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quarta-feira, 29 de julho de 2009

1º Encontro

INTRODUÇÃO À TEOLOGIA

Curso de Teologia Popular: Conceição de Ipanema, 2009

Conceito de teologia

A palavra teologia[1] vem da língua grega e significa “estudo sobre Deus”. O termo foi criado pelo filósofo Platão (428-347 antes da Era comum). Agostinho (354-430 da Era comum) deu-lhe um sentido cristão. Atualmente, é entendida como a reflexão sistemática dos fundamentos da revelação. Portanto, o seu objeto de estudo não é Deus em si. Porque se considerarmos a infinitude divina tal tarefa é impossibilitada pela finitude da inteligência humana (HARBIN, 2001). Karl Barth afirma que só é possível falar de Deus de forma comparativa, a partir da experiência do homem. Às vezes, a teologia é chamada de ciência. Esta classificação só pode ser feita considerando-a apenas como uma forma de investigação racional da fé. A sua matéria de estudo não é empírica.

A disciplina estuda a realidade sobre Deus e sua relação com o homem. A revelação é o ponto de partida e de delimitação da reflexão teológica. A revelação possui seu lado divino porque é Deus quem se revela, e um lado humano, pois é o homem que acolhe a verdade revelada. E na história, os homens da cada época refletem sobre o sentido do que foi revelado limitado pela sua compreensão. Portanto, existe uma só revelação, mas existem muitas teologias, pois os homens são diversos e diversas são as culturas.

Objetivo

O objetivo principal do estudo da teologia é o amadurecimento da fé, e consequentemente, o crescimento espiritual daquele que crê. No mundo contemporâneo recheado de avanços de toda natureza é necessário que as pessoas tenham consciência das suas escolhas, dentre elas está a religião. Esta deve ser a primeira a ser bem fundamentada e esclarecida. O apóstolo Pedro admoesta dizendo que é preciso que o cristão esteja pronto “a dar as razões da sua esperança a todo aquele que a pedir” (1Pd 3,15). O cristianismo se encontra dividido hoje por herança de uma época deficiente de conhecimento bíblico e de esclarecimento do que significava essa religião.

Tipos

A teologia baseia sua reflexão na liberdade de pensamento e na experiência de cada lugar e cada época. Devido a essa flexibilidade existem vários tipos de teologia, às vezes, chamados de escolas. Dois modos de se fazer teologia são destacados: a teologia clássica – que se restringe a assuntos estritamente religiosos e confessionais; e a teologia dinâmica – que se abre à reflexão sobre diversos aspectos da religião, de modo crítico e ecumênico. No Brasil, destacam-se a teologia pentecostal que se prende ao modelo clássico e a teologia da libertação que une de modo crítico fé e vida, cujo principal teólogo[2] é Leonardo Boff.

Método

Quando se fala de método, estamos dizendo da técnica ou do modo de estudar teologia para que haja garantia de uma reflexão de qualidade que seja classificada como teológica. A teologia é uma disciplina baseada no raciocínio, análise e discussão a partir dos problemas da fé, tendo como base o texto bíblico[3] e a tradição eclesial[4]. Há a liberdade para se refletir sobre todo assunto, mas o princípio delimitador é a revelação. A verdade em teologia é o que é consoante ou harmônico com a revelação.

Divisões

A teologia possui muitos séculos de história, e como resultado do esforço dos teólogos de organizar todo o conhecimento sobre a doutrina cristã chegou a até nós um esquema de divisões da teologia por áreas. Cada área estuda um aspecto da revelação.

A teologia se divide em dois ramos: especulativo e prático.

O grupo especulativo está subdividido em: Teologia bíblica; Teologia dogmática e Teologia moral. A teologia bíblica inclui a história, a técnica e a interpretação da Bíblia. A dogmática sistematiza e explica as principais doutrinas cristãs. A moral estuda os valores e o comportamento cristão tanto pessoal quanto coletivo.

O conjunto prático se subdivide em: Teologia espiritual, Liturgia, Teologia pastoral e Direito pastoral. A teologia espiritual estuda o processo de santidade do ser humano, a sua vida religiosa. A Liturgia estuda os ritos e seus significados. A teologia pastoral estuda a ação evangelizadora. O Direito pastoral estuda o regimento e as normas da Igreja enquanto instituição.

Subdivisões

De modo harmônico e organizado, cada divisão da teologia possui outros ramos internos chamados de tratados. Dentro da área especulativa, temos: A teologia bíblica é composta de hermenêutica, exegese e teologia. A sistemática possui antropologia, teontologia, cristologia, pneumatologia, mariologia, cosmologia, protologia, soteriologia, eclesiologia, sacramentologia, escatologia, patrologia e história da Igreja.

E dentro do âmbito prático, temos: A liturgia se divide em fundamental e histórica. A pastoral se constitui de teorias e técnicas da evangelização. A espiritual procura compreender o caminho da santidade (mística) e a prática para crescer nele (ascética). O Direito pastoral é estudo das normas que organizam a Igreja, contidas no Direito canônico.

As origens da teologia

As origens da teologia estão na necessidade que os cristãos tinham de defender a fé diante da sociedade do Império Romano durante o período das perseguições (de 64 a 313 da Era comum). Quando as gerações foram se passando e o Evangelho corria o risco de ser mal interpretado, alguns apóstolos escreveram os livros do Novo Testamento para registrar a memória de Jesus. A partir do ano 95, surgiram os primeiros escritos que interpretavam pontos desses escritos ou da fé cristã. Mas somente a partir de 150, aparecem os chamados apologistas[5]. Estes eram filósofos e estudiosos que se convertiam ao cristianismo e não se contentavam com as explicações do senso comum. Eles começaram uma literatura de defesa do cristianismo. O mais antigo que se conhece é Quadrato (HERRERA, pp.4-5).

Depois da liberdade aos cristãos concedida pelo imperador Constantino, a Igreja começou a sistematizar a sua doutrina através dos concílios, e mais escritores foram debatendo esses temas. Então, no século VIII, João Damasceno escreveu a obra “Exposição da Fé ortodoxa”, iniciando-se a reflexão teológica. Assim, fez Pedro Lombardo no século XII, escrevendo “Sentenças”. Mas quem lançou o primeiro texto organizado foi Tomás de Aquino, com a Suma Teológica. No século XIX, a teologia, através dos estudiosos alemães adotou o método científico, tornando-se crítica. Depois do Concílio Vaticano II, o esclarecimento da fé passou a ser interesse de todos, não somente de padres e pastores. Hoje muitos leigos são teólogos.

Problemas teológicos

Sempre quando resolvemos estudar um assunto, estamos em busca de algumas respostas. A teologia possui suas principais perguntas nas quais se inserem os ramos da teologia. Temos as perguntas: Quem somos? De onde viemos? Qual o sentido da vida? Para onde vamos? No caso da teologia, essas respostas são iluminadas pela fé. Esses são os problemas primários. Os secundários provêm da investigação sobre a segurança que o cristianismo nos dá ao responder essas questões.

QUESTÕES EXISTENCIAIS

QUESTÕES TEOLÓGICAS

01

Quem somos?

Somos filhos de Deus em Cristo

02

De onde viemos?

Deus é o princípio de tudo

03

Qual o sentido da vida?

A vida sincera no Espírito

04

Para onde vamos?

Esperamos pela comunhão eterna com Deus

A proposta cristã é umas das respostas em meio a tantas outras. É preciso conhecê-la para poder dialogar sabiamente com as outras.

QUESTÕES EXISTENCIAIS

QUESTÕES CIENTÍFICAS

Quem somos?

Organismo complexo, racional, homo sapiens

De onde viemos?

Dos elementos da natureza/Big Bang

Qual o sentido da vida?

O sentido é construído individual/coletivamente

Para onde vamos?

Retorno indistinto à natureza




[1] Na língua grega, theós “Deus”, logos “discurso, razão, palavra”.

[2] Dá-se o nome de teólogo ao profissional que se dedica ao estudo dessa ciência.

[3] O material recomendado para essa primeira fonte é uma boa tradução da Bíblica auxiliada por bons comentários bíblicos.

[4] A tradição eclesial é conjunto de tudo aquilo que a Igreja ensinou e viveu desde a antiguidade. Para se conhecer a tradição é bom ter em mãos: Catecismo da Igreja Católica e Compêndio do Vaticano II.

[5] Apologista ou apologeta significa “defensor”, nesse caso, defensor da fé cristã.

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