NATUREZA
E FUNDAMENTOS DA IGREJA
José Aristides da Silva Gamito[2]
1. Definição e origem da eclesiologia
A
teologia é uma área de estudos muito ampla. Para facilitar o estudo dos
diversos assuntos que dizem respeito à teologia, geralmente, nós a dividimos em
áreas menores. A eclesiologia é uma delas. É justamente aquela área que estuda
os fundamentos e o significado da Igreja. Esta divisão da teologia é chamada de
eclesiologia porque a palavra ekklesía
que dizer “Igreja”, logia “estudo”.
Portanto, estudo sobre a Igreja. É uma palavra da língua grega, a língua em que
foi escrito o Novo Testamento. Originalmente, ekklesía significa “assembleia convocada”.
A
eclesiologia surgiu em um momento que a Igreja passou a ser contestada. Nos
primeiros mil anos da era cristã não houve necessidade de estudar a Igreja de
modo específico. A Igreja era uma realidade comum, aceita sem contestações. A
primeira obra sobre o assunto é de Tiago Viterbo intitulada de “Sobre o Regime
Cristão”, escrita entre 1301 e 1302. No
século 16, surge a obra “Sobre a Verdadeira Igreja” que se torna referência
sobre o estudo sobre a Igreja até o Concílio Vaticano II.
2. Eclesiologia bíblica
O
período de formação da Igreja passa por duas etapas: Período do discipulado e o
período apostólico. Com Jesus os discípulos aprendem a mensagem do Evangelho e
os fundamentos da Nova Aliança. Depois da morte de Jesus, eles assumem de vez o
apostolado, ou seja, tornam-se testemunhas e pregadores da mensagem de Jesus.
Portanto, a Igreja nasce sob o testemunho dos apóstolos. Neste sentido, dizemos
‘Igreja Católica Apostólica’.
2.1. Período
do Discipulado: O ministério de Jesus com os apóstolos
Depois de ter sido batizado, Jesus inicia
seu ministério. Supõe-se que seu tempo de pregação pública tenha durado três
anos. Partindo de um convite à conversão, Jesus forma seus discípulos depois de
chamá-los ao seguimento com três ações: a) Conjunto de parábolas sobre o reino;
b) Uma releitura da Lei. C) Conjunto de sinais (milagres, na linguagem de João).
Jesus
escolhe 12 apóstolos e os envia a pregar o Evangelho. A missão dos apóstolos é a seguinte:
Proclamar a proximidade do Reino, curar os doentes, purificar os leprosos e
expulsar os demônios. A primeira missão dos apóstolos restringe-se “às ovelhas
perdidas da casa de Israel” (Mt 10, 5-15). Porém, o mesmo Jesus já avisa sobre
as consequências deste caminho: Muitas perseguições.
Jesus
delega poderes a este grupo: “... tudo quanto ligardes na terra será ligado no
céu” (Mt18, 18). E de certo modo, confia
a Pedro um lugar à frente da Igreja (Mt 16, 18). Neste trecho, ocorre a expressão
“minha Igreja”.
Todo
o processo de formação do grupo dos 12 começa com o convite: “Segui-me e eu vos farei pescadores de
homens” (Mt 4, 19). Jesus convida
seus discípulos e os ensina durante o período que compreende desde seu batismo
até a sua morte. Em Mateus 10, são citados os nomes dos apóstolos que compõem
um grupo de 12, talvez em alusão às 12 tribos de Israel. Em Lucas 10, 1,
fala-se de 70 discípulos, outra menção diz 72[3]. Poderíamos
dizer que no período do discipulado há uma comunidade judaica seguidora de
Jesus com uma estrutura mínima de diferença em relação aos judeus. A Igreja
surgirá, de fato, com os apóstolos.
Após
a morte de Jesus, começa o período de apostolado, ou seja, os apóstolos
impulsionados pelo acontecimento de Pentecostes anunciam o Evangelho a outras
pessoas. Este é o mandamento de Jesus: “Ide,
portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em
nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo
quanto vos ordenei” (Mt 28, 19). A partir deste momento a comunidade cristã
começa a se organizar e se expandir.
2.2. Período
Apostólico: As primeiras comunidades cristãs
2.2.1.
A Igreja nos Atos dos Apóstolos
O
evento de Pentecostes é decisivo para o nascimento da Igreja (At 2, 1-13). Os
apóstolos se animam e se sentem responsáveis pela propagação do Evangelho. O que motiva qualquer cristão neste período é
o aumento do número de conversões, o fervor da fé e o espírito de fraternidade.
A primeira comunidade surge em torno de Jerusalém, em seguida Damasco e
Antioquia se despontam como importantes centros de propagação da fé, e foi
marcada por algumas características:
a)
Assiduidade ao ensinamento dos apóstolos: Esses ensinamentos são a mensagem salvífica do Evangelho que diminui a
ênfase na Lei e foca mais a atenção na fé em Jesus Cristo. O centro da pregação
é que Jesus é o Senhor (Ressuscitado e Vivente) que trouxe a redenção de todos
os povos.
b) Observância da comunhão fraterna: A partilha de bens e serviços é uma marca
distintiva da comunidade, a comunhão entre as pessoas é o cumprimento do novo
mandamento.
c) Partilha
do pão: A eucaristia é o centro da organização da vida e do tempo na
comunidade primitiva e é a forma de rememorar a presença de Cristo no meio
deles. Todo o primeiro dia da semana era dia de reunião (Dia do Senhor:
Domingo).
d) Vida de oração (At 2, 42): Os
primeiros cristãos seguiam um ritmo de oração semelhante ao costume judaico.
Vários momentos durante o dia. O capítulo 8º da Didaquê[4]
recomenda que se reze três vezes ao dia. Além disso, a oração, o jejum e a
esmola são práticas comuns.
Desde
o início a Igreja se sustenta sob a autoridade dos apóstolos. Esta é uma
propriedade fundamental da Igreja, a
apostolicidade[5].
Algumas exigências são necessárias para pertencer à Igreja como a conversão
e o batismo. A própria pregação de Jesus se inicia com o duplo imperativo:
Conversão e fé (Mc 1, 15).
A fé
cristã tem como fundamento o anúncio (kerigma).
Os novos cristãos ouvem o anúncio, creem, arrependem-se e são batizados. Toda a
verdade da fé é sustentada pela autoridade dos apóstolos, portanto, eles são
testemunhas do Evangelho: “O que vimos e
ouvimos vo-lo anunciamos para que estejais também em comunhão conosco” (1 Jo 1,
3).
2.2.2.
O processo de independência da Igreja Primitiva
Os
primeiros passos da Igreja estão registrados nos Atos dos Apóstolos. As cartas
paulinas registram os ensinamentos e a disciplina que as primeiras comunidades
adotam para seu funcionamento. Após a
Ascensão de Jesus, os discípulos foram impulsionados pelo Espírito a continuar
a obra de Jesus. Por isso, o primeiro convite às nações pagãs a aderirem ao
Evangelho é chamado de kerygma
“anúncio”.
No começo o termo apóstolos se refere aos Doze. Alguns traços
importantes da organização da Igreja nos Atos dos Apóstolos: A substituição de
Judas por Matias (At 1, 21-26). Mais tarde os apóstolos vão constituindo novos
sucessores.
Da
pregação dos apóstolos surge uma comunidade em Jerusalém. Os primeiros cristãos
constituíam inicialmente um grupo a mais do judaísmo, “seita do nazareno”. Com a expansão da pregação dos apóstolos
outras comunidades judaicas fora da Palestina também foram se formando. Pelo menos,
no começo, havia dois grupos de cristãos:
I. Os judeus
cristãos: Eram fiéis
seguidores das tradições judaicas e da lei de Moisés e frequentavam o templo, a
diferença é que acreditavam em Jesus como o Messias. Eles falavam o aramaico e
viviam em Jerusalém e em outras partes da Palestina, eram de origem rural.
II. Os cristãos
helenistas: Eles seguiam a lei
de Moisés com menos rigor, viviam nas colônias judaicas a redor do mar
Mediterrâneo, eles falavam o grego e eram de origem urbana.
A
estrutura inicial da Igreja era muito simples. Era uma Igreja doméstica. Os
cristãos se reuniam aos domingos nas casas e celebravam a Eucaristia. A
liturgia era formada pela escuta dos ensinamentos dos apóstolos, pela partilha
do pão e pela comunhão dos bens. Com os conflitos surgidos com os judeus
tradicionais, cada vez mais os cristãos foram se diferenciando e tornando-se um
grupo independente.
Inicialmente,
a comunidade helenista cristã não pensou em uma organização eclesiástica porque
considerava a vinda de Jesus imediata. E de modo semelhante, a comunidade cristã
judaica não pensou na estrutura própria porque se sentia pertencente à
estrutura do judaísmo (BULTMANN, 1980).
No
período de 66 a 70, a Palestina entra em guerra com os romanos. Os cristãos que
já haviam se distanciado do judaísmo e que eram perseguidos por reconhecer
Jesus como Messias, se separam definitivamente do judaísmo. Um momento decisivo
para esta ruptura é a conclusão que os apóstolos chegam que para ser cristão
não era necessário ser judeu. (CORTEZ & DÍAZ, 2000).
A
controvérsia em torno da necessidade da circuncisão para ser cristão é decidida
em uma reunião em Jerusalém. Pedro sustenta que a salvação se dá pela graça e
não pela circuncisão (At 15, 1-12). Este
foi o Concílio de Jerusalém, importante momento de organização da Igreja primitiva.
2.1.3.
Período Pós-apostólico
Historicamente, o período de consolidação da Igreja está dividido em
período apostólico (30-65 d. C.) e período subapostólico (66-100 d. C.). Este
segundo poderia ser chamado também de pós-apostólico. Nesta época alguns
fatores contribuíram para um momento decisivo de consolidação da Igreja: A
morte dos apóstolos, o fechamento das sinagogas aos cristãos e a separação
radical entre cristianismo e judaísmo.
Na
comunidade de Jerusalém se estabeleceu como estrutura de poder o modelo do
Conselho Sinagogal. Já nas comunidades paulinas e joaninas a autoridade já era
carismática, havia vários mediadores que dependiam das necessidades. Nas
comunidades petrinas, a autoridade provém dos apóstolos. Nas cartas pastorais,
os chefes de família tendem a assumir a liderança. No Novo Testamento ainda não
há uma definição precisa para a hierarquia da Igreja. Mais tarde, nos textos de
São Clemente e na Didaquê aparecem dois ministérios: Os bispos e os diáconos.
Por fim, os presbíteros e diáconos são compreendidos como ministérios que
auxiliam e estão em torno do bispo.
3. Compreensão de Igreja nas diferentes épocas da história
3.1. A
consolidação da Igreja na história
A
Igreja como nós a conhecemos hoje não se fez num dia. As primeiras comunidades
foram organizadas e conduzidas pelos apóstolos e ganharam contornos aos poucos.
Com a morte dos últimos apóstolos, a Igreja começou a consolidar algumas
tradições que iriam dirigir o rumo dela: Definição do cânon das Escrituras;
consolidação dos ministérios e da hierarquia; fixação dos dogmas em concílios e
o consenso em torno do primado romano.
Essas
medidas organizativas foram fundamentais para que a Igreja sobrevivesse. A
jovem Igreja possuía dois opositores: Internamente,
havia os hereges que tendiam em dividi-la; externamente,
o Império Romano queria aniquilá-la. As divisões internas da Igreja foram
combatidas com a autoridade de certos bispos e diversos defensores da fé. Havia várias interpretações sobre a doutrina
cristã, os concílios fixaram-nas pondo fim às controvérsias (as heresias). Por
outro lado, vários apologistas defenderam a Igreja diante do Império Romano.
Os
pais da Igreja tiveram uma atuação decisiva na preservação da doutrina dos
apóstolos. A primeira geração conviveu de modo direto ou indireto com os
apóstolos. Alguns são chamados de padres
apostólicos e são justamente aqueles que vieram imediatamente após os
apóstolos. O Concílio de Niceia (325 d. C.) é um acontecimento marcante neste
período de consolidação da Igreja. Tanto
é que os padres são divididos em antenicenos (antes do Concílio), nicenos
(durante o Concílio) e pós-nicenos (depois do Concílio).
São
os principais padres da primeira geração Clemente de Roma, Inácio de Antioquia
e Policarpo de Esmirna. Inácio foi bispo de Antioquia, terceira cidade mais
importante do Império Romano. Policarpo é uma testemunha importante dos tempos
apostólicos segundo Tertuliano ele chegou a conhecer o apóstolo João. Clemente
é considerado o primeiro pai da Igreja.
Portanto,
os pais da Igreja foram autoridade que defenderam e preservaram a doutrina dos
Apóstolos. Até o século 4º a Igreja
viveu um período de instabilidade com pressões internas e externas. Houve
muitas heresias e divisões, perseguições por parte do Império Romano. Outra
figura que aparece neste período são os mártires e os confessores. São cristãos
que testemunharam a fé até o fim. A Igreja se firmou sob o sangue dos mártires. Recordando, os pais da Igreja, mártires e
confessores afirmaram a autenticidade da Igreja contra os hereges e o Império
Romano.
Finalmente,
em 313 os cristãos conseguiram a liberdade religiosa através do Édito de Milão
dos imperadores Constantino e Licínio. Neste período, acontecem os primeiros
concílios que põem fim a dúvidas sobre a doutrina cristã: Concílio de Niceia
(325), Constantinopla I (381), Éfeso (431) e Calcedônia (451). Estes concílios
definiram a doutrina sobre Maria como Mãe de Deus, as naturezas divina e humana
de Cristo e sobre a Trindade. O texto mais conhecido desta época que resume a
doutrina da Igreja é o Símbolo Niceno-constantinopolitano.
3.2. A
Eclesiologia dos Pais da Igreja
Imediatamente
à morte dos apóstolos, a Igreja se sustenta com uma classe de cristão muito
importante: Os pais (ou padres) da Igreja. Estes homens foram escritores e catequizadores
que passaram a refletir sobre a fé cristã, a escrever sobre seus princípios e a
defendê-la diante da sociedade romana.
Nesta época, não houve reflexão organizada sobre a Igreja que pudéssemos
chamar de eclesiologia, mas podemos observar em vários sermões a referência à
autoridade dos apóstolos, a sucessão apostólica, a unidade da Igreja Católica.
3.3. A
Igreja na Idade Média e na Idade Moderna
Do
mesmo modo na Idade Média e Idade Moderna a Igreja é entendida de modo tão
natural que não há uma reflexão específica sobre sua natureza. Depois de Tiago
Viterbo (século 14), surge mais tarde o tratado “Sobre a Verdadeira Igreja” que
lança as bases das reflexões sobre a Igreja até o Concílio Vaticano 1º. Esta
reflexão se organiza em três vias (caminhos):
A) Via
da história: Ao examinar os
documentos antigos conclui-se que a Igreja sempre foi uma sociedade, visível,
permanente e hierarquicamente organizada.
B) Via
das notas distintivas: Cristo
dotou a Igreja de quatro notas distintivas: Unidade, santidade, catolicidade,
apostolicidade.
C) Via
da experiência: A presença
divina na Igreja confirma a sua transcendência (adotada pelo Concílio Vaticano
1º).
No Concílio
Vaticano 1º, o elemento que é posto em evidência é a infalibilidade papal. Por
meio deste dogma o concílio quis assegurar que a legitimidade e autoridade da
Igreja estão no ministério do papa que é a continuação histórica da autoridade
de Pedro recebida diretamente de Cristo.
4. As marcas distintivas da Igreja
É comum em todo estudo sobre a Igreja apresentar
as quatro qualidades distintivas dela: Unidade, santidade, catolicidade e
apostolicidade. Estes adjetivos foram incorporados no Símbolo de Constantinopla
em 381 e são reflexões originais de São Cirilo de Jerusalém. A liturgia
conservou costume de professar a fé durante as missas, no texto a assembleia
repete que acredita na Igreja Uma, Santa, Católica e Apostólica.
4.1. Igreja
Una
A
Igreja se define pela unidade dos fiéis em torno de Cristo professando uma só
fé, um só batismo, um só Deus, uma só esperança em um só corpo e um só espírito
(Ef 4, 4-5). A unidade é a qualidade fundamental da Igreja porque o grande
desejo de Jesus foi a comunhão de todos os seus seguidores: “Pai santo, guarda-os em teu nome que me
deste, para que sejam um como nós” (Jo 17, 11). A unidade da Trindade é o
modelo de comunhão desejado para a Igreja. Quando se fala desta
unidade/comunhão não se deve confundir com uniformidade. A Igreja sempre
conteve em si a diversidade. Ela é comunhão de Igrejas. Cipriano de Cartago na
obra De Unitate Ecclesiae (A Unidade
da Igreja) usa a imagem da luz para descrever a unidade da Igreja, muitos são
os raios, mas uma só é a luz.
4.2. Igreja
Santa
A
Igreja é constituída de pecadores. A santidade é porque todos participam da
graça de Jesus, são chamados à santidade e conservam em si o auxílio necessário
para ser santo. É um conceito teológico. Isso não significa que não haja
pecados individuais e reais na Igreja.
4.3. Igreja
Católica
A
Igreja nasceu aberta a todos os povos. Diferentemente do judaísmo que era uma religião
nacional, o cristianismo surge como uma proposta universal. A palavra católico quer dizer “universal, para
todos”.
4.4. Igreja
Apostólica
A
apostolicidade revela a natureza da Igreja. Ela nasce sob a autoridade do
testemunho dos apóstolos que aprenderam diretamente de Jesus o Evangelho e são
autoridades morais e históricas para fundar, expandir e conduzir a Igreja. Não
é possível fala de Igreja autêntica sem levar em conta sua origem apostólica.
5. Os conceitos fundamentais da Igreja
Na
definição da Igreja deve se observar duas dimensões principais: Mística e
social. A Igreja é uma comunidade mística, mas também uma instituição
histórica, terrena. Portanto, reduzi-la a um só aspecto empobrece a compreensão
que a Tradição sempre teve a seu respeito.
a)
Sacramento: De acordo com o Concílio Vaticano 2º a Igreja é sacramento de salvação.
A afirmação quer dizer que a Igreja é o sinal visível de união de todos os
povos em torno de Cristo, o autor da salvação.
b)
Comunhão: A Igreja possibilita a comunhão com Deus através da Palavra e dos
sacramentos e a comunhão dos cristãos entre si. A Igreja é comunhão de Igrejas
locais. A figura bíblica para entender este conceito é a videira. Jesus é a
videira e todos os cristãos são ramos, todos os ramos dependem de sua seiva, quem
se desliga dela, perece (Jo 15, 4-5).
c)
Povo de Deus: A Igreja é entendida como a comunidade dos batizados. São
características importantes da Igreja: A pessoa se torna membro dela pela fé e
pelo batismo; o mandamento que rege o povo de Deus é o amor; e é um povo
sacerdotal profético e régio.
d)
Corpo de Cristo: A Igreja une em si a dimensão humana e divina
da comunidade dos batizados (fiéis e hierarquia). Ela é sociedade organizada e
ao mesmo tempo corpo místico. Seu chefe é Cristo.
e)
Tradição viva: A Igreja continua conservando e transmitindo os
ensinamentos dos apóstolos. Uma tradição foi confiada à Igreja e deve ser
continuamente transmitida.
f)
Sociedade: Em hipótese nenhuma deve se descuidar do aspecto social da Igreja. Ela é
sociedade visível e estruturada hierarquicamente.
g)
Instituição: Ela se define por uma estrutura e por certas atividades permanentes
que permitem identificá-la. É instituição humana.
6. Fundamentos eclesiológicos do Vaticano II
O
Concílio Vaticano II trouxe uma nova compreensão de Igreja. Aliás, recuperou
uma antiga compreensão. A Igreja deixa de ser entendida como hierarquia e passa
compreender todo o povo de Deus. Esta é a novidade do principal documento do
concílio sobre a Igreja Lumen Gentium
(Luz dos Povos). Pelo documento Gaudium
et Spes (Alegria e Esperança) outra preocupação nova da Igreja é com o
mundo externo.
7. Problemas atuais de eclesiologia
Nas
últimas décadas, observamos na Igreja do Brasil quase uma disputa de espaço
entre dois modelos eclesiológicos. As Comunidades Eclesiais de Base/Teologia da
Libertação e o movimento pentecostal católico representado pela Renovação
Carismática começaram a polarizar a eclesiologia. Esta diversidade é
importante, mas precisa saber dialogar. Analisemos as duas tendências.
7.1. A
eclesiologia das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)
O
surgimento das CEBs na América Latina foi um despertar da Igreja que a fez se
situar no cenário político, econômico e social dos países latino-americanos. A
percepção de que não poderia ser Igreja na América Latina sem a opção
preferencial pelos pobres foi um grande salto. Muitas características da Igreja Primitiva
foram recuperadas como a partilha dos bens, a Igreja doméstica e a apresentação
do Evangelho como processo de libertação.
As
críticas que pesaram sobre o movimento foi as de identificação com partidos
políticos. Se os processos sociais são tão dinâmicos identificar a mensagem
cristã com a hegemonia de um partido poderia significar o risco de reduzir a
Igreja.
7.2. A
eclesiologia dos movimentos pentecostais
O movimento pentecostal representado pela Renovação Carismática
Católica, por sua vez, devolveu a Igreja em tempos de adaptação ao mundo
moderno, a busca de uma espiritualidade intimista, recuperação de práticas
tradicionais de oração e um conjunto de comportamentos que havia sido
ultrapassado, em parte, pela renovação do Concílio Vaticano II
As críticas que pesaram sobre este
movimento foi a supervalorização do além em prejuízo da realidade
sócio-econômica do fiel. Portanto, em todos os casos faltaram ponderações e
equilíbrios.
REFERÊNCIAS
BULTMANN, Rudolf. Teología
Del Nuevo Testamento. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1980.
FORTE, Bruno. La
Iglesia: Icono de la Trinidad. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1992.
FUENTE, Eloy Bueno de
la. Eclesiología.
Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1998.
ROTEIRO DE
ESTUDOS INDIVDUAIS
Para o melhor aprofundamento dos temas, o estudante deverá proceder
individualmente ou em grupo procurando ampliar e fixar os assuntos estudados
através de algumas leituras:
- Para tomar conhecimento aos poucos da
linguagem da teologia faz-se necessário aprender o significado de algumas
palavras: Estude o Vocabulário
Teológico.
- Reflexão sobre o retrato da primeira
comunidade cristã: At 2, 42-47; 4, 32-35.
- Leitura recomendada sobre as qualidades
distintivas da Igreja: Catecismo da Igreja Católica,
números de 811 a 865. A mesma
leitura pode ser feita no Catecismo Jovem da Igreja Católica
(YOUCAT): Números de 121 a 145.
- Textos do Vaticano II: Lumen Gentium e Gaudium et Spes.
[1] Texto-base para as aulas de Eclesiologia do Curso de Teologia da
Paróquia de Santa Margarida, com início a 16 de março de 2013.
[2] Graduado em filosofia, teologia e especialista em educação, residente em
Conceição de Ipanema (MG). Contato: joaristides@gmail.com
/ Acesse: www.teologiapopular.blogspot.com.br.
[4] A Didaquê foi o primeiro catecismo da Igreja. Ele foi escrito entre os
anos 60 e 70 d. C. Ele contém um resumo do ensinamento dos apóstolos.
[5] Tertuliano, escritor cristão do século 2º, expressava: “Ecclesia ab apostolis, apostoli a Christo,
Christus a Deo” (A Igreja a partir dos apóstolos, os apóstolos a partir de
Cristo e Cristo de Deus).
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