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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Módulo V - PENTATEUCO

ANTIGO TESTAMENTO: PENTATEUCO

1. Introdução

O Antigo Testamento ou o Primeiro Testamento é uma coleção de textos sagrados importantes para três religiões: Judaísmo, cristianismo e islamismo. Muitas passagens do Alcorão foram inspiradas no testamento judaico. Já os judeus consideram este testamento como único livro sagrado chamado de Tanakh.

Ao estudar esses livros, precisamos ter em mente uma chave de leitura correta. O AT é uma literatura judaica situada na antiguidade, com mentalidades e noções próprias. Não poder ser considerado um bloco igual. Os textos representam várias tradições, às vezes, separadas por séculos. Além disso, a língua original foi o hebraico. Essa língua possui formas de expressões muito peculiares. Essas ressalvas ajudam ao iniciante no estudo do AT a tomar cuidar para não aplicar categorias modernas a tradições antigas.

2. Visão de Deus

A visão de Deus apresentada no AT difere do NT. Percebe-se ao longo dos séculos uma evolução pouco linear da imagem de Deus. Há textos de um Deus compassivo, de um Deus vingativo e até mesmo com ausência de Deus. No Pentateuco, há uma revelação do nome de Deus, Yahweh (Ex 3, 13-15). Seu nome significa apenas aquele que é, o existente. Essa divindade não pode ser vista por homens, nem seu nome pronunciado, deve-se chamá-la de Senhor (Adonai). Outro nome para Deus é Elohim. O curioso é que este último significa “deuses”. Deus fez uma aliança com o povo de Israel e revelou os mandamentos.

3. Visão de homem

Os antigos judeus entendiam que o homem é uma criatura feita à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 27). Seu ser é composto de dois elementos basar (carne, corpo) e néfesh (alma, vida). O sangue que sustentava e mantinha a vida. Após a morte, os falecidos iriam para o Sheol, a mansão dos mortos. Esta condição do morto é vista como esquecimento (Sl 88, 12-13) (COELHO FILHO, 2008). Enquanto vive, o dever do homem é observar a Toráh para ter na vida presente bênção e longevidade[1].O coração (lebab) que era o centro dos pensamentos e da razão. Os rins (helayot) representavam a sede das emoções.

4. Visão de mundo

Os hebreus entendiam que a Terra era circular com uma superfície plana e circundada por mares. Na parte superior, havia ar e águas. Na inferior, era um grande abismo. Debaixo do solo, situava-se o Sheol. A Terra era imóvel. A Palestina era o centro do mundo e se conhecia somente as regiões ao redor.

5. O tempo

O calendário judaico era baseado no ciclo da lua e tinha doze meses. A cada dois anos havia um décimo terceiro mês. A contagem dos anos fazia-se com referência á criação ou ao tempo de vida de alguma pessoa importante ou evento marcante. Em 2009, para os judeus é o ano 5769 desde a criação do mundo. O início do ano se dava na primavera.

6. Método de Estudo Bíblico

Existem alguns passos a serem observados para uma boa interpretação: a) Identificação do gênero, estilo e a finalidade do texto. b) Obter informações sobre o autor e seu contexto: Quem escreveu? Quando e onde foi escrito? Qual o tema ou a razão principal do escritor? A quem se dirigiu o escritor? c) Leitura total e identificação da ideia principal, a afirmação do autor, através da contagem das palavras mais repetidas. d) Ler cuidadosamente o texto. Ter atenção com as vírgulas, pontos finais e parágrafos, pontos de exclamação e interrogação, dois pontos e ponto e vírgula. e) Ter atenção com o sentido das palavras essenciais para a compreensão do texto. Identificar como o autor desdobra a sua ideia principal, comprovando-a ou a rejeitando. f) Elaborar um mapa conceitual ou esquema para visualizar a ideia principal e como ela se conecta às suas ideias afluentes. g) Confrontar, associar os dados da leitura atual ao acervo mental adquirido em leituras anteriores. h) Aplicar o texto à finalidade para qual você leu e interpretou a obra sem forjar o autor apenas dialogar com ele.

Para isso é bom ter um caderno de anotações. Escolher um texto completo, sem cortes, e anotar cada versículo e as ideias contidas nele. Deve-se ler sobre o mesmo assunto noutros lugares para comparar. No final, é possível ter uma ideia clara do texto bíblico. Não se conclui nada a partir de um só versículo.

7. Pentateuco

Na antiguidade, o texto era conservado em cinco rolos de tamanho quase igual. O Pentateuco é composto pelo Gênesis (origem, começo), Êxodo (saída), Levítico (lei dos sacerdotes da tribo de Levi), Números (recenseamentos), Deuteronômio (segunda lei). Os judeus usavam as primeiras palavras de cada livro para nomeá-los.

Não existe um único autor para esses livros. Atualmente, se considera um conjunto de autores que podem ser reunidos em 4 grupos: Javista, Eloísta, Sacerdotal e Deuteronomista. Pelo modo de escrever, deduzem-se essas tradições. Sua redação final se deu depois do Exílio, em 400 a. C. Mas o começo deve ter sido na época de Salomão.

7.1.Gênesis

O Gênesis é o livro das origens. O seu propósito é responder àquelas perguntas fundamentais como: De onde viemos? Qual origem do sofrimento? Como começou a história da fé? Por isso, o livro pode ser dividido em duas partes: 1 – Narrativas das origens; 2 – História dos patriarcas. Os 11 primeiros capítulos fazem uma catequese sobre as origens através de histórias. A composição do Gênesis teve muita influência dos povos vizinhos de Israel. Existem vários gêneros como mitos, lendas, genealogias e sagas. Essas tradições foram sendo transmitidas oralmente desde o século XIII até século V antes de Cristo. Após o exílio, os sacerdotes puseram as tradições por escrito. E tenta refletir justamente sobre a angústia e a falta de esperança provocadas pelo cativeiro. As memórias registradas no Pentateuco envolvem um período a partir de 3.000 a. C. até sua redação final. Por volta de 1770 os patriarcas estavam no Egito.

I. História das Origens (1,1-11,32)

1,1-2,4a: Criação do universo e dos seus habitantes (segundo a tradição Sacerdotal: P).

2,4b-3, 24: Formação do homem e da mulher. Origem do pecado (tradição Javista: J).

4,1-24: “História de dois irmãos”, Caim e Abel. Descendência do primeiro.

4,25-5,32: Set e a sua descendência.

6,1-9,17: Corrupção da humanidade e Dilúvio (anti-Criação).

9,18-10,32: Re-criação, a partir de Noé, o homem novo. Lista de povos.

11,1-9: Torre de Babel: a humanidade constrói uma sociedade sem Deus.

11,10-32: Descendência de Sem até Abraão, promessa de um povo novo.

II. História dos Patriarcas (12,1-50,26)

Ciclo de Abraão (12,1-23,20): vocação, emigração para Canaã e Egito. Nascimento de Isaac e Ismael. Morte de Abraão.

Ciclo de Isaac (24,1-27,46).

Ciclo de Jacó (28,1-36,43): já a partir de 25,19, Jacob começa a tornar-se a personagem principal, tanto em relação ao pai (Isaac), como em relação a seu irmão Esaú.

Ciclo de José (37,1-50,26): o penúltimo dos filhos de Jacó, vendido como escravo para o Egito, faz a ligação histórica e teológica com o livro seguinte, o Êxodo. É um ciclo muito especial, também chamado História de José.[2]

7.2. Êxodo

O tema principal deste livro é a libertação do povo da escravidão no Egito. A personagem central é Moisés. Essa história se completa com a Aliança do Sinai, um ponto importante para entender o começo da religião judaica de forma organizada. A partir da conquista da Terra prometida os hebreus começam a formar uma nação. O êxodo é um acontecimento fixado pela história por volta de 1250.

I. “Opressão” e “Libertação” dos filhos de Israel no Egito. Este é o tema fundamental de 1,1-15,21. Nesta secção merecem especial relevo as peripécias no Egito (1,1-7,8), como um povo que nasce no sofrimento. Seguem-se as pragas (7,8-12,32), como meio violento de libertação.

II. Caminhada pelo deserto (15,22-18,27) do povo, agora livre do Egito.

III. Aliança do Sinai (19,1-24,18). Esta aliança é o encontro criacional ou fundacional de Javé com os “israelitas”, em que o Senhor se dá a si mesmo ao homem e restitui cada homem a si mesmo, e em que o homem aceita a dádiva pessoal de Deus e se aceita a si mesmo como dom de Deus com tudo o mais que lhe é dado: a natureza, a razão, a Lei, a História, o mundo. Por sua vez, a dádiva e a sua aceitação também reclamam dádiva mútua e, portanto, responsabilidade. O pecado surge como possibilidade da liberdade humana; mas Deus pode sempre recomeçar tudo de novo.

IV. Código sacerdotal, com especial relevo para a construção do santuário (25,1-31,18). A execução do mesmo vai ser revelada em 35,1-40,33, com a correspondente organização do culto. Esta narrativa está encerrada numa inclusão significativa: 40,34-38 descreve a descida do Senhor sobre o santuário com as mesmas características (nuvem, glória, fogo) com que 24,12-15a descreveu a descida do Senhor sobre o Sinai, mostrando, assim, que o santuário assumiu o papel do Sinai como lugar da manifestação de Deus. É a presença da ideologia sacerdotal (conhecida por fonte P), que projeta retrospectivamente no Sinai a imagem do segundo templo, do seu sacerdócio e do seu culto – em suma, o ideal da comunidade judaica pós-exílica.

V. Renovação da Aliança do Sinai, relatada em 32,1-34,35.

VI. Código sacerdotal (35,1-40,38): execução das obras relativas ao santuário.

7.3. Levítico

A partir da famosa versão grega dos Setenta, este livro recebeu o nome Levítico por causa da importância dos sacerdotes da tribo de Levi. O texto tem um forte acento litúrgico e de lei. Essas informações foram recolhidas no século VI pelos sacerdotes em Jerusalém.

I. Código Sacerdotal (1,1-16,34): inclui as seguintes secções:

1. Ritual dos Sacrifícios (1,1-7,38): holocausto (1), oblações (2), sacrifício de comunhão (3), sacrifício de expiação (4,1-5,13), sacrifício de reparação (5,14-26), deveres e direitos dos sacerdotes (6-7).

2. Consagração dos sacerdotes e inauguração do culto (8,1-10,20): Ritual da consagração de Aarão e seus filhos (8), primeiros sacrifícios dos novos sacerdotes (9), irregularidades e normas sobre os sacerdotes (10).

3. Código da pureza ritual (11,1-15,33): animais puros e impuros (11), purificação da mulher que dá à luz (12), purificação da lepra (13-14), impureza sexual (15).

4. Dia da grande expiação (16,1-34).

II. Código de Santidade (17,1-26,46): é um conjunto de leis introduzidas pela fórmula “Sede santos porque Eu sou santo”, que inclui leis sobre a imolação de animais e leis do sangue (17), leis em matéria sexual (18), deveres para com o próximo (19), penas pelos pecados sexuais (20), santidade dos sacerdotes (21-22), calendário das festas (23), luzes do santuário e pães da oferenda ou da proposição (24,1-9), Ano Sabático e Jubileu (25), bênçãos e maldições (26). Como se torna evidente, neste grande conjunto de leis cultuais, quase metade do livro é constituída pelo “Código de Santidade” (17-26).

III. Apêndice (27,1-34): os votos.

7.4.Números

Este livro é narrativo com alguns trechos de leis. Seu conteúdo se liga ao Êxodo. Pois retoma o tema da marcha no deserto desde o Sinai até as margens do Jordão.

I. No deserto do Sinai (1,1-10,10). Referem-se as ordens de Deus para a caminhada através do deserto com a disposição do acampamento das tribos, os deveres dos levitas e outras leis de carácter ritual.

II. Do Sinai a Moab (10,11-21,35). Os acontecimentos mais importantes desta segunda parte estão marcados por etapas geográficas, algumas das quais são difíceis de identificar. Descreve-se a caminhada direta para Cadés-Barnea, mesmo na fronteira sul de Canaã e, depois, a inflexão para oriente e a errância penosa durante quarenta anos através do deserto até à chegada a Moab, já na fronteira da Terra Prometida.

III. Na região de Moab (22,1-36,13). Começando com a bênção de Balaão, as narrativas desta terceira parte apresentam um novo recenseamento dos israelitas, descrevem a nomeação de Josué para substituir Moisés, contêm algumas prescrições de caráter cultual, narram a luta contra os madianitas e a partilha de Canaã com a instalação das tribos de Rúben, Gad e parte de Manassés em Guilead, na Transjordânia, e a recapitulação das etapas do Êxodo.

7.5. Deuteronômio

A tradição deste livro difere-se do resto do Pentateuco. A fonte usada pelos escritores é perceptível até o 2º Livro dos Reis. Por isso, esse conjunto de livros é chamado de História Deuteronomista. No Deuteronômio começa uma nova maneira de contar a história do povo de Israel. Sua redação final deve ter acontecido pelos séculos VI e V. O texto trata dos discursos de Moisés e seus últimos dias.

I. Primeiro Discurso (1,6-4,43): de forma historicizante, recapitula o passado, desde a planície desértica da Arabá até à entrada na Terra Prometida de Canaã.

II. Segundo Discurso (4,44-28,68): Moisés apresenta os fundamentos da Aliança e as determinações da Lei.

Código Deuteronômico: 11,29-26,15.

III. Terceiro Discurso (28,69-30,20): últimas instruções de Moisés.

IV. Apêndice (31,1-34,12): narra os últimos dias de Moisés, com cânticos e bênçãos, bem como a sua morte.

8. Temas da Teologia do Pentateuco

O Pentateuco contém os fundamentos da primeira aliança. Pois conta como esta se deu, como se organizou o culto, construiu o santuário e instituiu os sacerdotes. A base da fé israelita aparece no decálogo. Esse conjunto de escritos nos dá uma revelação de Deus e da religião antiga dos judeus.

a) Criação do céu e da terra: Gn 1,1ss.

b) Criação do homem: Gn 1, 27.

c) A origem do pecado: Gn 3, 1-24.

d) A origem da violência: Gn 4, 1-16.

e) A renovação do mundo: Gn 6, 5ss.

f) O chamado de Abraão: Gn 12.

g) O chamado de Moisés: Ex 3.

h) A revelação do nome de Deus: Ex 3, 13-15.

i) A libertação do Egito: Ex 13, 17ss.

j) A origem da Aliança: Ex 19.

k) A lei: Ex 20.

l) A construção do santuário: Ex 35.

m) O credo de Israel: Dt 6.

n) A morte de Moisés: Dt 34.



[1] Longevidade quer dizer “vida longa”. Para os antigos era sinal de bênção.

sábado, 10 de outubro de 2009

Geografia Bíblica




domingo, 4 de outubro de 2009

Revisão dos Módulos - Recursos Didáticos

INTRODUÇÃO À TEOLOGIA




Módulo 04

MÓDULO 04 – INTRODUÇÃO À BÍBLIA

1. Bíblia

Bíblia é um livro que deve ser estudado como as demais literaturas antigas. Seu conteúdo é a Revelação divina, mas a forma literária é humana, produto histórico. Não devemos revesti-la de magia e de esoterismos. Seu estudo depende de uma fé madura.

2. Formação

O nome bíblia vem da língua grega biblía, plural de biblíon “livrinho”. Os judeus a denominavam de “Os livros sagrados”, na história coexistiram diversos nomes. No século V, a partir de João Crisóstomo, a expressão Tá Biblia começa a ser título.

Os termos “antigo testamento” e “novo testamento” assinalam as duas seções da Bíblia. O primeiro é escritura exclusivamente judaica. Já o segundo é judaico e cristão. Testamento reproduz o hebraico berît “aliança”. Paulo é o primeiro a usar esses nomes, sendo depois adotados pelos escritores cristãos do século III.

A Bíblia é uma coleção de livros. Escritos em épocas, lugares e por pessoas diferentes. O AT[1] foi escrito de 1300 a. C. até 50 a. C. O NT foi elaborado dos meados do século I (51 d. C.) ao início do século II (100 d. C.).

Os títulos dos livros são tardios e alusivos ao conteúdo. Os judeus nomeavam os livros com as primeiras palavras do texto: Bereshît (“no princípio”) = Gênesis.

A divisão em capítulos data somente do século XIII, feita pelo cardeal Estêvão Langton e a subdivisão em versículos de 1551, por Robert Estienne.

As divergências na organização dos livros da Bíblia decorrem da diferença entre a Bíblia Hebraica (Palestina) e Bíblia Grega (Alexandria): Os salmos são numerados de forma diferente, na Bíblia grega os salmos 9 e 113 são divididos em dois.

Os manuscritos eram feitos em pergaminhos (até o século II d. C.), que se desgastavam rápido, chegaram a nós, cópias de cópias.

  1. Divisão

A tradição cristã ratificada no Concílio de Trento (1545-1563) reconhece 46 livros do AT. São divididos em: Históricos (21), didáticos (7), proféticos (18). Os cinco primeiros livros formam o Pentateuco.

O NT é composto por 27 livros, sendo: Históricos (5), didáticos (21), profético (1).

A Bíblia Hebraica é dividida em: Torah (Pentateuco), Nebiim (profetas), Ketubim (os escritos), ao todo 39 livros.

  1. As línguas

O hebraico, o grego e o aramaico.

Em hebraico foi escrito todo o AT, com exceção dos livros chamados deuterocanônicos, e de alguns capítulos do livro de Daniel, que foram redigidos em aramaico.

Em grego comum, além dos já referidos livros deuterocanônicos do AT, foram escritos praticamente todos os livros do NT. Segundo a tradição cristã, o Evangelho de Mateus teria sido primeiramente escrito em hebraico.

  1. Traduções e versões

A dispersão do povo judaico exigiu uma tradução dos livros para o grego. Esta foi concluída no ano 100 a. C. Chamada de versão dos Setenta, posteriormente adotada pelos cristãos.

No século II a. C., houve muitas versões, havia divergências quanto à aceitação por serem imperfeitas. No século V, Jerônimo realiza uma tradução ótima para o latim, conhecida como Vulgata. Recomendada pelo Concílio de Trento.

Para o português, a mais antiga e completa foi a tradução de João Ferreira de Almeida (1628-1691) publicada em 1753. É importante observar que atualmente não possuímos o texto original. Há apenas fragmentos de cópias antigas. As traduções não são exatas.

Mesmo diante dessas limitações históricas a fé cristã professa que a Bíblia é inspirada[2] (2Tm 3, 16-17), fielmente transmitida e preservada de erros em questões de fé e moral. A esta preservação de erros em questões fundamentais dá-se o nome de inerrância[3].

  1. Canonicidade

Havia diversos escritos religiosos judaicos. Foi feita uma distinção e seleção dos livros inspirados. A Bíblia Grega do século I adotou livros não-contidos na hebraica. A questão só foi resolvida no século II. O primeiro cânon oficial do NT surge no Sínodo de Hipona, em 393. Lutero retomou o debate e a tradição protestante preferiu o cânon judaico. O Concílio de Trento reconheceu oficialmente o cânon alexandrino.

Quando se fala em cânon, estamos dizendo da lista de livros aceitos como inspirados por Deus. Portanto, existem dois cânones: Hebraico e alexandrino. O cânon hebraico contém 39 livros no AT. E o cânon alexandrino possui 46. Os livros que foram acrescentados são chamados de deuterocanônicos[4]. Esses livros são Tobias, Judite, I e II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e trechos de Ester (10, 4 a 16, 24) e Daniel (3, 24-90, e capítulos 13 e 14). A tradição católica acolheu o cânon alexandrino e a protestante, o hebraico.

  1. A Bíblia como literatura

A Bíblia é a literatura antiga dos judeus e dos cristãos. Ou seja, é um conjunto de escritos de vários gêneros e estilos. Cada modo de escrever exige também um modo próprio de interpretar. Tradicionalmente, distinguem-se dois sentidos: O sentido expresso pela palavra (sentido literal) e o sentido espiritual transmitido pelo texto (sentido pleno).

Existem dois estudos próprios da interpretação da Bíblia que são a exegese e a hermenêutica. Através desses estudos estabelecem-se critérios para entender um texto. É preciso considerar os seguintes aspectos:

Condicionamentos de tempo - Os livros da Bíblia são fruto do seu tempo. Por isso, se quisermos conhecer a mensagem de Deus, temos de conhecer o tempo e as circunstâncias históricas em que foi escrito cada um desses livros.
Condicionamentos de espaço - Uns nasceram na Arábia e outros na Palestina; uns no mundo helênico e outros no Império Romano; cada qual com o ambiente próprio, e o livro é filho também do ambiente que o viu nascer.
Condicionamentos de raça - Os livros da Bíblia procedem quase todos da raça semita e mais concretamente do Povo Judeu, que tem um modo de pensar e de se exprimir muito diferentes do nosso, que é preciso conhecer para entender a Palavra de Deus.
Condicionamentos de cultura - Além da cultura, também da mentalidade e da ciência dos autores que trabalharam na composição dos livros sagrados. Alguns livros levaram séculos a formar-se e são obra de muitos autores com mentalidades e cultura diferentes, e embora fossem inspirados, não foram privados da sua personalidade.

8. Gêneros e figuras de linguagem

Em se tratando dos gêneros, temos: Poesia e prosa. Do gênero poético, temos na Bíblia: canção (canções de guerra, de culto e canções profanas), poesia sapiencial (poemas didáticos, coleções de sentenças), sentenças e máximas e literatura profética (repreensões, ameaças, consolações, confissões e oráculos). Quanto à prosa: leis, documentos (contratos, decretos e genealogias[5]), preces, apocalipses (descrições do juízo final em forma de visões), narrativas edificantes (novela histórica), narrativas biográficas dos profetas, história da salvação, profecias e cartas.

O texto bíblico possui várias formas de expressão. Às formas indiretas e figuradas de se expressar damos o nome de figuras de linguagem. É importante conhecer as mais usadas: Comparação, metáfora, parábola, alegoria, fábula, símbolo, sinédoque, metonímia, antonomásia e hipérbole.

Explicação das figuras. Metáfora: É uma comparação abreviada. Metonímia: Troca de nomes relacionados entre si. Parábola: Uma narrativa que faz uma comparação imaginária. Alegoria: Uma metáfora, com sentido transferido, por semelhança. Fábula: Narrativa de cunho moral, na qual seres inanimados ou animais se comportam como o ser humano. Sinédoque: Designação do todo pela parte. Antonomásia: Substitui o nome por um qualificativo. Hipérbole: É um exagero de linguagem.

9. Geografia

O ambiente onde foi escrita a Bíblia envolve as regiões da Palestina, as comunidades gregas e Alexandria. Os livros protocanônicos nasceram na Palestina. Os deuterocanônicos surgiram no ambiente grego de Alexandria. O NT foi escritos em diversos lugares, desde a Palestina até as comunidades gregas. Portanto, duas culturas influenciaram a mentalidade presente nos textos: Cultura semítica e cultura helênica.

10. História

Para que se compreender os escritos bíblicos é necessário ter uma noção da história de Israel e do Império Romano. Em síntese, esta é a linha de tempo da Bíblia:


Antes de Cristo (AT)

1926: Abraão migra para Arã.

1800-1200: Tradição oral.

1200: Período tribal – o povo se instala em Canaã.

Primeiros fragmentos escritos (Código da Aliança)

1150-1050: tempo dos juízes.

1000: Primeiros escritos.

1040-922: Fase de ouro – os reis Saul, Davi e Salomão.

922-605: Reino de Judá – sul.

922-720: Reino de Israel – norte.

597-538: Exílio na Babilônia.

515: Reconstrução do templo.

333-135: Dominações dos selêucidas e lágidas.

167: Revolta dos Macabeus.

64: Os romanos dominam a Palestina.

Depois de Cristo (NT)

6-29: Vida e ministério de Jesus.

30: Primeiras comunidades.

70: Destruição de Jerusalém e diáspora.

90: Expansão do cristianismo.

135: Destruição de Jerusalém e diáspora final.


11. Cultura

As duas culturas que influenciam a redação dos livros bíblicos são bem diferentes. Os gregos são dados ao comércio, à educação, pensam o mundo racionalmente. Esses acreditam em vários deuses, seu sistema político é a democracia, vê o homem constituído de corpo e alma, existem o mundo material e o mundo espiritual, imortalidade da alma, céu e inferno. A expressão máxima dessa cultura é a filosofia. Sua língua foi o grego. Os homens mais importantes Homero, Sócrates, Platão, Aristóteles e Alexandre Magno.

Os judeus acreditavam em um só Deus, davam mais importância à religião, o sistema político é a teocracia, o homem é corpo, existe apenas o mundo material, não se pronunciam sobre imortalidade, acreditam apenas na morada dos mortos. A expressão máxima dessa cultura é o monoteísmo. Suas línguas foram o hebraico e o aramaico. Os homens mais importantes Abraão, Moisés, Davi, Salomão, Jesus e Paulo.

12. Judaísmo

O antigo testamento pertence ao judaísmo assim como o novo surge num cenário também judaico. Por isso, vamos entender um pouco sobre judaísmo. Esta religião surgiu da tradição de Moisés, crê em um só deus chamado YHWH, possui um pacto com essa divindade, crê que a Torá foi dada por ele. Os judeus guardam o sábado, não possuem sacerdotes atualmente, os rabinos são os dirigentes do culto, a sinagoga é o seu templo. O Antigo Testamento é a sua bíblia, chamada de Tanakh. Mas contém os protocanônicos.

O pacto divino foi estabelecido com Abraão. Os fundamentos da fé estão na lei dada por Moisés. O judaísmo surgiu somente a partir do exílio. Além da Tanakh, os judeus possuem comentários bíblicos com o Talmud e a Mishná.

O corpo doutrinário do judaísmo não possui as noções de céu, inferno, corpo, alma e nem vida após a morte. Os adeptos esperam um messias e um mundo futuro de paz que acontecerá neste mundo mesmo.

13. Estrutura da literatura bíblica

Para efeito de estudo, o AT é subdividido em: Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), História deuteronomista (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis), Obra do cronista (Crônicas, Esdras e Neemias), Literatura profética (Isaías, Jeremias, Ezequiel etc), Literatura sapiencial (Jó, Provérbios), Poéticos (Salmos).

No NT, temos: Sinóticos, Mateus, Marcos, Literatura Lucana (Lucas e Atos), Literatura Paulina (cartas de Paulo), Cartas católicas (Tiago, Pedro, Judas), Literatura Apocalíptica (Apocalipse de João) e Literatura Joanina (Evangelho de João, cartas de João).

VOCABULÁRIO TEOLÓGICO II

CÂNON: Lista de livros considerados inspirados por Deus.

CRONISTA: Quem escrever crônicas ou histórias.

DIDÁTICO: Próprio para ensinar, instruir.

GÊNERO: Tipo ou modo de um texto, considerando seu propósito.

LITERATURA: Conjunto de livros produzidos por uma sociedade; arte de escrever.

NARRATIVA: O ato de contar um fato por escrito.

PENTATEUCO: Os cinco primeiros livros do AT.

SAPIENCIAL: Que contém reflexões de sabedoria.

PLANO DE ESTUDO MENSAL

1. O que se entende por revelação, inspiração e inerrância?

2. Por qual motivo os livros deuterocanônicos foram rejeitados?

3. Compare uma Bíblia católica com uma Bíblia evangélica.

4. Ler os seguintes textos bíblicos:

a) Gênesis 1-2: A origem da humanidade.

b) Gênesis 12, 1-9: A vocação de Abraão.

c) Êxodo 3, 1-12: A vocação de Moisés.

d) Êxodo 3, 13-15: A revelação do nome de Deus.



[1] Usaremos as abreviaturas AT para Antigo Testamento e NT para Novo Testamento.

[2] No texto grego aparece a palavra theopneustos para dizer inspirado. O sentido é “soprado por Deus”.

[3] Inerrância diz-se do fato de não conter erros.

[4] Deuterocanônico significa “da segunda lista” e protocanônico “da primeira lista”.

[5] Genealogia é uma lista de parentesco.