Ao examinar os documentos antigos conclui-se que a Igreja sempre foi uma sociedade, visível, permanente e hierarquicamente organizada.
B)  Via das notas distintivas: Cristo dotou a Igreja de quatro notas distintivas: Unidade, santidade, catolicidade, apostolicidade.
C) Via da experiência: A presença divina na Igreja confirma a sua transcendência (adotada pelo Concílio Vaticano 1º).
     No Concílio Vaticano 1º, o elemento que é posto em evidência é a infalibilidade papal. Por meio deste dogma o concílio quis assegurar que a legitimidade e autoridade da Igreja estão no ministério do papa que é a continuação histórica da autoridade de Pedro recebida diretamente de Cristo.

4.  As marcas distintivas da Igreja
    É comum em todo estudo sobre a Igreja apresentar as quatro qualidades distintivas dela: Unidade, santidade, catolicidade e apostolicidade. Estes adjetivos foram incorporados no Símbolo de Constantinopla em 381 e são reflexões originais de São Cirilo de Jerusalém. A liturgia conservou costume de professar a fé durante as missas, no texto a assembleia repete que acredita na Igreja Uma, Santa, Católica e Apostólica.
4.1.  Igreja Una
       A Igreja se define pela unidade dos fiéis em torno de Cristo professando uma só fé, um só batismo, um só Deus, uma só esperança em um só corpo e um só espírito (Ef 4, 4-5). A unidade é a qualidade fundamental da Igreja porque o grande desejo de Jesus foi a comunhão de todos os seus seguidores: “Pai santo, guarda-os em teu nome que me deste, para que sejam um como nós” (Jo 17, 11). A unidade da Trindade é o modelo de comunhão desejado para a Igreja. Quando se fala desta unidade/comunhão não se deve confundir com uniformidade. A Igreja sempre conteve em si a diversidade. Ela é comunhão de Igrejas. Cipriano de Cartago na obra De Unitate Ecclesiae (A Unidade da Igreja) usa a imagem da luz para descrever a unidade da Igreja, muitos são os raios, mas uma só é a luz.
4.2.  Igreja Santa
       A Igreja é constituída de pecadores. A santidade é porque todos participam da graça de Jesus, são chamados à santidade e conservam em si o auxílio necessário para ser santo. É um conceito teológico. Isso não significa que não haja pecados individuais e reais na Igreja.
4.3.  Igreja Católica
       A Igreja nasceu aberta a todos os povos. Diferentemente do judaísmo que era uma religião nacional, o cristianismo surge como uma proposta universal. A palavra católico quer dizer “universal, para todos”.
4.4.  Igreja Apostólica
       A apostolicidade revela a natureza da Igreja. Ela nasce sob a autoridade do testemunho dos apóstolos que aprenderam diretamente de Jesus o Evangelho e são autoridades morais e históricas para fundar, expandir e conduzir a Igreja. Não é possível fala de Igreja autêntica sem levar em conta sua origem apostólica.

5.  Os conceitos fundamentais da Igreja

     Na definição da Igreja deve se observar duas dimensões principais: Mística e social. A Igreja é uma comunidade mística, mas também uma instituição histórica, terrena. Portanto, reduzi-la a um só aspecto empobrece a compreensão que a Tradição sempre teve a seu respeito.
a)   Sacramento: De acordo com o Concílio Vaticano 2º a Igreja é sacramento de salvação. A afirmação quer dizer que a Igreja é o sinal visível de união de todos os povos em torno de Cristo, o autor da salvação.
b)   Comunhão: A Igreja possibilita a comunhão com Deus através da Palavra e dos sacramentos e a comunhão dos cristãos entre si. A Igreja é comunhão de Igrejas locais. A figura bíblica para entender este conceito é a videira. Jesus é a videira e todos os cristãos são ramos, todos os ramos dependem de sua seiva, quem se desliga dela, perece (Jo 15, 4-5).
c)    Povo de Deus: A Igreja é entendida como a comunidade dos batizados. São características importantes da Igreja: A pessoa se torna membro dela pela fé e pelo batismo; o mandamento que rege o povo de Deus é o amor; e é um povo sacerdotal profético e régio.
d)   Corpo de Cristo: A Igreja une em si a dimensão humana e divina da comunidade dos batizados (fiéis e hierarquia). Ela é sociedade organizada e ao mesmo tempo corpo místico. Seu chefe é Cristo.
e)    Tradição viva: A Igreja continua conservando e transmitindo os ensinamentos dos apóstolos. Uma tradição foi confiada à Igreja e deve ser continuamente transmitida.
f)    Sociedade: Em hipótese nenhuma deve se descuidar do aspecto social da Igreja. Ela é sociedade visível e estruturada hierarquicamente.
g)   Instituição: Ela se define por uma estrutura e por certas atividades permanentes que permitem identificá-la. É instituição humana.

6.  Fundamentos eclesiológicos do Vaticano II
          O Concílio Vaticano II trouxe uma nova compreensão de Igreja. Aliás, recuperou uma antiga compreensão. A Igreja deixa de ser entendida como hierarquia e passa compreender todo o povo de Deus. Esta é a novidade do principal documento do concílio sobre a Igreja Lumen Gentium (Luz dos Povos). Pelo documento Gaudium et Spes (Alegria e Esperança) outra preocupação nova da Igreja é com o mundo externo.
7.  Problemas atuais de eclesiologia

     Nas últimas décadas, observamos na Igreja do Brasil quase uma disputa de espaço entre dois modelos eclesiológicos. As Comunidades Eclesiais de Base/Teologia da Libertação e o movimento pentecostal católico representado pela Renovação Carismática começaram a polarizar a eclesiologia. Esta diversidade é importante, mas precisa saber dialogar. Analisemos as duas tendências.

7.1.       A eclesiologia das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)

          O surgimento das CEBs na América Latina foi um despertar da Igreja que a fez se situar no cenário político, econômico e social dos países latino-americanos. A percepção de que não poderia ser Igreja na América Latina sem a opção preferencial pelos pobres foi um grande salto.  Muitas características da Igreja Primitiva foram recuperadas como a partilha dos bens, a Igreja doméstica e a apresentação do Evangelho como processo de libertação.
          As críticas que pesaram sobre o movimento foi as de identificação com partidos políticos. Se os processos sociais são tão dinâmicos identificar a mensagem cristã com a hegemonia de um partido poderia significar o risco de reduzir a Igreja.

7.2.       A eclesiologia dos movimentos pentecostais

          O movimento pentecostal representado pela Renovação Carismática Católica, por sua vez, devolveu a Igreja em tempos de adaptação ao mundo moderno, a busca de uma espiritualidade intimista, recuperação de práticas tradicionais de oração e um conjunto de comportamentos que havia sido ultrapassado, em parte, pela renovação do Concílio Vaticano II
          As críticas que pesaram sobre este movimento foi a supervalorização do além em prejuízo da realidade sócio-econômica do fiel. Portanto, em todos os casos faltaram ponderações e equilíbrios.

REFERÊNCIAS

BULTMANN, Rudolf. Teología Del Nuevo Testamento. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1980.
FORTE, Bruno. La Iglesia: Icono de la Trinidad. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1992.
FUENTE, Eloy Bueno de la. Eclesiología. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1998.



ROTEIRO DE ESTUDOS INDIVDUAIS

Para o melhor aprofundamento dos temas, o estudante deverá proceder individualmente ou em grupo procurando ampliar e fixar os assuntos estudados através de algumas leituras:

  1. Para tomar conhecimento aos poucos da linguagem da teologia faz-se necessário aprender o significado de algumas palavras: Estude o Vocabulário Teológico.
  2. Reflexão sobre o retrato da primeira comunidade cristã: At 2, 42-47; 4, 32-35.
  3. Leitura recomendada sobre as qualidades distintivas da Igreja: Catecismo da Igreja Católica, números de 811 a 865.   A mesma leitura pode ser feita no Catecismo Jovem da Igreja Católica (YOUCAT): Números de 121 a 145.
  4. Textos do Vaticano II: Lumen Gentium e Gaudium et Spes.



[1] Texto-base para as aulas de Eclesiologia do Curso de Teologia da Paróquia de Santa Margarida, com início a 16 de março de 2013.
[2] Graduado em filosofia, teologia e especialista em educação, residente em Conceição de Ipanema (MG). Contato: joaristides@gmail.com / Acesse: www.teologiapopular.blogspot.com.br.
[3] O Tratado do Pseudo-Doroteu lista o nome dos 70 ou 72 discípulos.
[4] A Didaquê foi o primeiro catecismo da Igreja. Ele foi escrito entre os anos 60 e 70 d. C. Ele contém um resumo do ensinamento dos apóstolos.
[5] Tertuliano, escritor cristão do século 2º, expressava: “Ecclesia ab apostolis, apostoli a Christo, Christus a Deo” (A Igreja a partir dos apóstolos, os apóstolos a partir de Cristo e Cristo de Deus).