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sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Novo Testamento


INTRODUÇÃO À LITERATURA DO NOVO TESTAMENTO

1.    Introdução

Nesta seção, pretendemos fornecer uma síntese geral do Novo Testamento. Trataremos o Novo Testamento com a seguinte divisão literária: 1. Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), 2. Literatura joanina (Evangelho de João e as Cartas de João), 3. Literatura lucana (Lucas – Atos dos Apóstolos, 4. Literatura paulina (Cartas de Paulo), 5. Cartas Pastorais (1º e 2º Timóteo e Tito), 6. Cartas Universais (Tiago, João, Pedro e Judas) e 7. Literatura apocalíptica (Apocalipse de João).

2.    A província romana da Palestina

Desde 63 antes de Cristo, a Palestina tinha se convertido numa província romana. O Império Romano escolheu Herodes I (73-4 a. C.) como o rei vassalo para cuidar do seu interesse na região. Era uma região politicamente instável. Periodicamente, surgiam revoltas contra os impostos exigidos pelos romanos. Herodes I era um político impopular porque representava os interesses dos estrangeiros. Pesava sobre ele também a acusação de ter profanado o templo de Jerusalém, quando empreendeu uma reforma e fez alterações que fugia do que estava prescrito na Lei.
No tempo de Jesus quem governava a Galileia era Herodes Antipas (20 a. C-39 d. C.), filho de Herodes I com Maltace. Era um político cruel mandou matar João Batista instigado por Herodíades. Ele interroga Jesus durante o julgamento, mas não o condena. Cuza era um procurador de Herodes cuja mulher, Joana, foi discípula de Jesus.
Enquanto, Herodes Antipas governava a Galileia; Pilatos (12 a. C. – 38 d. C.) governava a Judeia. Apesar de não ter condenado Jesus, foi um governador também cruel. Ele se apoderou do tesouro do templo, mandou executar samaritanos revoltosos.
Depois da Revolta Judaica de 135, os romanos fundiram a Palestina com a Síria formando uma única província.

3.    Galileia: ambiente de educação de Jesus

A região da Galileia envolvia uma área onde se assentavam as antigas tribos de Zabulon e de Neftali. Jesus era natural de uma região da Palestina cujo povo era marginalizado pelos judeus. Em João 7, há uma discussão sobre a origem do messias e uma das opiniões correntes entre os estudiosos da Lei é a de que “da Galileia não surge profeta” (Jo 7, 52). No mesmo evangelho, há declaração discriminatória contra a cidade de Nazaré (Jo 1, 46).
A população galileia era resultante de uma miscigenação com outros povos. Então, os judeus os consideravam impuros. Além disso, os seus costumes religiosos dos eram diferentes.[1]Os judeus achavam os galileus ignorantes e com um sotaque estranho. No episódio da prisão de Jesus, algumas pessoas que se encontravam lá identificam que Pedro era um galileu pelo sotaque (Mt 26, 73). No tempo de Jesus, toda a Palestina falava aramaico, porém, o dialeto da Judeia era diferente daquele da Galileia.
O aramaico era a principal língua em uso na Palestina. Foi esta língua usada para na pregação de Jesus. Embora, provavelmente, ele conhecesse o hebraico (Lc4, 16-17). Porém, a partir do século I antes de Cristo, esta antiga língua caiu em desuso. As Escrituras Judaicas eram lidas na sinagoga em hebraico. O episódio narrado por Lucas dá entender que Jesus lia hebraico. Como o grego era a língua franca de todo o Mediterrâneo, é possível que Jesus falasse também grego.  Alguns gregos procuraram Jesus. Neste encontro, presume-se que Jesus usou a língua franca para se comunicar com eles (Jo 12, 20-21).[2]
A Baixa Galileia região onde ficava situada a cidade onde Jesus cresceu tinha uma forte influência helenista. Muitas inscrições em língua grega foram encontradas na área do mar da Galileia. Estradas passavam ligando a Galileia a Damasco. Essas rotas serviam para o comércio.[3] Portanto, Jesus cresceu numa região em contato com pessoas que falavam grego. São, precisamente, estes contatos que os antigos palestinensesstinham dentro do mundo romano que ajudaram na expansão do cristianismo.

4. O Novo Testamento como Escrituras

Durante os dois primeiros séculos do cristianismo, os cristãos reconheciam como Escrituras apenas a Bíblia Hebraica. O próprio Jesus quando cita as Escrituras, ele menciona apenas a Torá e os Profetas (Mt 7, 12).  A igreja primitiva lia a versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta. As palavras e as histórias de Jesus circulavam entre as comunidades, mas, ainda não havia a recepção destes textos como “bíblia” no mesmo sentido que era aplicado ao Antigo Testamento. Aliás, nem se chamavam a Bíblia Hebraica ainda de Antigo Testamento.[4]
A partir da terceira geração de cristãos, houve a necessidade de fixar os ensinamentos e as histórias de Jesus por escrito. O objetivo era preservar a memória que os apóstolos tinham de Mestre. Com a morte das últimas testemunhas oculares da pregação apostólica, a sobrevivência doutrinal do cristianismo dependeria de uma coleção de memórias e de ensinamentos. Se não houvesse nada escrito, cada um poderia ensinar como quisesse.[5]
As epístolas de Paulo foram o modelo que influenciou a pregação através da escrita. Elas foram os primeiros textos do Novo Testamento e começaram a ser escritas no ano 50 depois de Cristo.Os seguidores de Paulo imitaram sua iniciativa e produziram as epístolasdeuteropaulinas: 2ª 2 Tessalonicenses, Colossenses, Efésios, as Epístolas Pastorais (1 e 2 Timóteo e Tito), Laodicenses e 3ª Coríntios.[6] Mais tarde, temos como exemplo a 1ª Epístola de Clemente aos Coríntios que segue a mesma tendência. Além disso, as pessoas letras tinham confiança em textos ou procuravam se esclarecer sobre os ensinamentos da nova religião por escrito.[7]
A segunda fonte que contribuiu para a formação do Novo Testamento são os evangelhos. Inicialmente, os apóstolos ou seus seguidores escreveram pequenos textos sobre ditos e parábolas de Jesus. As coleções de ensinamentos de Jesus imitavam as coleções de máximas da literatura sapiencial judaica. O Evangelho de Tomé é exemplo disso.Mais tarde foram incorporadas as narrativas sobre milagres e paixão de Jesus. Koester aponta como influência o gênero aretologia.
Os atos dos apóstolos é um gênero textual narrativo que se assemelha a um romance helenístico, porém, os acontecimentos narrados se referem ao início da Igreja e às ações de Pedro e de Paulo. Outros atos também foram escritos. Seguindo a apocalíptica judaica, os cristãos escreveram diversos apocalipses como Apocalipse de Pedro e Pastor de Hermas. O Apocalipse de João é o mais antigo deles.[8] Portanto, temos no Novo Testamento 4 gêneros literários diferentes: os evangelhos, os atos, as epístolase o apocalipse. Dentre as Epístolas, outros gêneros também são sugeridos como a Epístola aos Hebreus que é um tratado teológico.
Estes textos serviam para uso litúrgico e catequético, mas somente foram entendidos como Escrituras mais tarde. Tanto é que a Epístola de Judas utiliza despreocupadamente alguns livros apócrifos como Henoc, Testemunho dos Doze Patriarcas e Assunção de Moisés.Somente no século II encontramos uma noção de canonização dos livros do Novo Testamento. Marcião foi o primeiro cristão a se preocupar com uma definição dos livros autorizados sobre a fé cristã. Ele rejeitou o Antigo Testamento inteiramente e adotou apenas o Evangelho de Lucas e as Epístolas de Paulo (sem incluir as Pastorais). A partir desta influência, Justino trata osevangelhos como as únicas Escrituras do Novo Testamento.[9]
Ao pensar na definição de um texto autorizado para o cristianismo, alguns pensaram em harmonizar os quatros evangelhos em um só, mas Ireneu de Lião propôs a acolhida dos quatro separados. A lista mais antiga dos textos sagrados do Novo Testamento foi o Cânone Muratoriano elaborado por volta do ano 200. Esta relação praticamente todos os livros atualmente aceitos pelas Igrejas, apenas acrescentava o Apocalipse de Pedro.[10]


[1]p. 45.
[2] WALLACE, Daniel B. Gramática Grega: Uma Sintaxe Exegética do Novo Testamento. São Paulo: Editora Batista Regular do Brasil, 2009, p. 24
[3]CHANCEY, Mark. A. The Mythof Gentile Galilee. Cambridge: Cambridge University Press, 2002, p. 14.
[4] KOESTER, 2005, p. 6-7.
[5] KOESTER, 2005, p. 3.
[6] A Carta aos Laodicenses e a 3ª Carta a Coríntios não entraram no cânone cristão.
[7] KOESTER, 2005, p. 3.
[8] KOESTER, 2005, p. 4-5.
[9]KOESTER, 2005, p. 10-11.
[10] KOESTER, 2005, p. 11.

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