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sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Evangelho de Marcos


INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MARCOS

O segredo messiânico: Quem és Jesus?


Mc 18, 6 no Codex Vaticanus com a frase "segundo Marcos".

Introdução

O Evangelho de Marcos pode ser dividido em cinco partes. Marcos organiza sua narrativa em torno do espaço geográfico: Jesus atua na Galileia e fora dela e finaliza sua missão em Jerusalém.Marcos é tido como o evangelho mais antigo. Segundo a tradição que vem de Papias de Hierápolis, Marcos foi ouvinte de Pedro. Como Marcos não teve pessoalmente com Jesus, ele fez anotações a partir da pregação de Pedro e de suas lembranças.[1]Mas temos uma tradição que identifica Marcos com o jovem que aparece em Mc 14, 51-52. O evangelho foi escrito em Roma, no ano 70.

A infância de Jesus: Ausente em Marcos e relatada em Mateus e em Lucas

O Evangelho de Marcos tem como prioridade contar o ministério de Jesus e seu desfecho. A infância de Jesus foi omitida. Mateus narra o nascimento de Jesus e sua genealogia (Mt 1-2). Ele procura filiar a existência de Jesus a Adão.  A partir do capítulo 3, ele segue a narrativa de Marcos. Lucas também utiliza os capítulos 1-2 também para introduzir a narrativa do ministério de Jesus, o nascimento de Jesus e de João. Este evangelista mostra a origem humana e divina de Jesus. Lucas acrescenta informações sobre o crescimento do menino Jesus e um fato sobre sua idade de 12 anos, quando ele discute com os doutores da Lei.  Jesus foi criado em Nazaré e iniciou seu ministério aos 30 anos (Lc 3, 23).
 A infância de Jesus não é tratada pelos evangelhos canônicos. Depois do nascimento, passamos de um episódio dos 12 anos para o início do ministério aos 30 anos. O que Jesus fez durante este tempo? Não figurou entre as preocupações dos autores canônicos. Mais tarde, aparece o Evangelho da Infância de Tomé, redigido por volta do ano 80[2], que procurou narrar histórias de milagres que Jesus realizou durante a infância.

I. A preparação do ministério de Jesus (1-1,13):

O texto é aberto com um prólogo que introduz o tema: “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (1,1). Marcos inicia sua narrativa contando sobre o batismo de arrependimento de João. Em seguida, Jesus vem de Nazaré (1,9) e foi batizado no rio Jordão. Depois faz um jejum de quarenta dias no deserto (1,12).
Início do ministério de Jesusna Galileia. O lugar de partida de Jesus é a Galileia. Depois da prisão de João, ele inicia sua pregação: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (1,15). No Mar da Galileia, ele convida os pescadores Simão, André, Tiago e João (1, 19).
vv. 21-17 - Pregação na sinagoga de Cafarnaum. Jesus cura um homem possuído por um espírito impuro e o espírito revela seu nome: “Santo de Deus”. v. 28 - Jesus se torna conhecido. Vv. 28-31 - Jesus cura a sogra de Simão. v.35 – Jesus saindo pegando pelas sinagogas galileias.
v. 40 – Ele cura um leproso. V. 2,1 – cura um paralítico em Cafarnaum. Nesta situação, “ele estava em casa”. V. 10 – Jesus é identificado como o Filho do Homem. V. 13 – convidou Levi, o coletor. V. 15 – fez refeição com Levi e outros pecadores. Ele justifica que “veio para os pecadores”.
Os discípulos de João. V. 18 - João tinha discípulos e jejuavam. Debate sobre o jejum. Os discípulos de Jesus não jejuavam (18-22). V. 18 - Jesus colhe trigos em dias de sábado. 3,1 – Jesus cura um homem com a mão atrofiada. 3,6 – Os herodianos[3] e fariseus conspiram.
Audiência de Jesus.  3,7 – A audiência de Jesus envolvia todas as cidades da Galileia, Judeia, Tiro, Sidônia,Idumeia e Transjordânia.
Formação dos discípulos. V. 13 – Jesus formou um grupo com 12: Simão, Tiago (de Zebedeu), João (de Zebedeu), André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago (de Alfeu), Tadeu, Simão (zelota) e Judas Iscariot.
O comportamento de Jesus. V. 22 – Os escribas o viam possuído por Belzebu e os familiares diziam que estava louco (v. 31). Mc 3, 28 – blasfêmia conta o Espírito Santo.
Metodologia da pregação de Jesus. Ele utilizava parábolas. As figuras utilizadas nestas parábolas refletem a vida no campo:Parábola do semeador (4,1), parábola da semente (v. 26),parábola do grão de mostarda (4, 30), razão das parábolas (v33) – a) Ele ensinava de modo figurativo para o público externo; b) Ensinava para os discípulos com explicações.
4, 41 – Jesus caminha sobre as águas e o episódio gera a indagação: “Quem é este a quem até o vento e o mar obedecem?”
5 – Jesus vai para o outro lado do mar, para a região do gerasenos. Ele expulsa um espírito impuro (v, 2). Era uma região de costumes não-judaicos porque criava porcos (v. 13).
V. 23 – Jesus ressuscita a filha de Jairo; cura a mulher hemorroíssa. Aparece uma aramaísmo: Talitha kum (v. 41).
6.  Jesus volta a Nazaré. 6, 1- Jesus ensina na sinagoga. Episódio dos filhos de Maria. Jesus envia os doze a pregarem também. Algumas recomendações procedimentais: vestir simples, pregar ao arrependimento, expulsar os demônios, curar os doentes com óleo (vv. 12-13).
6,14 – Há uma discussão sobre quem era Jesus. Herodes toma conhecimento sobre Jesus.  Alguns diziam que Jesus era João Batista ressuscitado, Elias ou algum dos profetas.
O evangelho abre o texto falando sobre o ministério de João e no 6, 17 fala de sua execução a mando de Herodes. Como os profetas do Antigo Testamento, ele denuncia a vida imoral de um governador e acaba sendo punido.
V. 30 – A primeira multiplicação dos pães. Jesus caminha sobre o mar (v. 45), curas em Genesaré (v. 53).

II. Ministério de Jesus na Galileia (1, 14-7,23):

A - A interpretação que Jesus tem da Lei. Os fariseus e os escribas acusam Jesus de não ensinar seus discípulos a lavarem as mãos antes das refeições. Jesus fala da hipocrisia no uso da lei: A oferta sagrada corban (v. 11), a lei do impuro (v. 14) e apresenta uma lista de vícios (v. 21).

III. Viagens de Jesus fora da Galileia (7, 24-10):

A - Jesus viaja pela região siro-fenícia.7, 24 – cura de uma menina com espírito imundo. Jesus passa de Tido pelo Mar da Galileia e vai até a Sidônia e a Decápole. v. 33 – cura de um mundo (aramaísmo, Effata).
8. Segunda multiplicação dos pães. 8, 11 – os fariseus pedem um sinal. V. 22 – cura um cego em Betsaida. V. 27 – Em Cesareia de Filipe. Pedro revela um nome de Jesus: “Cristo”. Ele pede segredo sobre o fato.
B - A crença escatológica. O Filho do Homem. Este título aparece dentro de alguns anúncios da paixão. V – 31 – Jesus diz que vai sofrer; 38 – a vinda do Filho do Homem. A relação entre os versículos 8, 38 e 9, 1 demonstra que Jesus acreditava que a “vinda” aconteceria ainda durante a vida daqueles que conviviam com ele.
Revelação de mais um nome na Transfiguração. Há o testemunho da Lei (Moisés) e dos Profetas (Elias): “Este é o meu Filho Amado” (9, 8).
V – 9, 14 – cura de um epiléptico. 9, 30 – segundo anúncio da paixão.
C - Jesus gera concorrentes. Alguns estavam curando em nome de Jesus. Ele não os vê como concorrentes, mas como colaboradores. Um toque para o ecumenismo?
vv. 47-48 – Geena é um fogo inextinguível.
Debate sobre o divórcio.10, 1-12 – Todo aquele que se divorcia de sua mulher, casando-se com outra, comete adultério (posição de Jesus).
Critérios para herdar a vida eterna. Observar os mandamentos e superar o apego às riquezas – “partilhar os bens com os pobres” (v. 17). O serviço aos outros é o múnus daquele que quer ter poder com Jesus (v. 41).
v. 46 – Cura de um cego em Jericó (aramaísmo, Rabbuni).

IV – Ministério de Jesus em Jerusalém (11-16):

No capítulo 11, 1-11 - Jesus vai para Jerusalém, entra no Templo e volta para Betânia.v. 12 – No dia seguinte, Jesus amaldiçoa a figueira.
A – Confronto no Templo. Jesus expulsa os vendedores do Templo. Ele critica a exploração comercial do Templo.vv. 20-26 – O valor da oração.vv. 27-33 – Jesus volta ao Templo. Os sacerdotes, os escribas e os anciãos questionam a autoridade de Jesus.12, 1-11 – Jesus usa a parábola dos vinhateiros homicidas para falar da rejeição que as autoridades judaicas teriam aos Messias.v. 12 – Já há um plano de prender Jesus.vv. 13-17 – Os fariseus e os herodianos testam a Jesus se deveriam pagar impostos aos imperador romano César (moeda do denário).
B – Discussão sobre a ressurreição dos mortos. Os saduceus não acreditam na ressurreição (12,8). Mas Jesus diz que todos ressuscitam e a condição dos ressuscitados será como anjos (12,25).
C – Os escribas testam o conhecimento de Jesus da Lei. Ele fala sobre os mandamentos (vv. 28-34).
D – O Messias não é filho de Davi. O messianismo de Marcos tem uma interpretação diferente dos escrivas. Ele utiliza o salmo 110,1 como sendo de Davi. Segue uma crítica aos escribas. Seus costumes são de superioridade: a) circulam de toda; b) gostam de ser cumprimentados nas praças públicas; c) ocupam os primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes; d) são hipócritas por serem injustos com as viúvas (vv. 38-40).
            A justificação da oferta da viúva (vv. 41-44). A viúva deu a melhor oferta porque não deu a sobra, mas tirou do essencial para o seu sustento.
E – Discurso escatológico. Jesus profetiza a ruína de Jerusalém (13, 1-4).O desdobramentos dos fatos: a) falsidade, guerras e fome (vv. 5-8); b) perseguição aos discípulos; c) eles serão perseguidos, mas o Espírito Santo os assistirá; d) haverá grande tribulação sobre Jerusalém (vv. 14-23).
            A vinda do Filho do Homem. A perícope 13, 24-27 é um pequeno apocalipse marcano. Jesus fala que o céu escurecerá e o Filho do Homem aparecerá entre as nuvens. Ele conta a parábola da figueira (vv. 28-32) e pede para que os discípulos sejam vigilantes (vv. 13-36).

V. A Paixão e a ressurreição de Jesus

Os capítulos 14 e 15 narram a prisão e a morte de Jesus. Os chefes dos sacerdotes e os escribas estavam armando uma situação para prender Jesus durante dois dias antes da Páscoa (14, 1-2). Os acontecimentos têm tons preparativos para a sua Paixão: a) Uma mulher de Betânia unge Jesus com perfume de nardo (vv. 3-8); b) Judas entrega Jesus (vv. 10-11); c) Jesus celebra a Páscoa com seus discípulos (vv. 12-16), d) Jesus prediz que um discípulo irá traí-lo e outro que irá negá-lo (vv. 17-31).
A – Prisão. Jesus vai orar no Getsêmani e lá é preso (vv. 32-40). Há também a aramaísmoAbba (14, 36). Os chefes do Templo prendem Jesus (vv. 43-51). No v. 45 aparece outro aramaísmo“Rabi”. Alguns dizem que o jovem que foge nu é Marcos (v. 51-52).
B – Interrogatório. O sinédrio interroga Jesus. Jesus confirma que era o Messias (vv. 53-65). Pedro nega Jesus (vv. 66-70). Pilatos interroga Jesus (15, 1-15). Jesus é coroado de espinhos (vv. 16-20).
C- Jesus é levado ao Gólgota. Os soldados obrigaram Simão de Cirenea ajuda Jesus a carregar a cruz (vv. 20-21). Ele foi crucificado entre dois ladrões (vv. 23-28). Alguns escarnecem de Jesus (vv. 29-32).
D – Morte de Jesus. Jesus morre na cruz e o centurião profere mais um título de Jesus: “filho de Deus” (vv. 33-39). As mulheres que acompanhavam Jesus desde a Galileia estavam na cena: Maria de Mágdala, Maria (mãe de Tiago, o Menor, e de Joset), e Salomé (vv. 40-41). Elas foram conferir o túmulo depois do sábado (v. 16,1).
E – Ressurreição. As mulheres vão ao túmulo e um jovem informa que Jesus ressuscitou (vv. 1-8). Maria de Mágdala foi a primeira testemunha da ressurreição (vv. 9-11). Jesus apareceu aos Onze e ordenou que pregassem o Evangelho, batizassem as pessoas e ele confirmaria o poder deles. Depois desta fala, ele foi arrebatado ao céu (vv. 14-19).



[1]KOESTER, 2005, p. 182.
[2]É a data mais cedo relacionada à origem do texto, mas muitos concordam que foi escrito na metade do século II. Ireneu de Lião é o primeiro a citá-lo, isso por volta de 185.
[3] A menção de um grupo partidário de Herodes ocorre em Mc 3, 6; 22, 16 e em Mt 12, 13.

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