LITERATURA
SAPIENCIAL
7.1. Introdução
Assim
como os gregos desenvolveu a filosofia, os hebreus desenvolveram a literatura
sapiencial. Não se trata de uma exclusividade dos hebreus, pois, todo o Oriente
antigo tinha obras como aquelas. A hokmah
(“sabedoria”, em hebraico) é um conhecimento prático do funcionamento da
vida baseado na experiência.[1]
Ela é marcada por reflexões sobre a situação da vida as pessoas e atitudes
recomendadas frente aos acontecimentos. Em Jó, por exemplo, aparece o problema
da difícil situação do homem, Deus diante desta situação e como ela pode ser
resolvida. Diríamos que na literatura sapiencial, a religião normativa parte
para situações concretas harmônicas ou até mesmo contraditórias para dizer o
que Deus quer do homem.[2]
Esta classificação inclui sete livros: Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos
dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico. Incluiremos os salmos na Poesia.
A
sabedoria de Israel se insere no amplo contexto do Oriente Próximo. Obras
sapienciais são encontradas na Mesopotâmia, Assíria e Egito. A literatura
babilônica tem um exemplar similar ao livro de Jó. Ele é o “Poema do justo que
sofre”. É, provavelmente, uma composição
do período entre 1.500 a 1.200 antes de Cristo. Um devoto do deus Marduque
reclama que a divindade o abandonou, seus amigos também. A temática é a mesma
de Jó, uma indagação sobre porque o justo sofre.[3] Na
obra “Teodiceia Babilônica”, há também uma reclamação sobre o sofrimento
humano, mas desta vez o que incomoda é a pobreza. A indagação sapiencial que
entender porque o pobre mesmo sendo justo e fiel a Deus não é socorrido e sofre
privações.
Dois
contos egípcios também compartilham a temática de Jó: a) O Diálogo do
desesperado com sua alma
(2190-2040 a.C.) – o personagem
desiludido com a vida, sentindo-se abandonado pela sua alma, tenta se matar. A
alma tenta lhe convencer a viver, falando dos prazeres da vida; b) Os protestos
do camponês eloquente(séc. XX-XVII
a.C.) – um camponês vítima de um crime faz longos discursos sobre a
justiça.[4]
Aos
moldes do Eclesiastes, há um conto acádio chamado de “Um diálogo sobre a
miséria humana”. O herói dialoga com o amigo sobre a justiça divina e o
sofrimento humano. Ele reclama dos problemas suportados. O livro reflete sobre
as conseqüências das virtudes e dos vícios na vida.[5]
Estes textos podem ter influenciado a literatura sapiencial de Israel, mas
podem representar também o compartilhamento de tradições.
7.2.
Jó
O livro de Jó trata de um dos
maiores desafios da vida humana: o sofrimento. A ênfase está no sofrimento dos
justos. O enredo do livro gira em torno do drama do homem perfeito que perde a
riqueza, a família e a saúde. O livro pode ser estruturado da seguinte forma: 1.
O Ataque de Satanás contra Jó (1, 1 a 2, 10), 2. Jó e seus amigos (2, 11; 31, 40),
I3. A Mensagem de Eliú (caps. 32-37), 4. A Resposta de Jeová a Jó (caps. 38 a
42, 6) e 5. Conclusão (42, 7-17).
7.3.
Provérbios
Provérbios são uma coleção de
máximas de instrução moral. Sua estrutura pode ser apresentada do seguinte
modo: 1. Um discurso sobre o valor e a aquisição da verdadeira sabedoria (caps.
1 a 9). 2. Provérbios, intitulados “Os Provérbios de Salomão” (caps. 10.1 a
22,16). 3. Admoestações reiteradas sobre o estudo da sabedoria
intituladas “As
palavras dos sábios” (22, 17 a 24, 34). 4. Provérbios de Salomão colecionados
pelos homens de Ezequias (caps. 25-29). 5. As instruções sábias de Agur aos
seus discípulos, Itiel e Ucal, e as lições ensinadas ao Rei Lemuel por suamãe
(caps. 30, 31).
7.4.
Eclesiastes
Eclesiastes ou Qohélet é uma obra do pós-exílio. A obra começa falando da vaidade
da vida. Todo o ciclo da vida é decepcionante. A preocupação da obra é saber
qual a consequência do bem e do mal praticados. Apesar da vaidade e da
brevidade da vida, o livro apresenta uma consolação lembrando das alegrias
desta vida
A
estrutura do livro pode ser apresentada deste modo: 1. A futilidade do prazer e
da sabedoria humana (caps. 1, 2). 2. A felicidade terrestre, seus obstáculos e
meios de progresso (caps. 3-5). 3. A sabedoria verdadeira e prática (6, 1 a 8,
15). 4. A relação entre a verdadeira sabedoria e a vida do homem (caps. 8, 16 a
10:20). 5. A conclusão (11, 1 a 12, 14).
7.8.
Sabedoria
Sabedoria é uma obra, geralmente,
atribuída a Salomão, porém, sua composição pode ser situada entre 150 e 50
antes de Cristo. Seu ambiente de origem é Alexandria, no Egito. A atribuição a
Salomão se deve à sua contribuição no início do gênero sapiencial. Podemos
dividir este livro em três partes:
1.
A Sabedoria e o destino do homem (1,1-5,23):
descreve-se a sorte diversa dos justos e dos ímpios, à luz da fé; sendo a
justiça imortal (1,16), Deus reserva a imortalidade aos justos.
2.
Elogio da Sabedoria (6,1-9,18): origem, natureza,
propriedades e dons que acompanham a sabedoria (7,22-8,1), como personificação
de Deus (ver Pr 8; Sir 24); elogio da sabedoria, elevando-a acima dos valores
mais apreciados neste mundo.
3.
A Sabedoria na História de Israel (10,1-19,22):
descreve-se a presença e a atividade da sabedoria em toda a História do povo
de Israel com especial incidência sobre o Êxodo (11,1-19,17), em forma de midrash e de contrastes, que
caracterizam o estilo desta terceira parte (11,4-15,19; 16,1-4.5-14.15-29;
17,1-18,4; 18,5-25; 19,1-21). Mas o autor também manifesta conhecimentos
profundos de outros livros: Génesis, Provérbios, Ben Sira e Isaías. Merece um
relevo especial a brilhante polémica contra a idolatria.[6]
7.9.
Sirácida
Sirácida ou Eclesiástico é o único
livro do Antigo Testamento que traz o nome do autor: Jesus Bem Sirac. O texto
foi escrito em 180 antes de Cristo. O livro contém duas partes, sendo que a
primeira tem um estilo sapiencial à semelhança de Provérbios (1-13 e 24-50), e
a segunda reflete sobre a obra de Deus na história (42, 15-50, 29).
Sirácida assim como Jó e Eclesiastes
representa uma evolução do pensamento judaico. Eles creem na retribuição, no
sentido trágico da morte, mas não sabe com Deus retribuirá aos atos de cada
pessoa. O seu tema principal é a
Sabedoria como dom de Deus. Quem teme a Deus, ele concede a sua sabedoria.
[1]VON RAD, Gerhard. Teologia delAntiguo
Testamento I, p. 405.
[2]MERRILL, 2009, p. 575-576.
[3]
LÍNDEZ, José Vílchez. Sabedoria e sábios em Israel. São Paulo:
Loyola, 1999, p. 24.
[4] ONELLA, Edneia Martins. Jó 14,13-17: significado teológico em
seu contexto histórico-social. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, Rio, 2013, p. 19.
Nenhum comentário:
Postar um comentário