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domingo, 24 de novembro de 2019

Apocalipse de João


APOCALIPSE DE JOÃO
Introdução
Com exceção de trechos dos evangelhos sinóticos, o Apocalipse de João é o único deste gênero no Novo Testamento. Porém, se formos buscar na literatura judaica e na literatura cristã nascente encontraremos outros textos apocalípticos. Os apocalipses são um tipo de literatura que se caracteriza pelas revelações sobre os últimos acontecimentos da história, sobre os segredos do além-mundo com descrições do céu e do inferno e concepções sobre a origem do mal e do pecado.[1]
Os apocalipses cristãos são uma continuidade do tipo de literatura judaica iniciada pelos livros de Daniel e de Enoque. Na biblioteca de Nag Hammadi, foram encontrados 5 apocalipses: Apocalipse de Paulo, 1º Apocalipse de Tiago, 2º Apocalipse de Tiago, Apocalipse de Adão e Apocalipse de Pedro.
O Apocalipse está estruturado do seguinte modo: 1. Prólogo (Ap 1, 1-3); I – As cartas às Igrejas da Ásia (1, 4-2, 22); II – As visões proféticas (4, 1-22, 21).

Contexto e interpretação do Apocalipse

O Apocalipse de João é interpretado de diferentes modos. Há a interpretação futurista que quer ver no simbolismo no livro predições para o fim dos tempos. É um tipo de leitura que ignora o contexto histórico e social da Igreja do século I. Já a interpretação pretérita enxerga os acontecimentos descritos como relativos à situação dos cristãos no século I. A interpretação idealista se desprende de uma cronologia específica e vê toda a narrativa e os símbolos como aplicável a qualquer época e situação dos cristãos.
A abordagem interpretativa que seguimos é a de que, como todos os apocalipses, as narrativas simbólicas dizem respeito ao tempo do autor. Para fins litúrgicos, esta interpretação é atualizada e aplicada ao momento do leitor. Porém, se sentido preferível será sempre aquele do contexto imediato do autor.
A perseguição relatada no Apocalipse pode ser o reflexo daquela que os cristãos da Ásia sofreram por parte do imperador Domiciano por volta de 95. As igrejas sofriam uma dupla perseguição. Havia uma externa levada a termo pela política romana e uma interna que vinha das heresias que dividiam os cristãos. No começo, os cristãos eram vistos como membros de uma seita judaica. Porém, os judeus tradicionais não os aceitavam por causa da crença na divindade de Jesus. Além dos desentendimentos que havia entre cristãos e judeus, havia as divisões internas nas comunidades cristãs. Havia grupos que ensinavam doutrinas diferentes.
O Novo Testamento está cheio de relatos de perseguição. Os evangelhos já previnem este tipo de situação que os cristãos enfrentariam. Os Atos dos Apóstolos relatam as primeiras perseguições por partes das autoridades judaicas. As cartas procuravam, em muitos pontos, encorajar os cristãos a enfrentarem as perseguições.
Em Romanos 8, 35-16, Paulo  coloca a tribulação, a perseguição e a espada entre as ameaças que pesavam sobre eles. Ao encorajar sua audiência, Paulo afirma que “os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós” (Rm 8, 18). As reclamações sobre perseguição e tribulação aparecem também em Hebreus 10, 32-34 e 1 Pedro 1,6. 2, 12-15.
O Apocalipse inteiro trata de uma revelação dentro de um tempo de tribulação. Desde a antiguidade, os Pais da Igreja como Ireneu de Lião e Justino Mártir têm localizando este livro cronologicamente dentro do final do reinado de Domiciano. Contemporaneamente, esta tese é aceita.[2]
Se tomarmos como chave de interpretação, seguindo a tradição interpretativa que é utilizada também no apocalipse de Daniel, teremos: “São também sete reis, dos quais cinco (Augusto, Tibério, Gaio, Cláudio e Nero) já caíram, e o outro ainda não veio, mas quando vier deverá permanecer por pouco tempo (Tito).” (Ap 17, 10). O autor continua: “A Besta que existia e não existe mais é ela própria o oitavo (Domiciano) e também um dos sete (retorno a Nero)” (Ap 17,11). Esta identificação coincide com o histórico de perseguições os cristãos por parte dos imperadores romanos.[3]

A estrutura do Apocalipse

Introdução (1,1-20):
Introdução e saudação: 1,1-8;
Visão do Ressuscitado: 1,9-20.
I. Cartas às Sete Igrejas (2,1-3,22):
Sete cartas às igrejas: Éfeso, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia.
II. Revelação do sentido da História (4,1-22,5):
O trono de Deus: 4,1-11;
Sete selos: 5,1-8,5;
Sete trombetas: 8,6-11,19;
Sete sinais: 12,1-15,4;
Sete taças: 15,5-16,21;
Queda da Babilônia: 17,1-19,4;
Triunfo de Cristo. Nova Jerusalém: 19,5-22,5.
Epílogo (22,6-21).

As sete Igrejas da Ásia

João estando na ilha de Patmos, escreve às sete igrejas da Ásia: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia (Ap 2, 1-3, 22).  Elas são dirigidas ao anjo da comunidade e são apresentadas como palavras de Jesus. Em cada carta, Jesus recebe um título. A estrutura começa com a expressão “Conheço tua conduta”. Em seguida, João descreve as qualidades da igreja, exceto, a de Laodiceia que é considerada morna (Ap 3, 16). Todas terminam com uma promessa ao vencedor.[4]

As visões proféticas

Trono de Deus. As visões proféticas de João tem início quando uma voz do céu lhe chama para o alto para junto do trono de Deus. Esta cena de visão de tronos é típica da mística judaica. O trono de Deus estava rodeado de 24 tronos e os que estavam entorno davam glória ao que estava sentado no trono (4, 1-11).
Sete selos. Havia um livro com sete selos e deveria ser aberto, mas não encontravam ninguém digno de fazê-lo. Finalmente, encontra o Leão da tribo de Judá que fora considerado digno de abrir o livro. A cada selo aberto corresponde uma revelação. 1º Selo - Conquista mundial, Cavalo branco; 2º Selo – Conflito e guerra, Cavalo vermelho; 3º Selo – Fome e escassez, Cavalo preto; 4º Selo – Morte, Cavalo Amarelo; 5º Selo – Visão do martírio, ou mártires; 6º Selo – Perturbações “cósmicas” ou sinais do céu, e a marcação dos 144 mil (6, 1-12); 7º Selo – Soar das sete trombetas dos sete anjos e o Juízo Final (8, 1-5).
Sete trombetas. Depois da abertura do sétimo selo, sete anjos munidos de sete trombetas começam a tocá-las. A cada trombeta, uma desgraça se abate sobre a terra. Depois do sétima trombeta, vêm sete sinais. 1ª trombeta – lançamento de saraiva e de fogo sobre a vegetação da terra (8,7); 2ª trombeta – fogo que transformou o mar em sangue (8,8); 3ª trombeta – uma tocha cai sobre os rios e as fontes de água (8,10); 4ª trombeta – escurece a lua, o sol e as estrelas; 5ª trombeta – traz um “ai”, a abertura do poço do abismo; 6ª temporada – segundo “ai”, a matança dos homens e 7ª trombeta – terceiro “ai”, abertura do templo de Deus.
Sete sinais. João vê alguns sinais. 1º sinal – uma mulher vestida de sol (12,1); 2º sinal – um dragão com sete cabeças (12,3); 3º sinal – uma besta saindo do mar (13,1); 4º sinal – outra besta saindo da terra (13,11); 5º sinal – o cordeiro com os 144 mil (14,1); 6º sinal – um anjo com o evangelho eterno e o 6º sinal que abre a próxima seção – sete anos com sete pragas (15,1).
Sete taças. São derramadas sete taças da ira de Deus (16,1). 1ª taça - apareceram chagas no corpo de quem tinha o número da besta; 2ª taça – os mares se converteram em sangue; 3ª taça – os rios se transformam em sangue; 4ª taça – o sol queimou os homens; 5ª taça – a escuridão tomou conta do reino da besta; 6ª taça – o rio Eufrates secou e a 7ª taça – um terremoto destruiu todas as cidades do mundo.
Depois destes eventos, um anjo leva João para ver o julgamento da Babilônia (17,1). A grande cidade que reina (Roma) é a nova Babilônia (17,18). Vem o anúncio da destruição da Babilônia (18, 9). No capítulo 20, João recebe a revelação que Satanás seria preso por mil anos e depois disso teria um reinado curto (20, 1-3). Toda a tribulação termina com o julgamento das nações (20,11).
A Jerusalém celeste. O capítulo 21 soa como o desfecho feliz de um filme de terror. João vislumbra um tempo utópico que aconteceria depois das perseguições dizendo “vi um céu novo e uma terra nova”. Este novo tempo envolve uma comunhão entre Deus e a humanidade.  Neste tempo que se confunde com um lugar (“Jerusalém nova”), tudo será renovado. Não existirão mais o sofrimento e nem a morte (Ap 21, 4). A cidade nova é toda bela, ornada de pedras preciosas. Os seus alicerces são os doze apóstolos (Ap 21, 9-21). Porém, nela não existe mais templo porque o próprio Deus habita nela. Não há mais noite e nem dia. Os seus habitantes serão apenas aqueles que foram inscritos no livro da vida (21, 22-17). Os pecadores serão atirados no lago ardente (21,8).Na nova cidade, há alimento o tempo todo, as árvores frutificam todo mês (22,1).

ANEXO
Uma proposta de tradução dos símbolos do Apocalipse[5]

I – ANIMAIS

Besta – o mal.
Cordeiro – Jesus.
Quatro seres vivos – representam a criação, a vida que flui de Deus.

II – NÚMEROS

3 ½ (metade de 7) -  período de tempo definidamente limitado.
4 significa o mundo criado.
6 significa imperfeição.
666 é uma intensificação de 6, como o significa imperfeição, 666 quer dizer uma tripla imperfeição. Portanto, o mal total. Segundo a interpretação com base na gematria, este número corresponde à soma das letras do nome KAISAR NERON.
7 significa a totalidade das obras, número completo,
10 significa tudo de.
1000 significa tudo, absolutamente tudo de.
12 é empregado para povo de Deus - as 12 tribos no Antigo Testamento, 12 apóstolos no Novo Testamento.
144 é uma combinação de 12s (12 x 12) e 10s (10 x 10 x 10) significa todo, absolutamente todo o povo de Deus nos tempos do Antigo e do Novo Testamento.

II - CORES
Preto é fome.
Amarelo é morte.
Branco é vitória.

IV – OBJETOS/LUGARES/PERSONAGENS

Armagedom - no Apocalipse significa literalmente a montanha de Megido, nome simbólico para a batalha final entre Deus e as forças do mal.
Babilônia - representa Roma e seus imperadores que perseguiram os cristãos.
Livro ou pergaminho - é o registro celeste.
Tigelas - carregam coisas do céu à terra e vice-versa.
Dragão - representa o diabo.
Olho - é símbolo para conhecimento.
Gogue e Magogue - representam a totalidade do mundo anti-cristão.
Meretriz - prostituta ou fornicadores representam pessoas de dentro da Igreja que deveriam ser fiéis ao Senhor e sua Palavra, ou seja, eles são os “falsos profetas”.
Virgem - cristãos fiéis que se recusam a cultuar outra coisa que não a Trindade.
Chifres - representam poder, como os chifres de um animal.
Incenso - é a oração.
Jóias - representam glória.
Candelabros - são as igrejas.
Terra representa as religiões não-cristãs organizadas.
Água viva - equivale à vida e verdade.
Mar - representa governo humano maléfico.
Selos - designam algo como propriedade privada. Na antiguidade, porções de argila pressionadas por anéis de sinete ou selos cilíndricos eram usadas para atestar propriedade. Para selar um pergaminho, uma porção de argila era colocada sobre os barbantes que amarravam o pergaminho e depois carimbado.
Água - estagnada representa a morte.
Trombetas - anunciam um evento.
Lagar - retrata o juízo de Deus e o inferno. No lagar o suco ou sangue das uvas era pisoteado para se fabricar vinho. No juízo de Deus, o sangue dos pecadores é derramado na morte eterna sob o fardo esmagador da sua ira.


[1]SCHNEEMELCHER, Wilhelm. New Testament Apocrypha. Volume Two: Writings Related to Apostles; Apocalypses and Related Subjects. Louisville; Kentucky: Westminster John Knox Press, 2003, p. 549.
[2] P.86.
[3] P. 87.
[4] OLIVEIRA, Emanuel Messias de. Apocalipse. (Apostila). Guanhães, 2005, p. 10.
[5] KLAUS, Ken. Revelando as coisas assustadoras no livro do Apocalipse. Disponível em: <https://www.editoraconcordia.com.br/web-files/uploads/site/downloads/guia-de-estudos-do-dvd-apocalipse.pdf> Acesso em 23 nov. 2019.

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