O USO DE PRÁTICAS DE REVELAÇÃO NO MEIO NEOPENTECOSTAL
1. O termo Revelação
No
meio teológico tradicionalmente o termo “revelação” refere-se à manifestação do
plano salvífico de Deus à humanidade através do povo de Israel. É um evento que
se encerra com os últimos apóstolos. Não há um fechamento à manifestação de
Deus, porém, entende-se que tudo que Deus teria de revelar aos homens e que
seria útil à salvação deles já foi feito. Jesus é o centro desta revelação.
Porém,
os movimentos neopentecostais têm utilizado esse termo de maneira constante no
sentido de revelações particulares. Essas revelações nem sempre atendem ao caráter
comunitário da revelação. Dizem respeito a situações muito particulares da vida
dos membros da Igreja e, às vezes, se prestam a mera curiosidade e se confunde
com práticas de adivinhação. Um fato estranho à ortodoxia cristã.
As revelações se inserem no
movimento das igrejas neopentecostais que têm como características práticas
como “ênfase
nos dons espirituais, especialmente os mais extraordinários (línguas,
profecias, curas); forte emotividade, especialmente nos cultos; ênfase à pessoa
e atividade do Espírito Santo; valorização da figura do líder (o “ungido do
Senhor”); preocupação constante com as forças do mal; e grande ênfase ao
conceito de “poder.”[1]
Essas manifestações
são frutos do cristianismo do século XX, mas ocorreram também na Igreja
Primitiva. De modo geral, o cristianismo ortodoxo não supervalorizou essas
práticas porque se aproximavam muitos de religiões mistéricas, pagãs. Além da
espontaneidade dos movimentos carismáticos ser perigosa para a unidade do poder
da Igreja.
2.
As revelações e a
ortodoxia
O apelo constante a
revelações tem como conseqüência a relativização das escrituras e abertura para
práticas de adivinhação dentro de cultos cristãos.
Matos esclarece ao
comentar a relação dessas práticas como a Bíblia:
O apelo a revelações: obviamente, se alguém
acredita que Deus continua a revelar-se de maneira direta, imediata, isso tende
a relativizar as Escrituras; elas não mais são a revelação final de Deus, a
única regra de fé e prática para o crente. Quando um pregador diz “o Senhor me
revelou ou o Senhor me mostrou isso ou aquilo”, tudo pode acontecer, e é
proibido questionar, pois é palavra do Senhor.[2]
Essas revelações particulares
podem formatar a prática cristã de maneiras muito diversas e diferentes em
relação à Bíblia. Se o fiel pode dizer uma verdade incontestável em nome de
Deus, muitas decisões perigosas podem ser surgir desta espontaneidade.
As revelações ou
profecias colocam em dúvida a seriedade do ministro quando não se cumprem:
(f) Profecias: outra prática comum de certos
grupos neopentecostais são as profecias, supostamente recebidas mediante
revelações. Com freqüência, tais profecias expressam meros desejos ou
expectativas do “profeta” em relação a uma pessoa ou grupo, mas são proferidas
em tom dogmático, como se fossem tão inspiradas quanto a Bíblia. Muitas vezes,
as profecias não se cumprem, os seja, são falsas profecias, o que faz de seus
anunciadores falsos profetas, mas ninguém se lembra de pedir desculpas, de
reconhecer que errou, que não estava falando a palavra do Senhor.
Além de desautorizar a revelação
bíblica, o ministro acaba sendo revestido de um poder de interpretar a vontade
de Deus. Essa espontaneidade pode gerar muita confusão porque os critérios de
recepção da veracidade da revelação são subjetivos. Se atendem ao desejo do
fiel são verdadeiros, se não atendem, são falsos.
Portanto, essas revelações particulares
se caracterizam como subjetivas, egocêntricas e mágicas. Enquanto, a revelação
no sentido tradicional se refere a uma manifestação de Deus com destinação
comunitária e que é interpretada pela Igreja e não simplesmente pela vontade do
fiel.
[1] MATOS, Alderi de Souza. O Desafio do Pentecostalismo e as Igrejas
Reformadas. Disponível em:
http://www.mackenzie.br/7090.html.
Acesso em: 20. set. 2016.
[2]
MATOS, 2016, s.p.