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quinta-feira, 19 de setembro de 2019

A antropologia do Cohélet


A CONDIÇÃO DO HOMEM NA LITERARURA SAPIENCIAL

COHÉLET. O autor do Cohélet desenvolve uma reflexão franca sobre a situação do homem neste mundo. A vida é transitória, tudo se repete, o homem se afadiga e não tira proveito da vida. Viver é uma tarefa ingrata. E o pior de tudo é que o destino do sábio e do tolo é o mesmo. A sabedoria foi um objetivo do autor, mas ele diz que isso também é vaidade (1, 3-17; 2, 14-15).
Como um filósofo epicurista, o Cohélet diz que a felicidade do homem é comer e beber (2, 24). A sua felicidade está em desfrutar do bem-estar e do produto do seu trabalho (3, 12). Mas há outras coisas que incomodam o pregador, como a existência do mal no mundo: “no lugar do direito encontra-se o delito, no lugar da justiça, lá se encontra o crime” (3, 16). Os oprimidos vivem sem esperança, de tal sorte que mais feliz é aquele que ainda não nasceu (4, 3).
A sorte do homem é idêntica a dos animais. Todos caminham para a morte.  Segundo o autor, não há garantias de continuidade e de recompensa: “Quem sabe se o alento do homem sobre para o alto e se o alento do animal desce para baixo, para a terra?” (3, 21). O Cohélet não tem uma expectativa formada sobre a vida futura. A única coisa que resta ao homem é alegrar-se com suas obras.
Uma grande vaidade que é a causa de muitos males é o acúmulo de riquezas. O trabalho penso em troca de uma riqueza insaciável é vaidade (4, 7). Mais vale é busca a companhia dos outros para melhor enfrentar a vida. Mesmo diante deste quadro de esforço mínimo pelas preocupações da vida, o Cohélet aconselha viver de modo prudente.
Ele aconselha no culto buscar mais ouvir do que os rituais. Daí procedem alguns deveres diante de Deus: Ser parcimonioso com as palavras, cumprir as promessas. (5, 1-6).
A ambição pela riqueza é algo insaciável. Quem ama o dinheiro nunca está satisfeito. O Cohélet considera esta preocupação como um grande mal do mundo. Ele critica aqueles que vivem para acumular riquezas. Eles fazem maus negócios. E acabam sem nada (5, 12-16). Outro grande sofrimento com a riqueza é ter muitas coisas e nele poder usufruir delas (6, 1-8).
Uma preocupação que percorre o livro é a de que proveito tira o homem do esforço da sua vida? O Cohélet está cobrando, no auge de sua franqueza, uma retribuição necessária da parte de Deus. Mas ele não tem esta crença. Na vida, ele já viu justos sofrerem e ímpios sobreviverem (7, 16). Assim como justos que são tratados como ímpios e, ímpios como justos (8, 14). Portanto, nem a bondade e nem a maldade garante o destino de um homem. Há um tempo para cada coisa, mas a infelicidade do homem é não saber quando algo vai acontecer (8, 7). Às vezes, nem mesmo a morte serve de lição para os que ficam (8, 10).
Aliás, a morte nivela a todos o bom e o mau (9, 1-4). No capítulo 9, o Cohélet revela o motivo de seu tratamento franco sobre a condição humana. Segundo sua concepção, não há retribuição para ninguém de acordo com suas obras. Os mortos não sabem nada e sua lembrança é esquecida. Eles não participarão de mais anda debaixo do sol (9, 5-6). No Xeol, não existe obra, nem conhecimento e nem sabedoria (9, 10). As obras não são garantidas pelo esforço, são dadas pela oportunidade (9, 11). Portanto, tudo é incerto e o esforço nesta vida é vaidade.

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