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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Buscando a essência do Cristianismo:

O QUE É FUNDAMENTAL NO CRISTIANISMO?

José Aristides da Silva Gamito[1]


H
á alguns anos escrevi um pequeno artigo com um título bem provocador “Cristianismo como Projeto Fracassado”. Na ocasião, eu questionava se de fato o cristianismo conseguiu colocar em prática seu projeto espiritual, moral e social. Mesmo na Idade Média, auge da hegemonia cristã na Europa, tal projeto não se consolidou. O que vimos foi na verdade uma decadência moral por causa da estreita relação entre poder eclesiástico e poder político: Causas da Reforma.
A novidade moral do cristianismo acabou se perdendo muitas vezes por causa da institucionalização de dogmas e de práticas. Historicamente, as instituições e as doutrinas foram se complexificando e os fiéis acabaram tomando como prioridade os valores mais diversos que eram exaltados em determinada época. Por isso existem tantas correntes dentro do cristianismo.
Mas não deveria o cristianismo ser simples? É claro, exigente! Porém, simples. Não é isso que lemos nos Evangelhos? Jesus sintetiza a Lei (Torah) e os Profetas (Neviim) no imperativo “Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam” (Mateus 7, 12). O núcleo do Evangelho diz respeito às relações interpessoais. Elas são a base de uma sociedade. Se não houver essa revolução interna em cada ser humano, na base das relações interpessoais, não haverá comunidade fraterna, justa e solidária.
O problema é que existe uma maioria esmagadora de movimentos cristãos que têm como foco principal de sua ação alguns valores que não são fundamentais no cristianismo. Há uma preocupação excessiva com milagres, prosperidade, ação do Diabo. Mas que diferença prática isso faz no mundo? Em Mateus 12, 30-31, Jesus enfatiza que não há mandamentos maiores do que “amar a Deus e ao próximo como a si mesmo”. Portanto, a mudança que o fiel cristão tem de fazer internamente e expressar externamente nas relações constituem o núcleo do cristianismo.
É justamente nesse terreno que o cristianismo perde força. A excessiva preocupação com rituais gera um cristianismo desfocado, deslocado do seu eixo moral. E ocorre uma frequente dissociação entre moral e vida. Se entre cristãos existem desigualdade social, miséria, pobreza, gente explorada, é porque esse projeto não está consolidado. E isso é fato! Portanto, temos um cristianismo “fora do centro”. Quando se perde o fundamental por distração ou má-fé, recorre-se a ritualismos, ao culto dos espetáculos para satisfazer o que se espera do cristianismo. A relação com Jesus é muito egocêntrica, não deixa espaço para incluir o outro. Na prática, isso não passa de “pseudocristianismos”!




[1] Professor de Filosofia. E-mail: joaristides@gmail.com.