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domingo, 29 de setembro de 2019

SUICÍDIO E O JUÍZO DA ÉTICA CRISTÃ



Em que a teologia pode contribuir para o Setembro Amarelo?

Temos de focar na prevenção e não na condenação do suicida.
Quando começa a campanha do Setembro Amarelo, aparece nas redes sociais um assunto muito polêmico que sua compreensão errônea mais atrapalha do que ajuda. Há uma leitura fundamentalista da Bíblia que considera que suicidas perdem a salvação. As pessoas fundamentalistas acabam insistindo nesta interpretação e promovem um grande desserviço para a luta pela prevenção ao suicídio. Este é um exemplo de mau uso da Bíblia. O fundamentalista insiste que quem pensa o contrário está ignorando a Bíblia e que ninguém mais conhece a verdade. São argumentos mais comuns para sustentar a todo custo a condenação moral do suicida. Nesta argumentação, precisamos ter claro que não estamos defendendo o suicídio, estamos argumentando a favor do respeito à memória do suicida.
Primeiro – há personalidades bíblicas que desejaram a morte. Algumas personalidades bíblicas enfrentaram situações difíceis que as levaram a pedir a morte: a) O profeta Elias pediu a Iahweh para que lhe tirasse a vida (1 Rs 19, 4); b) Jó diz que preferia morrer estrangulado a passar pelo sofrimento (Jo 7, 15); c) Moisés lamenta com Iahweh as dificuldades em liderar os israelitas pelo deserto e pede a morte (Nm 11, 14).  São situações humanas. Em todos estes casos, Deus não condena a atitude dessas pessoas, ele, antes de tudo, as encoraja e lhes devolve a esperança.
Segundo – há casos de suicídios na Bíblia. Podemos analisar três casos de suicídio no Antigo Testamento. Em 2 Sm 17, Aquitofel se enforcou por causa de um plano malogrado. Há duas outras situações: Em 1 Sm 31, 1-6, Saul suicida diante da ameaça dos inimigos. Sansão suicida puxando as colunas da casa sobre ele e seus inimigos (Jz 16, 28-30). São suicídios em situação de guerra. Mas mesmo Sansão cometendo um suicídio, ele é incluído no rol dos heróis da fé em Hebreus 11. No Novo Testamento, temos o episódio notório do enforcamento de Judas (Mt 27, 5). Neste caso, a atitude de Judas é mais condenada por ter traído Jesus do que por ter se enforcado.
Terceiro – não há relação entre suicídio e condenação eterna, literalmente, na Bíblia. Não existe nenhuma condenação explícita dizendo “os suicidas não herdarão o reino dos céus”. Quanto aos homicidas, sim, existe claramente uma condenação. As argumentações de condenação do suicida parte de outras premissas. E não de casos e de citações diretas do texto bíblico. Aliás, a posição de Jesus é a de que todos os pecados podem ser perdoados, exceto o pecado contra o Espírito Santo (Mc 3, 28-30). Além disso, o próprio Jesus insiste para que não julguemos os outros (Mt 7,1).
Por último - a misericórdia precisa exceder o juízo. Quando você quer usar a Bíblia para condenar as pessoas, você encontrará muitas razões. De fato, há muitas atitudes que os autores bíblicos condenam e que nossa ética contemporânea também condena. Porém, do ponto de vista da moral de Jesus, temos de propor mais a ajudar do que a condenar: “Sede misericordioso como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 7, 36). Portanto, considerando que as causas do suicídio têm relações patológicas. Não podemos condenar as pessoas por estarem doentes, antes de tudo, precisamos ajudá-las a ser tratar. Está aí este esclarecimento para que se evite o uso da Bíblia para fins indevidos!

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