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domingo, 8 de setembro de 2019

8º - Literatura Profética


LITERATURA PROFÉTICA

8.1. Introdução

A Literatura Profética envolve profetas de vários períodos: a) Os profetas do século VIII que são Amós, Oseias, Jonas, Isaías e Miqueias; b) Os profetas do final do período pré-exílico e exílico que são Jeremias, Naum, Habacuque, Sofonias e Ezequiel; d) os profetas do período pós-exílico que são Daniel, Joel, Abdias, Ageu, Zacarias e Malaquias[1]. O livro de Daniel será apresentado como profético e apocalíptico.
            A forma literária básica desta literatura é oráculo. O profetismo era um fenômeno religioso comum nas religiões do antigo Oriente. Os 450 profetas de Baal mencionados no 1º livro dos Reis é um exemplo deste hábito fora do culto javista. Durante o período da monarquia havia muitos profetas em Israel, chegando a existir confrarias de profetas. Em 1º Samuel 10 aparece um bando de profetas descendo do lugar alto com seus instrumentos musicais. Estes homens entravam em êxtase embalados pela música e transmitiam suas mensagens.
            Os profetas eram considerados intérprete da palavra de Deus. Eles tinham acesso às mensagens por meio de visões, pela audição ou pela inspiração interior. Mas a única função do profeta não esta. Amós e Oseias no século VIII criticam a situação social da monarquia.  Amós critica a opressão ao pobre, a cobrança de impostos e o crescimento da classe dos nobres. O profeta enumera a situação luxuosa desses nobres: Eles vivem tranqüilos, dormem em leitos de marfim, comem carne, bebem vinho, ouvem música e usam o melhor dos óleos (Am 6, 1-7). Oseias denuncia as idolatrias e as agitações políticas.[2]
            Portanto, os profetas serviam para aconselhar o rei, falar sobre o futuro, mas também para alertar o povo da fidelidade a Javé. Eles faziam duplamente uma crítica religiosa e política de sua época. A visão dos profetas como meros “adivinhos” é reducionista.

8.2. Profetas do século VIII

a)    Amós – Este profetizou durante os reinados de Ozias e de Jeroboão. Atuou no santuário de Betel e na Samaria. O seu livro pode ser dividido em: 1. Julgamento das nações vizinhas de Israel e do próprio Israel (1, 3-2,16), 2. Advertências e ameaças a Israel (3-6), 3. As cinco visões (7-9, 10), 4. Perspectivas de restauração e fecundidade paradisíaca (9, 11-15). Neste livro, o profeta condena a vida corrupta das cidades e as injustiças sociais.
b)   Oseias – Ele atuou no tempo dos reis Ozias, Joatão, Acaz, Ezequias e Jeroboão. Era oriundo do reino do norte. A divisão de Oseias pode ser feita assim: 1. O casamento de Ozeias (1, 2-30, 2. Crimes e castigos de Israel (4-14, 1), 3. Conversão e renovação de Israel (14, 2-10).O período do ministério de Oseis foi marcado por corrupção moral e religiosa, o tema principal de sua mensagem é o amor de Deus desprezado pelo seu povo.
c)    Jonas – É um livro de gênero diferente.  Ele é uma novela sobre a aventura de um profeta desobediente que quer desistir de sua missão e que depois reclama de Deus do sucesso da sua missão. Há aqueles que o classificam como parábola profética ou como conto.[3]O livro contém apenas 4 capítulos e seu enredo segue esta sequência: Yahweh manda Jonas ir a Nínive pregar, mas ele tenta fugir de navio e acaba sendo lançado ao mar (Jn 1, 1-16), ele é engolido por um grande peixe, depois de três dias, é devolvido à terra (2), na segunda chamada de Yahweh, Jonas vai a Nínive, prega e o povo se converte (3), Jonas reclama do sucesso da missão (4).
d)   Isaías – Ele nasceu por volta de 765 antes de Cristo e recebeu a sua vocação no Templo de Jerusalém de anunciar a ruína de Israel e de Judá como punição pelas infidelidades do povo.
A divisão do livro: Parte I - 1. Ruína e restauração de Judá (1–5), 2. Narrativa (6-8), 3. Agentes de bênção e julgamento (9–12), 3. Agentes de libertação e julgamento (40–45), 4. Oráculos contra nações estrangeiras (13–23), 5. Julgamento e libertação de Deus, 6. Sermões éticos (28-31), 7. Restauração de Judá e Davi.
Parte II - 1. Paraíso perdido e recuperado (34–35), 2. Narrativa (36-39), 3. Agentes de libertação e de julgamentos (40-45), 4. Oráculos contra Babilônia (46–48), 5. Redenção através do servo do Senhor; glorificação de pessoas (24–27) de Israel (49–55), 6. Sermões éticos (56-59) e 7. O Paraíso recuperado (55–66).
e)    Miqueias - Este profeta atuou antes da tomada de Samaria até a invasão de Senaquerib. O esboço da obra: Introdução (1, 1), I. Primeira rodada de julgamento e salvação (1, 2–5, 15), A. O julgamento de Deus sobre apostasia e pecado social em Samaria e Judá (1, 2–3, 12), B. Palavra de esperança de Deus para Israel (4, 1–2, 15), II Segunda rodada de julgamento e salvação (6, 1–7, 20), A. A disputa de Deus com Israel (6, 1-8), B. A reprovação de Deus pelos pecados sociais de Israel (6, 9–16), C. O profeta lamenta a condição de Israel (7, 1-7) e D. Salmos de esperança e louvor (7, 8–20).

8.3. Os profetas do final do período pré-exílico e exílico

Nesta seção, apresentaremos Jeremias, Naum, Habacuque, Sofonias e Ezequiel.
a)    Jeremias – O texto abre com o relato da vocação do profeta (1, 4-19). O livro pode ser dividido em: 1. Oráculos dirigidos ao povo de Deus: 1,1-25,14. 2. Oráculos contra as nações estrangeiras: 25,15-38. 3. Relatos biográficos de Jeremias: 26,1-45, 5.4.  Oráculos contra as nações estrangeiras: 46,1-51,64. 5. Apêndice: 52,1-34.
b)   Naum - I. Em 1,9-2,3 há pequenos oráculos dirigidos alternadamente a Judá (1,9-10.12-13; 2,1.3) e a Nínive (1,11.14; 2,2): para Judá fala-se de consola­ção e alegria; a Nínive e ao seu rei anuncia-se o castigo. II. 2,4-3,19 é dedicado à destruição de Nínive. Em 3,8-11 o profeta inclui o exemplo de Tebas, como dissemos, para mostrar que todas as defe­sas da cidade de Nínive são inúteis. O livro termina num cântico fúnebre, apresentando o desastre como consumado (3,18-19).
c)    Habacuque – I. Diálogo entre o profeta e Deus (1,2-2,4), formado por duas queixas do profeta (1,2-4 e 1,12-17) e duas respostas de Deus (1,5-11 e 2,1-4). A pri­meira queixa coloca o problema da justiça: porque triunfam os ímpios? A pri­meira resposta divina não satisfaz o profeta, pois os babilônios acabam por se exceder e são mais cruéis do que os outros. Por isso, o profeta queixa-se de novo (1,12-17), não compreendendo como Deus olha em silêncio para os traidores. A segunda resposta aponta para o cumprimento da pala­vra divina: o profeta recebe a palavra e aguarda o seu cum­primento. II. Maldições contra o opressor (2,5-20): inclui cinco im­precações, con­­de­nando todos os crimes cometidos pela tirania dos poderosos. III. Um salmo (3,1-19) que celebra o triunfo defi­nitivo de Deus na Natu­reza e na História.
d)   Sofonias – I. O Dia do Senhor em Judá (1,2-2,3), um dia de juízo universal, tenebroso e terrível, que afeta principalmente Judá. II. Oráculos contra as nações (2,4-3,8), vizinhas de Judá, e um último (3,1-8) dirigido contra Jerusalém. III. Promessa de restauração (3,9-20). É uma mensagem de alegria pela presença do Senhor em Jerusalém e pelo «resto de um povo pobre e humilde» (3,12), salvo por Ele.
e)    Ezequiel – I. Vocação para o profetismo: 1,1-3,27; II. Oráculos de ameaça contra Judá e Jerusalém: 4,1-24,27; III. Oráculos contra as nações: 25,1-32,32; IV. Oráculos de salvação para Israel: 33,1-39,29; V. Novo reino, novo templo e novo culto: 40,1-48,35.

8.4. Os profetas do período pós-exílico

Nesta seção, apresentaremos Joel, Abdias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
a)   Joel - I. 1,2-2,27: um desastre agrícola, constituído por uma praga de gafanhotos (1,2-12) e uma grande seca (1,13-20), fazem o profeta pensar em calamidades maiores. Em 2,1-11, a sua imaginação transforma os gafanhotos num exército que vem destruir a cidade. Esta catástrofe nacional é um convite à conversão (2,12-17), que proporciona a resposta de Deus (2,18-27). II. 3,1-4,21: os acontecimentos anteriormente descritos são elevados à categoria religiosa de «Dia do Senhor». Joel, para além da efusão do espírito, joga com três temas: os sinais no céu e na terra (3,3-4; 4,15-16); a salvação de Judá (3,5; 4,16b), manifestada no plano político (4,17) e econômico (4,18), e a condenação das nações estrangeiras (4,1-14).
b)   Abdias - v.1: o título. v.2-14: exortação à luta contra Edom, contra quem é pronunciada uma profecia (v.2-9), por se ter regozijado com a destruição de Jerusalém e ter contribuído para agravar os seus sofrimentos (v.10-14). v.15-21: fala-se do «Dia do Senhor», que trará consigo a ruína de todos os povos e o começo de melhores dias para Israel.
c)    Ageu - 1.° oráculo: 1,1-15; 2.° oráculo: 2,1-9; 3.° oráculo: 2,10-19; 4.° oráculo: 2,20-23.
d)    Zacarias - Introdução (1,1-6): um apelo à conversão. Primeira secção (1,7-6,15): é a secção principal do livro. Apresenta-nos oito visões com breves oráculos disseminados pelo meio daquelas. Segunda secção (7,1-8,23): é um conjunto de oráculos, que surgem numa aparente desordem.
e)    Malaquias - Depois de uma introdução (1,2-5), em que se fala da eleição de Israel, seguem-se alusões às faltas cometidas contra a aliança de Levi pelos sacerdotes e pelos fiéis (1,6-2,9), aludindo-se a um culto uni­versal. Vem, depois, uma série de queixas contra os casamentos mistos e os divórcios (2,10-16). Em seguida, o profeta anuncia “o Dia do Senhor” (2,17-3,5) com a purificação do sacerdócio. As dificuldades que os israelitas experimentam acabarão quando estes voltarem a cumprir os seus deveres cultuais (3,6-15). No “Dia do Senhor” os bons serão recompensados e os maus castigados (3,16-21). Um apêndice (3,22-24) exorta à obser­vân­cia da Lei de Moi­sés e refere uma futura vinda do profeta Elias.



[1] MERRILL, 2009, p. 473-539.
[2]SMITH, Mark S. O memorial de Deus. São Paulo: Paulus, 2006, p. 92-93.
[3]ALEXANDER, T. Desmond. Jonah and Genre. Tyndale Bulletin, v. 36, 1985, p. 35-59.

7º - Literatura Sapiencial


LITERATURA SAPIENCIAL

7.1.  Introdução

Assim como os gregos desenvolveu a filosofia, os hebreus desenvolveram a literatura sapiencial. Não se trata de uma exclusividade dos hebreus, pois, todo o Oriente antigo tinha obras como aquelas. A hokmah (“sabedoria”, em hebraico) é um conhecimento prático do funcionamento da vida baseado na experiência.[1] Ela é marcada por reflexões sobre a situação da vida as pessoas e atitudes recomendadas frente aos acontecimentos. Em Jó, por exemplo, aparece o problema da difícil situação do homem, Deus diante desta situação e como ela pode ser resolvida. Diríamos que na literatura sapiencial, a religião normativa parte para situações concretas harmônicas ou até mesmo contraditórias para dizer o que Deus quer do homem.[2] Esta classificação inclui sete livros: Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico. Incluiremos os salmos na Poesia.
A sabedoria de Israel se insere no amplo contexto do Oriente Próximo. Obras sapienciais são encontradas na Mesopotâmia, Assíria e Egito. A literatura babilônica tem um exemplar similar ao livro de Jó. Ele é o “Poema do justo que sofre”.  É, provavelmente, uma composição do período entre 1.500 a 1.200 antes de Cristo. Um devoto do deus Marduque reclama que a divindade o abandonou, seus amigos também. A temática é a mesma de Jó, uma indagação sobre porque o justo sofre.[3] Na obra “Teodiceia Babilônica”, há também uma reclamação sobre o sofrimento humano, mas desta vez o que incomoda é a pobreza. A indagação sapiencial que entender porque o pobre mesmo sendo justo e fiel a Deus não é socorrido e sofre privações.
Dois contos egípcios também compartilham a temática de Jó: a) O Diálogo  do  desesperado  com  sua  alma (2190-2040  a.C.) – o personagem desiludido com a vida, sentindo-se abandonado pela sua alma, tenta se matar. A alma tenta lhe convencer a viver, falando dos prazeres da vida; b) Os protestos do  camponês  eloquente(séc.  XX-XVII  a.C.) – um camponês vítima de um crime faz longos discursos sobre a justiça.[4]
Aos moldes do Eclesiastes, há um conto acádio chamado de “Um diálogo sobre a miséria humana”. O herói dialoga com o amigo sobre a justiça divina e o sofrimento humano. Ele reclama dos problemas suportados. O livro reflete sobre as conseqüências das virtudes e dos vícios na vida.[5] Estes textos podem ter influenciado a literatura sapiencial de Israel, mas podem representar também o compartilhamento de tradições.

7.2. Jó

            O livro de Jó trata de um dos maiores desafios da vida humana: o sofrimento. A ênfase está no sofrimento dos justos. O enredo do livro gira em torno do drama do homem perfeito que perde a riqueza, a família e a saúde. O livro pode ser estruturado da seguinte forma: 1. O Ataque de Satanás contra Jó (1, 1 a 2, 10), 2. Jó e seus amigos (2, 11; 31, 40), I3. A Mensagem de Eliú (caps. 32-37), 4. A Resposta de Jeová a Jó (caps. 38 a 42, 6) e 5. Conclusão (42, 7-17).
7.3. Provérbios

            Provérbios são uma coleção de máximas de instrução moral. Sua estrutura pode ser apresentada do seguinte modo: 1. Um discurso sobre o valor e a aquisição da verdadeira sabedoria (caps. 1 a 9). 2. Provérbios, intitulados “Os Provérbios de Salomão” (caps. 10.1 a 22,16). 3. Admoestações reiteradas sobre o estudo da sabedoria
intituladas “As palavras dos sábios” (22, 17 a 24, 34). 4. Provérbios de Salomão colecionados pelos homens de Ezequias (caps. 25-29). 5. As instruções sábias de Agur aos seus discípulos, Itiel e Ucal, e as lições ensinadas ao Rei Lemuel por suamãe (caps. 30, 31).

7.4. Eclesiastes

            Eclesiastes ou Qohélet é uma obra do pós-exílio. A obra começa falando da vaidade da vida. Todo o ciclo da vida é decepcionante. A preocupação da obra é saber qual a consequência do bem e do mal praticados. Apesar da vaidade e da brevidade da vida, o livro apresenta uma consolação lembrando das alegrias desta vida
A estrutura do livro pode ser apresentada deste modo: 1. A futilidade do prazer e da sabedoria humana (caps. 1, 2). 2. A felicidade terrestre, seus obstáculos e meios de progresso (caps. 3-5). 3. A sabedoria verdadeira e prática (6, 1 a 8, 15). 4. A relação entre a verdadeira sabedoria e a vida do homem (caps. 8, 16 a 10:20). 5. A conclusão (11, 1 a 12, 14).

7.8. Sabedoria

            Sabedoria é uma obra, geralmente, atribuída a Salomão, porém, sua composição pode ser situada entre 150 e 50 antes de Cristo. Seu ambiente de origem é Alexandria, no Egito. A atribuição a Salomão se deve à sua contribuição no início do gênero sapiencial. Podemos dividir este livro em três partes:
1. A Sabedoria e o destino do homem (1,1-5,23): descreve-se a sorte diversa dos justos e dos ímpios, à luz da fé; sendo a justiça imortal (1,16), Deus reserva a imortalidade aos justos.
2. Elogio da Sabedoria (6,1-9,18): origem, natureza, propriedades e dons que acompanham a sabedoria (7,22-8,1), como personificação de Deus (ver Pr 8; Sir 24); elogio da sabedoria, elevando-a acima dos valores mais apre­ciados neste mundo.
3. A Sabedoria na História de Israel (10,1-19,22): descreve-se a pre­sença e a atividade da sabedoria em toda a História do povo de Israel com espe­­cial incidência sobre o Êxodo (11,1-19,17), em forma de midrash e de con­tras­tes, que caracterizam o estilo desta terceira parte (11,4-15,19; 16,1-4.5-14.15-29; 17,1-18,4; 18,5-25; 19,1-21). Mas o autor também mani­festa conhe­cimentos profundos de outros livros: Génesis, Provérbios, Ben Sira e Isaías. Merece um relevo especial a brilhante polémica contra a idolatria.[6]

7.9. Sirácida

            Sirácida ou Eclesiástico é o único livro do Antigo Testamento que traz o nome do autor: Jesus Bem Sirac. O texto foi escrito em 180 antes de Cristo. O livro contém duas partes, sendo que a primeira tem um estilo sapiencial à semelhança de Provérbios (1-13 e 24-50), e a segunda reflete sobre a obra de Deus na história (42, 15-50, 29).
            Sirácida assim como Jó e Eclesiastes representa uma evolução do pensamento judaico. Eles creem na retribuição, no sentido trágico da morte, mas não sabe com Deus retribuirá aos atos de cada pessoa.  O seu tema principal é a Sabedoria como dom de Deus. Quem teme a Deus, ele concede a sua sabedoria.


[1]VON RAD, Gerhard. Teologia delAntiguo Testamento I, p. 405.
[2]MERRILL, 2009, p. 575-576.
[3] LÍNDEZ, José Vílchez. Sabedoria e sábios em Israel. São Paulo: Loyola, 1999, p. 24.
[4] ONELLA, Edneia Martins. Jó 14,13-17: significado teológico em seu contexto histórico-social. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio, 2013, p. 19.
[5] ONELLA, 2013, p. 21.

6º - Poesia Hebraica do Antigo Testamento


LITERATURA POÉTICA: POESIA HEBRAICA

6.1. Classificação da poesia do antigo Israel

A poesia épica pode ter sido uma forma de transmissão oral das primeiras tradições do Pentateuco. O Cântico de Débora exalta a vitória de guerra contra os inimigos de Israel (Jz5). É um tipo de poema javista pode sido composto por volta de 1.100 antes de Cristo. Hinos para celebrar uma vitória de guerra são encontrados no antigo Egito. Esta poesia épica é encontrada em outro exemplo: o Cântico de Míriam(Ex 15, 1-18).Provavelmente, um poema do século X. O poeta celebra a travessia do mar Vermelho.[1]
As primeiras palavras introduzem o motivo do poema: “Cantarei a Iahweh, porque se vestiu de glória; / ele lançou ao mar o cavalo e o cavaleiro.” Mas a celebração das proezas de Yahweh em favor dos israelitas chega até a conquista de Canaã e até a construção do templo.
Os Oráculos de Balaão são um conjunto de poemas que aparece também no Pentateuco: 1º poema - Nm 23, 7-10; 2º poema –Nm 23, 18-24; 3º poema – 24, 3-9; 4º poema – Nem 24, 15-19; e 5º poema - Nm 24, 20-24.  São oráculos de antes das batalhas. Do mesmo modo que são celebradas as vitórias, há poemas também que antevêem a vitória de um povo e a derrota de outro.[2]
As lamentações são outro subgênero da poesia hebraica. Mas também é uma obra do profetismo no livro “Lamentações”. Uma das mais antigas aparece em 2º Samuel 1, 1927. O autor lamenta a morte de Saul. O maior poema são aqueles chamados de Lamentações.São divididos em cinco poemas. Neste texto, o poeta chora o estado miserável de Jerusalém.
As bênçãos são exemplos de formas literárias com as Bênçãos de Jacó (Gn 49) e as Bênçãos de Moisés (Dt 33). Os dois textos têm em comum uma sequência de desejos, de exaltações e de condenações em relação às doze tribos de Israel.Eles são formas poéticas do período dos Juízes, mas podem ter surgido bem antes. No capítulo 33 do Deuteronômio, há um poema de exaltação do poder de Yahweh atribuído a Moisés. [3]
O Cântico de Davi em 2º Samuel 22, 1-51 é um exemplar de salmo fora da coleção dos livros dos Salmos. Ele é uma versão do Salmo 22. O poeta exalta o cuidado de Yahweh pelo seu fiel adorador. O texto pode ser situado entre os séculos IX e VIII antes de Cristo.[4] Em Habacuque 3, 1-19, há um salmo de exaltação do poder divino.

6.2. Os salmos

            O saltério é uma coleção de cento e cinquenta salmos. Os salmos podem ser classificados em três tipos básicos: os hinos, as súplicas e as ações de graça. São exemplos de hinos os Sl8; 19; 29; 33; 46-48; 76; 84; 87; 93; 96-100; 103-106; 113; 114; 117; 122; 135; 145 a 150. As súplicas podem ser individuais ou coletivas. Como súplicas individuais temos os Sl3; 5-7; 13; 17; 22; 25; 26; 28; 31; 35; 38; 42-43; 54-57; 59; 63; 64; 69-71; 77; 86; 102; 120; 130; 140 a 143. As súplicas coletivas são os Sl 12; 44; 60; 74; 79; 80; 83; 85; 106; 123; 129 e 137. As ações de graças são os Sl 18; 21; 30; 33; 34; 40; 65-68; 92; 116; 118; 124; 129; 138 e 144. Há também alguns gêneros mistos.[5]
            Os salmos trazem títulos com autoria. São notáveis os salmos atribuídos à família de Coré. Muitos salmos são atribuídos a Davi. Os salmos veem de vários séculos e autores diferentes. Eles representam diferentes situações da história de Israel.

6.3. Cântico dos Cânticos: um poema de amor

            Cântico dos Cânticos é um poema lírico.  Seu gênero literário específico é o cântico nupcial (epitalâmio). Este tipo de texto celebra o amor entre um homem e uma mulher. É uma obra do pós-exílio.
Na história de sua interpretação, houve uma alegorização do texto por causa de alguns sentirem que um poema de amor no cânone seria desconfortável. Os judeus o entenderam como o amor de Yahweh por Israel e os cristãos, de Cristo pela Igreja. Orígenes o entendeu com a busca da alma pelo Logos. Porém, a sua literalidade é inegável.  O poema fala do mistério do amor que une o homem à mulher.[6]
A divisão do livro: 1. A noiva nos jardins de Salomão (caps. 1, 2 a 2, 7). 2. As recordações da noiva (caps. 2, 8 a 3, 5). 3. As núpcias (caps. 3, 6 a 5, 1). 4. No palácio (caps. 5, 2 a 8, 4). 5. O lar da esposa (cap. 8, 5-14).


[1]CROSS JR, Frank Moore; FREEDMAN, David Noel. Studies in Ancient Yahvistic Poetry. Grand Rapids; Cambridge: William B. Eerdmans Publishing Co, 1975, p. 3.
[2]CROSS JR; FREEDMAN, 1975, p. 3.
[3]CROSS JR; FREEDMAN, 1975, p. 4.
[4]CROSS JR; FREEDMAN, 1975, p. 4.
[5]Classificação da introdução aos Salmos da Bíblia de Jerusalém (p.858-859).
[6] RONCHEY, Silvia. O Cântico dos Cânticos: a verdade sobre o amor escondida no mais erótico dos livros. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/563157-o-cantico-dos-canticos-a-verdade-sobre-o-amor-escondida-no-mais-erotico-dos-livros-artigo-de-silvia-ronchey>.Acesso em 04 ago. 2019.

5º - História Macabaica


OBRA HISTÓRICA MACABAICA (Ohm)

5.1. Introdução

Os livros de Macabeus narram uma série de eventos do século II antes de Cristo conhecidos como Revolta Macabaica. O primeiro livro cobre os acontecimentos do período entre 175 e 134 antes de Cristo. O segundo volume trata das intrigas do sacerdócio judaico até a revolta por volta de 161.[1]
Os judeus estavam sob o domínio dos persas, mas Alexandre Magno surge e derrota Dario III entre 334 a 331 antes de Cristo. Então, o território dos judeus acaba passando para o domínio helenista.[2]

5.2. A obra dos Macabeus

O livro de 1º Macabeus pode ser dividido da seguinte forma:
1ª parte – Crise e reposta (1,1-2, 7).
2ª parte – Judas, chefe dos Macabeus (3, 1-9, 22).
3ª parte – Jônatas, chefe dos judeus (9, 23-12, 53).
4ª parte – Simão, etnarca dos judeus (13, 1-16, 24).

O livro de 1º Macabeus pode ser dividido da seguinte forma:
1ª parte – Duas cartas e um prefácio (1, 1-2, 32).
2ª parte – Episódio de Heliodoro (3, 1-40).
3ª parte – Helenismo e perseguição sob Antíoco (4, 1-10, 9).
4ª parte – Nicanor (10, 10-15, 39).


[1] HARRINGTON, Daniel. First and Second Maccabees. Minnesota: Liturgical Press, 2012, p. 5-9.
[2] HARRINGTON, 2012, p. 5-9.

4º - Novelas ou Romances Hebraicos


NARRATIVAS DIDÁTICAS ROMANCEADAS: ROMANCES HEBRAICOS

4.1. Introdução

Os livros de Tobias, Rute, Ester, Judite e Jonas representam um gênero literário peculiar no Antigo Testamento. Eles são narrativas didáticas romanceadas.[1] Em outras palavras, são romances da literatura judaica. É importante frisar que os romances hebraicos possuem características distintas do romance contemporâneo.

4.1. As obras

Quanto ao gênero literário, Tobit tem sido classificado de diversas formas. O que há tem comum entre essas tipologias é a constatação de que é uma história fictícia com fins didáticos. O gênero novela é uma sugestão. É uma narrativa fictícia que aproveita um fundo histórico que a diáspora judaica. O termo romance também é sugerido. Às vezes, este termo é evitado por causa de uma conotação negativa.[2]
Tobias ou Tobit pode ser dividido em quatro partes:
1ª parte – Prólogo explicativo da história de Tobit (1, 1-2).
2ª parte –A aflição de Tobit e de Sara (1, 3-3, 17).
3ª parte – A plenitude da vida de Tobit, Ana e Tobias (14, 1b-15).

Ester pode ser dividido em três partes:
1ª parte – O poder e a reivindicação de Nabucodonosor (1-3).
2ª parte – Poder como evidência de Deus (4-7);.
3ª parte –Deus salva Israel por meio de uma mulher (8-16).

O livro de Rute é também como uma novela. As características que ela aponta da novela são a preocupação mais em descrever as situações e os personagens do que os fatos em si e também o amplo emprego de diálogos. Hubbard prefere chamá-lo de conto (short story). Ele salienta que o conto tem interesse em informação histórica e serve para o duplo propósito de entreter e de instruir. Diferentemente da novela, o conto se aproxima da narrativa histórica e tem uma grande semelhança com esta.[3]



[1] ZENGER, Erich. P. 240.
[2]MACATANGAY, Francis M. The Wisdom Instructions of the Book of Tobit.Berlin; New York: De Gruyter, 2011, p. 116-118.
[3] HUBBARD, Robert. The Book of Ruth. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co, 1998, p. 47-48.