O
QUE É FUNDAMENTAL NO CRISTIANISMO?
José
Aristides da Silva Gamito[1]
H
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á alguns anos escrevi
um pequeno artigo com um título bem provocador “Cristianismo como Projeto
Fracassado”. Na ocasião, eu questionava se de fato o cristianismo conseguiu
colocar em prática seu projeto espiritual, moral e social. Mesmo na Idade
Média, auge da hegemonia cristã na Europa, tal projeto não se consolidou. O que
vimos foi na verdade uma decadência moral por causa da estreita relação entre
poder eclesiástico e poder político: Causas da Reforma.
A
novidade moral do cristianismo acabou se perdendo muitas vezes por causa da
institucionalização de dogmas e de práticas. Historicamente, as instituições e
as doutrinas foram se complexificando e os fiéis acabaram tomando como
prioridade os valores mais diversos que eram exaltados em determinada época.
Por isso existem tantas correntes dentro do cristianismo.
Mas
não deveria o cristianismo ser simples? É claro, exigente! Porém, simples. Não
é isso que lemos nos Evangelhos? Jesus sintetiza a Lei (Torah) e os Profetas (Neviim)
no imperativo “Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles
lhes façam” (Mateus 7, 12). O núcleo do Evangelho diz respeito às relações interpessoais.
Elas são a base de uma sociedade. Se não houver essa revolução interna em cada
ser humano, na base das relações interpessoais, não haverá comunidade fraterna,
justa e solidária.
O
problema é que existe uma maioria esmagadora de movimentos cristãos que têm
como foco principal de sua ação alguns valores que não são fundamentais no
cristianismo. Há uma preocupação excessiva com milagres, prosperidade, ação do
Diabo. Mas que diferença prática isso faz no mundo? Em Mateus 12, 30-31, Jesus enfatiza
que não há mandamentos maiores do que “amar a Deus e ao próximo como a si mesmo”.
Portanto, a mudança que o fiel cristão tem de fazer internamente e expressar
externamente nas relações constituem o núcleo do cristianismo.
É
justamente nesse terreno que o cristianismo perde força. A excessiva
preocupação com rituais gera um cristianismo desfocado, deslocado do seu eixo
moral. E ocorre uma frequente dissociação entre moral e vida. Se entre cristãos
existem desigualdade social, miséria, pobreza, gente explorada, é porque esse
projeto não está consolidado. E isso é fato! Portanto, temos um cristianismo “fora
do centro”. Quando se perde o fundamental por distração ou má-fé, recorre-se a
ritualismos, ao culto dos espetáculos para satisfazer o que se espera do
cristianismo. A relação com Jesus é muito egocêntrica, não deixa espaço para
incluir o outro. Na prática, isso não passa de “pseudocristianismos”!