INTRODUÇÃO
À LITERATURA DO NOVO TESTAMENTO
1.
Introdução
Nesta
seção, pretendemos fornecer uma síntese geral do Novo Testamento. Trataremos o
Novo Testamento com a seguinte divisão literária: 1. Evangelhos Sinóticos
(Mateus, Marcos e Lucas), 2. Literatura joanina (Evangelho de João e as Cartas
de João), 3. Literatura lucana (Lucas – Atos dos Apóstolos, 4. Literatura
paulina (Cartas de Paulo), 5. Cartas Pastorais (1º e 2º Timóteo e Tito), 6.
Cartas Universais (Tiago, João, Pedro e Judas) e 7. Literatura apocalíptica
(Apocalipse de João).
2. A província romana da Palestina
Desde
63 antes de Cristo, a Palestina tinha se convertido numa província romana. O Império
Romano escolheu Herodes I (73-4 a. C.) como o rei vassalo para cuidar do seu
interesse na região. Era uma região politicamente instável. Periodicamente,
surgiam revoltas contra os impostos exigidos pelos romanos. Herodes I era um
político impopular porque representava os interesses dos estrangeiros. Pesava
sobre ele também a acusação de ter profanado o templo de Jerusalém, quando
empreendeu uma reforma e fez alterações que fugia do que estava prescrito na
Lei.
No
tempo de Jesus quem governava a Galileia era Herodes Antipas (20 a. C-39 d.
C.), filho de Herodes I com Maltace. Era um político cruel mandou matar João
Batista instigado por Herodíades. Ele interroga Jesus durante o julgamento, mas
não o condena. Cuza era um procurador de Herodes cuja mulher, Joana, foi
discípula de Jesus.
Enquanto,
Herodes Antipas governava a Galileia; Pilatos (12 a. C. – 38 d. C.) governava a
Judeia. Apesar de não ter condenado Jesus, foi um governador também cruel. Ele
se apoderou do tesouro do templo, mandou executar samaritanos revoltosos.
Depois
da Revolta Judaica de 135, os romanos fundiram a Palestina com a Síria formando
uma única província.
3. Galileia: ambiente de educação de
Jesus
A
região da Galileia envolvia uma área onde se assentavam as antigas tribos de
Zabulon e de Neftali. Jesus era natural de uma região da Palestina cujo povo
era marginalizado pelos judeus. Em João 7, há uma discussão sobre a origem do
messias e uma das opiniões correntes entre os estudiosos da Lei é a de que “da
Galileia não surge profeta” (Jo 7, 52). No mesmo evangelho, há declaração
discriminatória contra a cidade de Nazaré (Jo 1, 46).
A
população galileia era resultante de uma miscigenação com outros povos. Então,
os judeus os consideravam impuros. Além disso, os seus costumes religiosos dos
eram diferentes.[1]Os
judeus achavam os galileus ignorantes e com um sotaque estranho. No episódio da
prisão de Jesus, algumas pessoas que se encontravam lá identificam que Pedro
era um galileu pelo sotaque (Mt 26, 73). No tempo de Jesus, toda a Palestina
falava aramaico, porém, o dialeto da Judeia era diferente daquele da Galileia.
O
aramaico era a principal língua em uso na Palestina. Foi esta língua usada para
na pregação de Jesus. Embora, provavelmente, ele conhecesse o hebraico (Lc4,
16-17). Porém, a partir do século I antes de Cristo, esta antiga língua caiu em
desuso. As Escrituras Judaicas eram lidas na sinagoga em hebraico. O episódio
narrado por Lucas dá entender que Jesus lia hebraico. Como o grego era a língua
franca de todo o Mediterrâneo, é possível que Jesus falasse também grego. Alguns gregos procuraram Jesus. Neste
encontro, presume-se que Jesus usou a língua franca para se comunicar com eles
(Jo 12, 20-21).[2]
A
Baixa Galileia região onde ficava situada a cidade onde Jesus cresceu tinha uma
forte influência helenista. Muitas inscrições em língua grega foram encontradas
na área do mar da Galileia. Estradas passavam ligando a Galileia a Damasco.
Essas rotas serviam para o comércio.[3]
Portanto, Jesus cresceu numa região em contato com pessoas que falavam grego.
São, precisamente, estes contatos que os antigos palestinensesstinham dentro do
mundo romano que ajudaram na expansão do cristianismo.
4.
O Novo Testamento como Escrituras
Durante
os dois primeiros séculos do cristianismo, os cristãos reconheciam como
Escrituras apenas a Bíblia Hebraica. O próprio Jesus quando cita as Escrituras,
ele menciona apenas a Torá e os Profetas (Mt 7, 12). A igreja primitiva lia a versão grega do
Antigo Testamento, a Septuaginta. As
palavras e as histórias de Jesus circulavam entre as comunidades, mas, ainda
não havia a recepção destes textos como “bíblia” no mesmo sentido que era
aplicado ao Antigo Testamento. Aliás, nem se chamavam a Bíblia Hebraica ainda
de Antigo Testamento.[4]
A
partir da terceira geração de cristãos, houve a necessidade de fixar os
ensinamentos e as histórias de Jesus por escrito. O objetivo era preservar a
memória que os apóstolos tinham de Mestre. Com a morte das últimas testemunhas
oculares da pregação apostólica, a sobrevivência doutrinal do cristianismo
dependeria de uma coleção de memórias e de ensinamentos. Se não houvesse nada escrito, cada um poderia ensinar como quisesse.[5]
As
epístolas de Paulo foram o modelo que influenciou a pregação através da
escrita. Elas foram os primeiros textos do Novo Testamento e começaram a ser
escritas no ano 50 depois de Cristo.Os seguidores de Paulo imitaram sua
iniciativa e produziram as epístolasdeuteropaulinas: 2ª 2 Tessalonicenses,
Colossenses, Efésios, as Epístolas Pastorais (1 e 2 Timóteo e Tito),
Laodicenses e 3ª Coríntios.[6]
Mais tarde, temos como exemplo a 1ª Epístola de Clemente aos Coríntios que
segue a mesma tendência. Além disso, as pessoas letras tinham confiança em
textos ou procuravam se esclarecer sobre os ensinamentos da nova religião por
escrito.[7]
A
segunda fonte que contribuiu para a formação do Novo Testamento são os
evangelhos. Inicialmente, os apóstolos ou seus seguidores escreveram pequenos
textos sobre ditos e parábolas de Jesus. As coleções de ensinamentos de Jesus
imitavam as coleções de máximas da literatura sapiencial judaica. O Evangelho
de Tomé é exemplo disso.Mais tarde foram incorporadas as narrativas sobre
milagres e paixão de Jesus. Koester aponta como influência o gênero aretologia.
Os
atos dos apóstolos é um gênero textual narrativo que se assemelha a um romance
helenístico, porém, os acontecimentos narrados se referem ao início da Igreja e
às ações de Pedro e de Paulo. Outros atos também foram escritos. Seguindo a
apocalíptica judaica, os cristãos escreveram diversos apocalipses como
Apocalipse de Pedro e Pastor de Hermas. O Apocalipse de João é o mais antigo
deles.[8]
Portanto, temos no Novo Testamento 4 gêneros literários diferentes: os
evangelhos, os atos, as epístolase o apocalipse. Dentre as Epístolas, outros
gêneros também são sugeridos como a Epístola aos Hebreus que é um tratado
teológico.
Estes
textos serviam para uso litúrgico e catequético, mas somente foram entendidos
como Escrituras mais tarde. Tanto é que a Epístola de Judas utiliza
despreocupadamente alguns livros apócrifos como Henoc, Testemunho dos Doze
Patriarcas e Assunção de Moisés.Somente no século II encontramos uma noção de
canonização dos livros do Novo Testamento. Marcião foi o primeiro cristão a se
preocupar com uma definição dos livros autorizados sobre a fé cristã. Ele
rejeitou o Antigo Testamento inteiramente e adotou apenas o Evangelho de Lucas
e as Epístolas de Paulo (sem incluir as Pastorais). A partir desta influência,
Justino trata osevangelhos como as únicas Escrituras do Novo Testamento.[9]
Ao
pensar na definição de um texto autorizado para o cristianismo, alguns pensaram
em harmonizar os quatros evangelhos em um só, mas Ireneu de Lião propôs a
acolhida dos quatro separados. A lista mais antiga dos textos sagrados do Novo
Testamento foi o Cânone Muratoriano elaborado por volta do ano 200. Esta
relação praticamente todos os livros atualmente aceitos pelas Igrejas, apenas
acrescentava o Apocalipse de Pedro.[10]
[1]p. 45.
[2] WALLACE, Daniel B. Gramática Grega: Uma Sintaxe Exegética
do Novo Testamento. São Paulo: Editora Batista Regular do Brasil, 2009, p. 24
[3]CHANCEY, Mark. A. The Mythof Gentile Galilee. Cambridge:
Cambridge University Press, 2002, p. 14.
[4] KOESTER, 2005, p. 6-7.
[5] KOESTER, 2005, p. 3.
[6] A Carta aos Laodicenses e a 3ª
Carta a Coríntios não entraram no cânone cristão.
[7] KOESTER, 2005, p. 3.
[8] KOESTER, 2005, p. 4-5.
[9]KOESTER, 2005, p. 10-11.
[10] KOESTER, 2005, p. 11.
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