UMA
INTRODUÇÃO ÀS EPÍSTOLAS PAULINAS
1. Introdução
Os escritos atribuídos a Paulo ocupam a
maior parte do Novo Testamento.Embora, não tenha convivido com Jesus, acabou se
tornando muito influente. Pedro, Tiago e João confiaram a Paulo a evangelização
dos povos de língua grega, os gentios (Gl2, 7-10). Depois ele empreendeu suas
viagens missionárias. É dentro deste contexto de relação com as igrejas que
fundou ou que passou a conhecer que surgem as epístolas.
As epístolas foram escritas dentro de um
período de 50 a 64. Com a informação da Epístola aos Gálatas, sabemos que Paulo
trabalhou pelo menos 14 anos na evangelização (Gl 2,1). Mas seu ministério durou
mais do que isso.13 epístolas foram atribuídas ao apóstolo Paulo. Embora, nem
todas foram escritas diretamente por ele. São elas Romanos, 1ª e 2ª Coríntios,
Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses,1ª e 2ª Tessalonicenses
(eclesiásticas), 1º e 2º Timóteo, Tito (pastorais) e Filêmon (pessoal). Algumas
epístolas foram perdidas, dá-se conta de quatro.
Porém, apenas as seguintes epístolas são
consideradas autênticas: 1ª Tessalonicenses (escrita por volta de 50 depois de
Cristo), Gálatas (53), 1ª Coríntios (53 a 54), Filipenses (55), Filêmon (55),
2ª Coríntios (55 a 56)) e Romanos (57). Há dúvidas se Colossenses e 2ª
Tessalonicenses foram mesmo escritas por Paulo. Neste estudo consideraremos a
teologia de Paulo apenas a partir deste corpus
mais reduzido.
2. Teologia paulina
Cristologia de Paulo. A
cristologia diz respeito ao modo como se compreende Cristo do ponto de vista da
fé. Paulo chama Jesus de Senhor (Fl 2, 11). E o considera pré-existente,
partícipe da obra da criação (1 Cor 8, 6). Jesus é subordinado a Deus pai (1
Cor 15, 20). O reino de Cristo tem uma função temporária até o fim dos tempos
(1 Cor 15, 24). Cristo tinha condição divina, mas ao encarnar, esvaziou-se
(kénosis) de sua condição e se assumiu como homem (Fl2, 6-11).[1]Jesus
é o filho de Deus a quem ele ressuscitou dos mortos (1 Ts 1, 9-10).
A salvação pela fé.Paulo
elabora uma doutrina foi muito influente no cristianismo. Trata-se da doutrina
da justificação. A salvação vem pela fé (Rm1, 16-17). Quando a vida de Jesus a
graça foi derramada sobre todos e justificou a todo. A obediência de um só
homem trouxe vida e justificação para todos os homens (Rm5, 12-20). A graça
torna o homem livre do domínio da Lei: “estamos livres da Lei” (Rm 7, 6).
Cristo colocou o homem em outro patamar, ele não está mais sujeito ao pecado e
à morte (Rm8, 1-2). Esta nova condição o leva a ser considerado filho adotivo
de Deus (Rm8, 14-16).A Lei teve uma função preparatória para a vinda de Cristo.
A fé em Cristo trouxe a plena liberdade. Não há mais distinção entre judeu e
grego (Gl3, 23-29). No fim, a Lei se resume ao amor: “Não devais nada a
ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o outro cumpriu a Lei” (Rm 13,
8).
Sacrifício
vicário de Cristo. Paulo entende a morte de Cristo como um
instrumento de realização da vontade de Deus. Ele ensina que Cristo morreu
pelos pecados dos homens. A morte de Cristo realizou uma reconciliação entre
Deus e os homens (Rm 5, 10). A vinda de
Cristo remiu todos aqueles que estavam sob o jugo da Lei e mudou a condição de
todos com a adoção filial (Gl4, 1-11).
A
ressurreição de Cristo e dos homens. Paulo levanta alguns
testemunhos m favor da ressurreição de Jesus. A maior esperança que o
cristianismo anuncia é a imortalidade. Ele diz que depois de morto, Jesus
apareceu aos apóstolos e a mais de 500 pessoas (1 Cor 15, 3-8). A ressurreição
de Cristo é tomada como prova da ressurreição de todos os homens (1 Cor 15,
20-22). Cristo é o protótipo da vida e Adão, o protótipo da morte. O apóstolo
esboça uma antropologia do homem ressuscitado. As suas características são um
corpo incorruptível, glorioso, forte e espiritual (1 Cor 15, 42-43).
A
diversidade de dons. Paulo considera que a comunidade forma
um conjunto do qual todos os membros têm seu valor e sua função. Algumas
comunidades primitivas valorizam muito as manifestações do subconsciente como o
êxtase profético e a fala inconsciente de línguas. Tais práticas eram
incorporadas ao culto. A comunidade de Corinto tinha esses costumes. O contexto
da 1ª Epístola aos Coríntios indica que o dom de línguas era muito valorizado
naquela comunidade. Então, Paulo esclarece que desejar os dons do Espírito é
louvável, porém, tudo deve acontecer da caridade (1 Cor 14,1). Ele critica o
uso ostensivo do dom de línguas e diz que o dom da profecia é mais elevado. E
que a língua sem interpretação não edifica ninguém (1 Cor 14, 2-25).
Parusia.
Os mortos ressuscitarão assim como Jesus. Na vinda de Jesus, os mortos
precederão aqueles que estiverem vivos. Estes vivos serão arrebatados ao céu.
Esta é a esperança que Paulo transmite aos tessalonicenses (1Ts 4, 13-18). Em
seguida, ele diz que ninguém saberá a data da vinda de Jesus por isso ele
insiste na vigilância constante (1Ts 5, 1-11).
3. Moral paulina
A
moral paulina tem como critério a liberdade. O fato de ele ter abandonado a
preferência da lei em favor da graça, ele gerou uma moral segundo a liberdade
na responsabilidade. Porém, sua moral não consiste num sistema fechado, há
muitas proibições também.
A
máxima paulina impactante é a seguinte: “Tudo me é permitido, mas nem tudo
convém. Tudo me é permitido, mas não me deixarei escravizar por coisa alguma”
(1 Cor 6, 12). O homem tem a liberdade de usufruir de todos os bens da criação,
mas é conveniente evitar aquelas coisas que podem escravizá-lo.
Algumas
listas de vícios aparecem. Em 1 Cor, 9-10, Paulo condena o comportamento dos
idólatras, adúlteros, depravados, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos e
dos bêbados. Ele sujeita esses comportamentos à herança do Reino de Deus.
Há
muitas recomendações a respeito de relações sexuais. Ele condena a relação com
prostitutas (1 Cor 6, 15-16). Paulo imagina a virgindade como um estado ideal
(1 Cor 7,7-8), tece-lhe diversos elogios (1 Cor 7, 36-37), porém, recomenda o
casamento para que as pessoas não vivessem na fornicação (1 Cor 7,2).Parece que
Paulo considerava a vida de casado difícil (1 Cor 7, 27-28). A normatização de
Paulo para a comunidade paulina não condena a separação de casais. O que ela
não recomenda é a segunda união (1 Cor 7,10).
4.
Normas cultuais
Como
norma religiosa, há recomendações específicas para os cristãos gentios e diz
respeito ao costume da época. Paulo os desobriga da circuncisão (1 Cor 7,
17-19) e proíbe o consumo das carnes que eram utilizadas nos sacrifícios pagãos
(1 Cor 8, 7-13). Paulo compreende que os alimentos não afastam e nem aproximam
ninguém de Deus, mas que comer carnes de rituais pagãos poderia levar um
cristão a enfraquecer sua fé e voltar aos antigos costumes.
Este
tema das carnes imoladas aos ídolos faz transparece a posição de Paulo em
relação aos alimentos. Ele afirma: “Não são os alimentos que nos aproximam de
Deus, se deixamos de comer, nada perdemos; e, se comemos, nada lucramos” (1 Cor
8, 8). Em outra passagem, ele diz claramente que se pode comer de tudo que se
vende no mercado (1 Cor 10, 25-26). O cristianismo das comunidades paulinas não
tinha uma dieta de motivação religiosa. Isto significa que até as proibições
alimentares do Antigo Testamento não foram acolhidas por eles. Na antiguidade, havia grupos que se preocupavam
com isso. Os cristãos encratistas tinham restrições alimentares. Eram
vegetarianos.
Dentre
as normas cultuais, há também a argumentação de Paulo em favor de um salário
para aqueles que se dedicam ao evangelho. Quando discorre sobre isso, o
apóstolo informa que não aplica este procedimento a si, ele pregava
gratuitamente (1 Cor 9, 8-14).No capítulo 11, Paulo critica a pressa de alguns
em comerem a ceia antes dos outros (1 Cor 20-21).
O debate sobre o dom de línguas leva Paulo a nos
informar como eram as assembléias. Havia cânticos, ensinamentos, revelação. Os
profetas tomavam a palavra. E só deveria falar em línguas se tivesse o
intérprete (1 Cor 14, 26-33).Quanto às mulheres nas assembléias, a recomendação
é de que usem o véu (11, 2-16) e não façam uso da palavra (1 Cor 14, 34).
Referências
EAGLEN, Jason. The presence of
“high” christology in the letters of Paul the apostle. Master´s
thesis.University of Georgia, 2006.
RAMOS, José
Augusto, PIMENTEL, Maria Cristina de Sousa, FIALHO, Maria do Céu; RODRIGUES,
Nuno Simões (coords.).Paulo de Tarso:Grego
e Romano, Judeu e Cristão. Coimbra: FCT, 2002.
[1]
EAGLEN, Jason. The presence of “high”
christology in the letters of Paul the apostle. Master´s thesis. University
of Georgia, 2006, p. 2-3.
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